35° Procurando quem não quer ser procurado

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Lavo a louça e saio com meu kia soul 2010 vermelho em direção a casa da Juliana com os pensamentos a mil. É lógico, peguei minha carteira com documentos e cartão antes. Ligo o som baixinho em uma música da Giulia Be. Certo, a letra não tem nada a ver comigo, mas... eu gosto demais! 😅 Assim que chego na casa alugada dela uma sensação ruim me cerca e hesito. Abaixo o som e suspiro profundamente, desço e toco a campainha, só que ninguém aparece. Toco novamente e uma mulher morena com shorts jeans aparece

Xxx : boa tarde - diz de forma curiosa conforme se aproximava e me observava
Manuella : é... Boa tarde. A Juliana está? - aposto perguntar. Eu estava do outro lado da cerca
Xxx : ela não mora mais aqui moça. Se mudou pra guarulhos - informa
Manuella : sério? - ela balança a cabeça : ah, tudo bem... Sabe o endereço? - aposto perguntar
Xxx : não, mas a mãe dela deve saber - comenta
Manuella : verdade. - abaixo o olhar porque não pensei nisso antes? 😅😓 : Obrigado e desculpa o incomodo - peço sem jeito
Xxx : que nada - diz sem dar importância. Sorrio forçado, ela retribui e entra. Me pergunto se isso era um sinal pra mim não ir atrás dela. Respiro fundo ao dar de ombros e volto para o carro. Eu estava perto da estação da luz e lembrei do Danilo, o que me deu arrepios. Ligo para a mãe da Juliana pelo messenger e ela me atende. Isadora era o nome dela. Vi no facebook 😅

Início de ligação :
Isadora : alô?
Manuella : alô, é... dona Isadora mãe da Juliana? - pergunto apesar de saber que era ela
Isadora : isso - confirma
Manuella : é a Manuella antiga colega dela de escola. Eu passei na casa onde a Juliana morava, aqui na estação da luz, mas uma mulher atendeu e disse que ela está em guarulhos - explico a situação. Olho o movimento da rua, mas estava tranquilo. Olho rapidamente para o volante
Isadora : ah minha filha, ela chora todo dia lamentando pela morte do namorado dela. - diz inconformada : Ela está vendendo a casa novamente porque é difícil pra ela entrar na cozinha e não lembrar do que aconteceu além dos prejuízos que o bandido deu depois de revirar a cozinha e estragar a porta
Manuella : entendo. Eu queria ver ela. Saber como ela tá. A senhora pode me passar o endereço dela? - pergunto com interesse porém com receio
Isadora : claro! Está com papel e caneta aí? Vai ser bom pra ela ver uma amiga já que ela não tem muitas - comenta e sorrio forçado
Manuella : é... Eu não estou com papel e caneta. Estou no carro, mas a senhora pode me mandar por escrito no messenger? Ou no whatsapp. Quer que eu te passe meu número? - pergunto ao ver que eu estava sendo muito folgada
Isadora : não. Não é necessário. Quando finalizar a ligação eu escrevo e te envio - afirma e suspiro profundamente
Manuella : tudo bem. Muito obrigado mesmo. Eu vou aguardar - admito ao me inclinar para trás. Meu carro era confortável
Isadora : tudo bem - hesita
Manuella : obrigado. Tchau - me despeço. Tento ser gentil na voz
Isadora : de nada. Tchau - e finalizo a ligação
Fim de ligação :

Eu tava agoniada demais. Talvez ela tacasse algo de vidro em mim, mas eu tinha que enfrentá-la. Bato várias vezes no volante do carro ainda inquieta, porém meu celular vibra e toca. Olho para ele que estava no meu colo e vejo o suposto endereço. Copio e colo em um aplicativo de gps. Coloco o celular em um suporte que estava fixo no vidro do carro para o aparelho e dou partida no veículo cujo estava estacionado do outro lado da rua da antiga casa que a Juliana morava. Suspiro de novo e sigo até o endereço marcado no gps. Cerca de 40 minutos chego na rua marcada e olho para o lugar. Abaixo o olhar aflita o Caique não merecia isso... Olho novamente para a casa e saio do carro. Toco a campainha da casa branca e cerca de dois minutos ela aparece

Juliana : oi Manuella - sua voz e expressão não era de quem estava feliz nem surpresa por me ver. Engulo em seco
Manuella : podemos conversar? - pergunto sem graça
Juliana : sobre o Caíque? - concordo com a cabeça : não quero - diz secamente
Manuella : por favor - insisto como se estivesse desesperada, mas talvez eu estivesse
Juliana : olha Manuella nada contra, mas eu cansada sabe? Tenho que descansar para o meu trabalho amanhã. E tudo ao vivo, e eu não estou afim de ter que me explicar para mais pessoas sobre o que aconteceu porque não apareci no serviço - diz com irritação
Manuella : por favor - peço
Juliana : tá... O que você quer? - pisa duro
Manuella : quero que saiba que eu sinto muito - senti um amargo na garganta ao dizer isso e não sei o porquê. Ela bufa impaciente ao virar o rosto e me olha
Juliana : todo mundo sente
Manuella : de verdade - dou um passo a frente, mas ela continua a me encarar
Juliana : a mãe dele me odeia agora. Assim como minha mãe odiava ele. Os papéis se inverteram. Só que... Eu não morri pra minha mãe odiar o Caique. Na verdade eu preferia que tivesse sido o contrário. O Caíque estava tão mudado... Totalmente diferente do menino da escola. Se formou na faculdade, juntamos dinheiro para comprar essa casa, a gente ia casar Manuella. Ele ia pedir minha mão quando um infeliz cruzou o nosso caminho e tirou a vida dele. - hesita : De novo - engulo em seco. Sua voz era firme o tempo todo
Manuella : eu não queria que nada disso tivesse acontecido - admito
Juliana : e você acha que eu queria? Engraçado que você só me procura quando as coisas pioram né? - arregalo meus ohos surpresa por sua grosseria, se bem que ela não estava errada : Faz tempo que eu entendi que entre você e eu nunca vai rolar uma amizade além de uma conhecer pouquíssimo a outra e também eu não ligo. Não preciso de ninguém - julga
Manuella : todos precisamos de alguém - eu precisava contradizer ela. Todo mundo precisa de alguém. Se não hoje, amanhã, mas é certo que algum dia vamos precisar de alguém. Sim, eu faço mal para as pessoas, quero e preciso ficar sozinha, só que sei que é impossível. Eu amo minha família e amigos
Juliana : isso é fato. Mas está claro para mim que não posso contar com você - afirma. Foi algo que me doeu de certa forma. Me senti inútil, mas eu não posso julgar. O marido dela está morto por minha causa. Mais um morto para a lista que só cresce
Manuella : não é verdade. Olha... Eu sei que você me culpa pelo o que aconteceu com o Matheus... - ela me interrompe
Juliana : não. Eu te culpo pelo o que aconteceu com o Caique - corrige de acordo com seu ponto de vista e suspiro chateada
Manuella : porque...?
Juliana : como porque? Porque você sempre se faz de desentendida? - mordo meu lábio inferior eu não faço isso 😓
Manuella : você e seu namorado salvaram minha vida. Você sabe que se não tivessem denunciado neste momento eu não estaria mais aqui. Eles me estupraram, fizeram a Bianca desesperada assistir aquela nojeira e apontaram uma arma pra nós duas no final - explico o que ela já sabia. Eu odiava ter que lembrar disso, mas foi preciso
Juliana : talvez se a gente não tivesse te denunciado ele estivesse vivo agora - me espanto com tal frieza
Manuella : eu vou ser eternamente grata por vocês apesar de não parecer. Eu não mereço viver mais que ele - digo com firmeza. Isso é verdade
Juliana : não mesmo. Ninguém merece viver mais que ninguém, só que agora já foi. Já enterramos ele apesar de ser difícil. Você nem se importou de ir no velório. Eu te mandei uma mensagem chamando - afirma e fico confusa
Manuella : eu não vi - admito
Juliana : claro que não viu. Você não se importa - e mais uma vez ela julga
Manuella : eu me importo! Só que eu não estava em São Paulo juh - digo por fim com o coração na mão
Juliana : não me chama de juh! - ordena e abaixo o olhar. Ela respira fundo : Eu nunca vou ser mãe e nem avó. Tudo por causa daquele maldito cara que invadiu essa casa - eu estava bem triste pelo comportamento dela
Manuella : você pode ser mãe. Se quiser - tento convencê-la do contrário
Juliana : pra quê? Pra vim um infeliz e acabar com tudo? Obrigado Manuella, mas prefiro ficar só - diz grosseiramente e suspiro profundamente
Manuella : eu lembro quando você me ajudou no tratamento contra a depressão. Agora vejo que quem precisa de ajuda é você
Juliana : não preciso de nada. Preciso que o Caíque volte, mas não tem como então estou bem. Só não quero que você finja que se importa outra vez - fecho meus olhos fortemente para não perder a paciência afinal isso era mentira, mas eu precisava entender ela. Invés de explodir decidi dizer outra coisa
Manuella : você mudou tão rápido
Juliana : enxerguei a realidade Manuella. Eu não nasci pra ter relacionamentos sérios. - faz uma pausa : Não mesmo
Manuella : entendi - abaixo o olhar mas você ficou com o Matheus por chantagem da parte dele, então o Caique pode ser considerado seu primeiro namorado. O primeiro namoro sincero.... Era impossível fazê-la mudar de idéia, ou me escutar. Pelo menos era impossível agora. Onde o luto ainda é fortemente presente
Juliana : eu nem me importo com o fato do Matheus ter morrido. Não mais. Ele me humilhava, me maltratava, sabe...? Agora o Caique era totalmente diferente. - sua voz apaixonada era aparente ao falar do namorado : Eu me sentia inteira, viva, amada. Ele me ajudou a me amar e a amar ele, mas pra quê? - questiona e prendo a respiração
Manuella : tem pessoas que entram na vida da gente com o objetivo de nos ensinar e depois partem e acabam partindo nossos corações, mas... - desisto. Na verdade eu disse isso para mim mesma. Olho para ela : Tem razão. Desculpa se te perturbei. Eu não volto mais a te procurar. Prometo - afirmo
Juliana : eu agradeço - diz por fim. Continuo a olhar para ela que não me dá importância conforme me dava as costa e resolvo sair da frente de sua casa para cumprir com a palavra. Desta vez eu que estava com o coração partido. É correto dizer que estou desde que tudo começou. Queria um ponto final, mas não sei se isso vai existir

...

O meu Silêncio - Sonho de criança(6) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora