Dor, lembranças e semelhanças

65 8 0
                                    

Catarina olhava para aquela família com os olhos cheios de lágrimas, enquanto eles se abraçavam atônitos, sem saber que tipo de destino cruel lhes aguardava.
Um tanto envergonhada e assustada, Catarina pergunta: _Como estão se sentindo? Tem algo que eu possa fazer?
Então Joaquim com sua voz já cansada responde:
_Vamos ficar bem, mas agradeço a preocupação.
_Entendo...
O cansaço tomou conta de todos, então acabaram por dormir naquele chão gelado.
Catarina atordoada com as lembranças, acabou por sonhar com o dia em que foi sequestrada. Revendo o momento em que Death acerta seu pai com a massa cravada, Catarina acorda com um grito insano de dor.
Todos ali próximo acabam por acordar. Joana vendo aquela menina chorando, não resiste e lhe abraça dando-lhe um beijo na testa e tenta acalmá-la:
_Calma, calma, garotinha já passou. Foi só um sonho ruim. Logo você esquece dele.
Abraçando-a com expressão de medo, Catarina diz:
_Na verdade era uma lembrança...
No dia que o capitão bateu nos meus pais e me trouxe pra cá. Ele é muito malvado...
_Sim ele é malvado. Mas as pessoas más não vivem felizes sabia? Elas tem algo ruim no coração e vivem em agonia. Mas saiba que as pessoas ruins nunca conseguem o que desejam. Por mais que as vezes pareça que conseguem o que querem, eles continuam tristes.
_Verdade?
_Sim. Não sei como nem quando, mas todos nós vamos sair daqui e você vai poder ver seus pais de novo.
_Obrigado
_Por nada! (disse sorrindo)
Vendo o estado de Joaquim, Catarina pergunta como ele se sente. Ele dá uma resposta com a intenção de animar o clima:
_Me sinto atropelado por uma carroça. Mas não se preocupe, vou sobreviver hahah, não é um "cavalo" qualquer que vai acabar comigo. Mas obrigado por perguntar.
Sem saber se ria ou ficava triste pela situação, Catarina dá um leve sorriso.
Logo todo aquele barulho traria problemas, pois não só Catarina e aquela família haviam acordado...
O capitão acordou furioso com o barulho:
_Que esperneio foi esse no depósito? Alguém vá lá e dê fim a essa barulheira antes que eu acabe com o primeiro que ver!
Temendo a fúria do capitão, um dos homens pega uma arma e vai ao depósito ver o que estava acontecendo. Chegando lá ele abre a porta deixando todos com uma expressão de medo. Então ele indaga:
_Que barulho é este aqui? Fiquem quietos ou o capitão dará cabo de vocês antes que possam sonhar em sair daqui!
Abraçados uns aos outros sentindo medo, eles simplesmente dizem "certo" e se mantém em silêncio.
Então o homem sai do depósito e o tranca por fora novamente. Aquele homem se tratava de Leonardo, o capanga que costumeiramente roubava animais para trazer ao navio.
Abalados por se chocarem novamente com o fato de estarem naquela situação, todos no depósito se entristecem e deitam no chão gélido pra tentar dormir.
Depois de um longo período, o cansaço leva ao sono novamente.
Na manhã seguinte, Leonardo destranca a porta bruscamente e grita:
_Catarina! Como você acordou o capitão ontem, ele ordenou que trabalhasse o dobro hoje. Então levante-se e vá pra cozinha!
Ainda sonolenta, Catarina vai pra cozinha ajudar no preparo do café. Chegando lá ela tem uma surpresa desagradável: Em vez de Norman, quem a aguardava era Walter, o homem que vivia à perseguí-la. Tomada de um profundo terror, Catarina só consegue se dirigir ao armário e pegar uma panela pra fazer o café. Então Walter ordena:
_Hoje você vai fazer absolutamente todo o serviço desse barco. Não sei como vai fazer, mas prepare refeições decentes.
Confusa ela diz:
_Mas eu não sei fazer comida...
E é interrompida com um grito:
_Não me importa! Você vai fazer alguma coisa se não quiser que a joguemos para os tubarões ou lhe dê uma tremenda surra!
Assustada ela começa o trabalho. Mal sabia ela que aquele dia seria de uma contínua agonia...

Continua no próximo capítulo: "A doença e o peso da escravidão"

Prisioneira num Navio Pirata: Sonhos no Terror do PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora