02 - Viva.

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Grace

Costumava pensar que quando reencontrasse minha família novamente seria apenas para discutir sobre heranças que meus pais deixaram. Mas no momento em que senti o amor genuíno no abraço de Delilah, todo quebra cabeça que eu tinha construído na minha mente, agora está com as peças desorganizadas, como se não servissem mais para aquele tipo de imagem. A fonte tinha mudado, o que antes era incerto e imperfeito, agora parece ser certo e perfeito. Como se as peças tivessem achado um sentido ideal para as coisas. Nunca esquecemos as coisas que passamos, mas nós podemos perdoar, verdadeiramente, e isso é tudo.

Não sei ao certo quanto tempo eu e Delilah ficamos abraçadas no jardim, apenas nos separamos quando percebemos que haviam criado uma festa ao nosso redor. Desde o jardineiro Green, que sempre me deixava plantar novas flores, mas sempre dava um puxão de orelha quando eu roubava algumas para deixar no vaso encima da minha penteadeira. Até Francesca segurando o nosso mascote da mansão, o gato Sherlock. Ela mesma escolheu o nome quando a gata Syd da mamãe tinha falecido e eu sinceramente achei que iria morrer, no auge dos meus 8 anos chorando por quase uma eternidade pelo gatinho que dormia comigo. Sherlock vem de inspiração da minha série preferida de quando era criança, sempre fui alucinada por Sherlock Holmes, e Fran com o seu senso de humor aos 4 anos, achou uma boa ideia ter um Sherlock em casa.

Dou o meu carinho à todos, sem exceção, há alguns funcionários em que eu não faço ideia de quem sejam, mas mesmo assim aprecio a vinda deles até onde eu estou. Volto minha atenção para Adam que está genuinamente sorrindo, e achando isso o máximo. Talvez eu tenha sentido a falta dele também.

Com Sherlock em meus braços, começo a caminhar em direção à casa, mas alguém aparece no meio da porta tentando se certificar do que estava acontecendo. Era Bradley. Bradley Thomas Bennett, alguns conhecem por Bennet, outros pelo dono da casa do lago ou pelo herdeiro milionário da cidade. Mas eu o conheço como meu pai. Assim que ele me vê, abre um enorme sorriso, que querendo ou não deixa o meu coração mole, apesar de tudo ele ainda é meu pai. Ainda é o homem que me ensinou a andar de bicicleta e a dirigir. E principalmente, ainda é o cara que me criou e sempre me deu amor, nunca deixando faltar nada. Agora ele parece um pouco mais velho, seus cabelos estão ficando grisalhos por completo, porém ainda tem o seu corpo de atleta em seu sagrado terno de todos os dias. É claro que eu o amava, só estou um pouco na defensiva.

— Grace, quê surpresa. Achei que nunca mais daria às caras. — ele diz abrindo seus braços.

— Papai. — digo com os meus olhos lagrimejados e subo correndo a escadaria o mais rápido que posso.

Sherlock desiste de ficar chacoalhando em meus braços e pula, mas desiste novamente ao tentar me acompanhar, adentrando na casa empinando seu rabo branco. De qualquer maneira, ele nunca foi um bom companheiro assim como Syd.

Admito que é um pouco estranho abraçar meu pai depois de tudo, mas desde que pisei aqui há alguns minutos, percebi que é possível e importante perdoar as pessoas. Porém, isso não significa que você terá que conviver com ela, apenas soltar o peso de suas costas e não carregar pensamentos negativos a todo instante. A memória de quem me ensinou isso ainda está aqui, Harry me ensinou a ser uma pessoa mais calma e meditar. Aprendi muitas coisas com Harry, mas a pior delas foi aprender com os meus próximos erros. Ainda sinto falta de seu cheiro.

Meu pai e eu nos separamos assim que ouvimos a buzina de um carro que se aproximava e acabou por estacionar próximo aos novos carros, os quais eu não faço ideia de quem sejam. Não reconheço quem sai de costas, mas quando ele se vira e tira seu óculos de sol, posso ver seu rosto.

— Oh meu Deus, George! — grito e corro em sua direção.

— Olhe que está aqui George. — papai grita ao mesmo tempo.

Westminster Bridge | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora