Capítulo Catorze

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Marshall Aldrin:

Minha mãe estava completamente absorta, revirando minhas coisas com uma expressão de preocupação estampada no rosto, enquanto Tony tentava acalmá-la com palavras suaves.

Eu me afastei lentamente, dirigindo-me ao banheiro. Diante do espelho, encarei meu reflexo, obrigando-me a reconhecer a mentira que tinha contado a mim mesmo sobre estar à vontade com minha verdadeira aparência. Não era apenas a questão física que me atormentava; era a incerteza de como eu me encaixaria aqui, se insistisse para que minha mãe revelasse toda a verdade.

Quando retornamos à sala, os três de nós compartilhamos um café da manhã tenso, com Tony tentando quebrar o gelo, fazendo perguntas sobre meu trabalho e minhas experiências na cidade. Eu lutava para não mostrar o quanto estava ansioso, sentindo-me à beira de engolir um punhado de comprimidos a qualquer momento.

Finalmente, Tony desistiu e se dirigiu ao meu armário. Enquanto encarava minha mãe e Tony, pensava no que Juliano estava enfrentando com meu avô.

— Como estão as coisas na cidade? —perguntei a Tony.

— Bem, tivemos que empacotar algumas coisas, coisas extras que estavam espalhadas pela casa e atrapalhando. Você sabe como sua mãe nunca joga nada fora, e ela decidiu fazer isso de repente. — Tony disse enquanto se jogava no sofá. — Então ouvimos que ela passou mal e nem ligou para nenhum de nós, então viemos para a cidade.

Forcei um sorriso, sabendo que assim que eles fossem embora, eu planejava confrontar Ricky com todas as minhas forças por ser tão idiota e esquecer que minha mãe poderia saber de algum coisa e ficar desconfiada se soubesse que passei mau por alguns dias.

— Me diga, já se apaixonou por alguém? Juliano tinha deixado escapar para o avô que vocês tinham ido a um clube e ficou bem alegre com um rapaz — Tony disse, e minha mãe parou o que estava fazendo, vindo se sentar ao lado dele em silêncio.

— Não estou saindo com ninguém ou me interessando por alguém no momento — respondi, pensando em Daniel. Balancei a cabeça e sorri para os dois. — Mas há algo que eu gostaria de pedir a vocês. Quero que me contem a verdade sobre mim e, mais especificamente, sobre o seu passado, mãe. Vocês poderiam explicar por que vocês nunca me disseram quem eu realmente sou? Por que lançaram um feitiço de ilusão e aparência sobre mim?

Comecei a relatar minhas coisas desde os treinamentos com os vampiros, minha infância e adolescência, sempre vendo os submundanos ao meu redor, o que gradualmente minou minha sanidade ao longo do tempo.

Minha mãe apertou os punhos, visivelmente trêmula, e Tony apoiou seu ombro para acalmá-la.

— Se você estiver disposto a ouvir, Marshall, terá que ouvir toda a história—, minha mãe finalmente disse, com um suspiro. — É longa, mas acho que temos tempo. Eu estava tentando te proteger, mas vejo que você se envolveu com os submundanos sem me consultar.

Forcei um sorriso ao perceber que, quando Tony se retirasse, eu teria uma conversa profunda com minha mãe.

— A verdade é que conheci seu pai quando eu tinha vinte anos — ela continuou. — Eu era uma bruxa com a habilidade de amplificar os feitiços de outros, e quando engravidei, não podia arriscar que alguém soubesse sobre você ou quem era seu verdadeiro pai. Não podia deixar que ele se aproximasse de você, nem que os inimigos dele o descobrissem.

— Você me enganou, mãe. Você não tem ideia de como me senti deslocado, testemunhando coisas que ninguém acreditaria — respondi. — Eu só quero ver minha verdadeira aparência.

— Aquela não é a sua verdadeira identidade! — minha mãe gritou. — Eu nunca quis que você se tornasse essa pessoa, lutadora. Eu só queria que fosse normal, não como os submundanos ou como eu havia sido.

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