O meu Silêncio - Sonho de criança(6) ✔

62° Simplesmente vegetando

Juliana narrando_
Conversamos e ele me deixa no endereço que o Nicolas havia me passado. Digo... Ele puxou assunto comigo o tempo todo. Estou com medo de imaginar que posso esquecer o Caíque e me apaixonar por alguém. Não... Meu marido não merece isso. E se isso significar que estou superando o Caíque? Eu não posso superar. Agradeci e toquei a campainha da casa da menina. Ela atende uns minutos depois. Franze o rosto em estranheza

Bárbara : é... Posso ajudar? - pergunta confusa
Juliana : sim. Eu queria conversar com você. Acho que você não lembra de mim. Sou a Juliana uma colega da Manuella - digo por fim. Eu era boa nisso. Tinha que ser. Meu trabalho é igual
Bárbara : Juliana? Ah!!! A garota que estava na festa do girassol na mansão. - conclui : Ah sim... Entra por favor. Fique a vontade - sorrio forçado e entro. Fomos até seu quarto e ela o fecha porque eu pedi : confesso que estou curiosa - diz confusa
Juliana : meu marido morreu a uns meses e eu queria saber o que aconteceu com a Manuella - vou ao ponto
Bárbara : sinto muito pelo seu marido. Claro. Eu explico o que aconteceu. O Nicolas disse que eu já contei pra São Paulo inteiro então porque não contar pra você? - sorri forçado irritada ao lembrar e estranho. A palavra do dia é estranheza, mas ela começa a me explicar : então, ela... - e quando termina chego a conclusão de que o que eu havia lido era verdade. Ela só queria proteger todo mundo e não conseguiu fazer isso com o Caíque e nem com o grupo pelo qual ele participou um dia. Talvez esse fosse o pecado que tinha que pagar. 😓 Não... Isso não justifica. O Caíque estava mudado, o que me tranquiliza é o fato pelo qual quem o matou já falecera e deve estar queimando no inferno nesse momento. Espero que ele esteja em paz, porque sei que a Manuella não está. Agora eu sei

(...)

2 anos depois...

Hugo narrando_
Já fazem dois anos que minha filha mais velha está vegetando... Ela ama tanto a irmã e não conseguiu ver o avanço dela com o passar dos dias. A Rebeca está enorme, já sabe falar e está até aprendendo a ler e a falar inglês. Tudo isso com sua irmã dormindo em sono profundo. Eu não consigo ficar feliz com tudo isso sendo que minha filha não acorda

Médico : ela não responde. Nada. Nunca moveu o dedo nem que fosse 2cm. Vocês tem certeza que querem continuar sustentando sua filha aqui dentro? Nós médicos já perdemos a esperança referente a ela - tenta nos convencer mais uma vez, mas minha palavra permanece e é não
Hugo : vocês não podem perder as esperanças. Como assim? Pagamos pra isso - digo irritado pela fortuna que pagamos e eles insistirem toda vez que chego no hospital que não tem mais sentido tudo isso. É minha filha!!!
Solange : vocês não são loucos de parar o coração dela. Você me ouviu doutor?! Enquanto o coração da minha filha bater há esperança sim!!! Caramba! Ela sobreviveu a um acidente de carro!!! É lógico que tem esperança. Eu não vou desistir da minha filha até ela acordar! - exclama cansada com desespero
Médico : só estamos sendo realistas. Não podemos iludir a família - diz seriamente para nós e abaixo minha cabeça exausto
Hugo : você já perguntou isso outras vezes e a resposta sempre foi não. Não permitimos que desliguem nada. Não permitimos que matem nossa filha. Ninguém que ama ela quer isso - digo com firmeza. Minha mulher e eu nunca mais conseguimos dormir direito depois do que houve
Médico : e cadê o restante do pessoal? - pergunta olhando para os lados. Só havia eu e minha mulher. O restante tinha uma vida fora do hospital e nós que somos pais
Hugo : faz tempo que conversamos e decidimos que cada dia da semana alguém fica neste hospital. Hoje foi o dia dos pais dela - digo com firmeza segurando a mão da Solange que estava com o olhar baixo. A Marta também estava, mas segurava a Rebeca com tristeza, entretanto com responsabilidade
Solange : Hugo... E se ela estiver sofrendo? - me olha com lágrimas nos olhos : Não é melhor acabar com o sofrimento dela de uma vez? - sugere e arregalo meus olhos. Nunca imaginei algo assim vindo da Solange
Hugo : ficou maluca Solange? - olho para o médico revoltado : A resposta é não! - e pego na mão da minha esposa a levando para as cadeiras de espera. Nos sentamos : porque isso agora? O que foi? - pergunto completamente nervoso se não se arrepender disso eu nunca mais te perdoo além de pedir o divórcio e a guarda da Rebeca!!!
Solange : ela nunca moveu um músculo Hugo - diz totalmente sem esperança
Hugo : será que é porque ela está de coma? - pego em sua mão para tentar convencê-la do contrário. Afinal eu amo as mulheres que estão na minha vida : Solange tudo o que você pede eu faço. Você disse que era melhor demitir nossa filha porque nunca soubemos quando ela ia acordar e a empresa precisava de alguém no cargo dela e eu fiz. Agora não me peça para mandar os médicos dá um fim na nossa filha porque não vou! - exclamo revoltado e lágrimas saem de meus olhos. Eu nunca fui um bom pai. Nunca fui muito presente e só quando a Manuella cresceu que eu enxerguei isso. Desde então tento ser um pai de verdade para ela e para a Rebeca. Um pai que elas precisam
Solange : a mãe do menino que estava com a Manuella naquele maldito carro mandou os médicos desligarem os aparelhos Hugo - comenta sua suposta "inspiração"
Hugo : porque não tiveram condições de sustentar o bandido! Agora por favor não me peça uma coisa dessas. Volte para sua idéia antiga. Eu te imploro. É a nossa filha Solange! - exclamo desesperado. As vezes eu via a tara nos olhar com os olhos cheios d'água. Ela chorava baixinho, talvez para não assustar a Rebeca. Ou não se intrometia também por causa da menina
Solange : nada mais faz sentido pra mim Hugo! Meu pai morreu de infarto a três meses e você acha que estou com cabeça para algo? Nossa filha não acorda a dois anos e até os médicos disseram que já perderam as esperanças - sua mão vai a cabeça. É verdade. O pai dela morreu
Hugo : somos pais. Nunca perdemos a esperança e sinto muito pelo Anttonio. De verdade, mas o que vamos fazer? Até minutos atrás você disse que enquanto o coração dela bater sua decisão não ia mudar - tento ser civilizado apesar de ser impossível
Solange : eu só quero acabar com o sofrimento dela assim como o sofrimento acabou para o meu pai. Depois que a Manuella se acidentou ele vivia chorando naquela fazenda. Fez até o cachorro favorito da minha filha cruzar com outro da mesma raça para dar o filhote a ela! - exclama decepcionada e fecho meus olhos fortemente não Solange. Minha resposta é não... 😓
Hugo : em relação a isso não se preocupe. A Marta ficou de cuidar dos animais dela todos os dias. Eu só quero que suas esperanças voltem - peço com tristeza na alma
Solange : não dá - e caí em lágrimas mais uma vez

...

Manuella narrando_
"Lembranças que para ela são como sonhos"

Faz muito tempo que está tudo escuro. Parece que todos os dias são noites, mas sem estrelas e sem a lua. Eu só escuto vozes. As vozes de quem eu amo e não consigo correspondê-las. Todo dia é uma luta constante tentando responder os sons, mas eu não consigo. Bibi se declarou pra mim. Eu ouvi. Nick chorou várias vezes ao pé do meu ouvido pensando que ninguém ia escutar, mas eu ouvi. O mesmo aconteceu com meus pais. Eu simplesmente não consigo. Tem alguma coisa me contendo. Será que estou cega? Vozes e mais vozes surgem acho que todos os dias e eu não consigo falar. Não consigo ver. Somente pensar, ou achar que estou pensando. Estou presa em um lugar escuro onde não consigo ver a saída

Xxx : todos os dias os pais dela se recusam a deixar ela morrer. Ela é como se estivesse morta. Eu não entendo como o hospital não cobra mais por deixar uma pessoa tanto tempo aqui assim. Porque eles não levam ela para a mansão Nogueira? Tem pessoas que precisam de quartos também. - fico triste ao ouvir isso. Eu não queria ocupar o lugar de ninguém. Tem pessoas precisando... 😓 : Estamos cuidando de um objeto vivo Fátima - diz inconformado
Xxx : somos profissionais da saúde Pedro. Nosso dever é salvar vidas e ela está viva. É claro que os pais não vão desistir - dá sua opinião podem não desistir, mas eu não quero ocupar o lugar de ninguém 😣
Xxx : como médico responsável e você como enfermeira responsável por ela deveria saber que a meses estudamos o caso dela e ela não responde a absolutamente nada. Eu me formei para ajudar pessoas, mas essa mulher não tem mais salvação Fátima. Entende? - pergunta desesperançoso
Xxx : o pior é que ela não responde a nada mesmo - e ficam em silêncio. Ouço som de algo se abrindo
Xxx : doutor? - era a voz do meu pai : Posso falar com o senhor? - mas não ouço nada. É uma das coisas mais horríveis não poder enxergar ou falar. Somente ouvir
Xxx : Fátima pode nos dar licença? - pede. Acho que o doutor Pedro
Xxx : claro!
Hugo : e se ela ouvir? - pergunta receioso e estranho. Eu queria dizer que sim... Eu escuto, mas não consigo pai
Xxx : te garanto que não vai conseguir expressar emoções senhor - diz com firmeza e cansaço. Eu queria chorar, mas não conseguia
Hugo : é que... - sua voz falha : ficamos um bom tempo pensando e... - diz sem jeito e tristeza. Sua voz falhou de novo
Xxx : se decidiu? - pergunta com firmeza se decidiu do quê?. Mais uns segundos em silêncio e sinto alguém tocar em minha cabeça. Depois um som de choro
Hugo : eu me recuso a ver por mais meses, dias ou anos o sofrimento da minha filha. O senhor tem a permissão de desligar os aparelhos o quê????!! Espera. Eu vou morrer? Quero dizer... É o certo a se fazer. Matei o Carlos com as próprias mãos. Matei o Matheus também, mas de jeitos diferentes. Eu mereço morrer

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