Maria | Diogo Leite

parte oito.

Após despojar-se do vestuário e, respetivo, calçado propícios ao estágio que efetuava, Maria envergou o seu casual conjunto de vestes, escondeu os pés nos seus ténis Lacoste e recolheu os essenciais haveres, sua propriedade, considerando-se apta a abandonar as instalações hospitalares, dando por findo mais um dia da sua aprendizagem profissional, naquela gélida terça feira, e que assinalava a primeira semana do mês de novembro. Desocupou a divisão, cuja entrada era apenas permitida à equipa de trabalho, e observou ao redor da sala, já sem a presença dos enfermos, desejando que aquela despovoação pudesse ser algo recorrente, o que indiciava boas notícias no quesito das doenças linfoproliferativas. Perante a entrada de Vanda e Noémia no espaço, as únicas detentoras de uma licenciatura em enfermagem que permaneciam em cumprimento do seu expediente, a irmã de Francisco apresentou as suas despedidas para com a sua, também, mentora de estágio e colegas, jornadeando para o exterior do nosocómio, mais concretamente, para o parque de estacionamento cujo uma, das inúmeras vagas, acomodava o seu automóvel.

Ao alcançá-lo, não hesitou em pisar a sua parte interna e, depois de acomodada e envolvida na segurança proporcionada pelo cinto, acionou o sistema de funcionamento da viatura e iniciou o percorrer do itinerário em direção à moradia dos seus progenitores, onde os membros do clã Miguel já se encontravam, providos, igualmente, do término do cumprimentos dos seus devidos compromissos profissionais.

— Como decorreu o dia? — Susana inquiriu o rebento, após ser brindada com a sua presença na divisão idónea à confecção de qualquer refeição, e onde se ocupava, exatamente, da preparação do repasto do jantar.

       — Ligeiramente agitado. — A de lisos e loiros fios revelou, depois de dispor um beijo no rosto da graduada na área da educação, e durante o tempo em que segurava o garrafão da água, com o intento de a colocar no interior do copo de vidro, entregue pela mãe, assim que esta última compreendeu o propósito da herdeira. — Os três médicos, habitualmente, responsáveis pelos planos de recuperação dos respetivos doentes oncológicos, bem como o doutor, proveniente de um hospital espanhol, sito na cidade de Madrid, estiveram hoje a consultar os pacientes em tratamentos e, também, os já restabelecidos da sua doença, mas em regime de vigilância apertada. — Acrescentou com maior pormenor, ingerindo um considerável trago do líquido.

— Confecionei a minha versão saudável do bolo de cenoura, sem a usual cobertura de chocolate, para que vás entregar uma porção ao Diogo e à família, e lhe seja possível saciar um possível desejo por açúcar, ainda que a sobremesa não tenha qualquer vestígio dele. Contudo, gosto de crer que vai ser suficiente para equivocar o seu estômago. — Diante da informação transmitida pela progenitora, a estudante do ensino superior não mascarou um genuíno sorriso, pela incessante disponibilidade que a mulher expressava para com o clã Leite, coadjuvando-os no processo de lenta recuperação, uma vez que já se encontrava familiarizada com aquela realidade, face à anterior condição de Francisco.

— Então, posso levá-lo quando deslocar-me para a sua moradia, uma vez que agendámos um movie date. — Empregando a integralidade dos seus esforços, com o propósito de conservar cativa a sua singular timidez, a mais prezada amizade de Rafaela confessou, enquanto focava a iguaria disposta no centro da 'ilha' de granito, e protegida por um Tupperware idóneo a dar guarida às iguarias de formato arredondado, e onde seria, posteriormente, transportada.

Encontrava-se ciente do olhar da mãe na sua pessoa, bem como a curiosidade — por maiores detalhes acerca do possível relacionamento romântico que a cria partilhava com o futebolista —, encerrada nas suas íris, e que, em nada, a auxiliou na sua missão de permanecer com uma postura natural e imparcial quando, na realidade, a futura enfermeira não era imune no que a Diogo Leite dizia respeito.