Maria | Diogo Leite

parte sete.

       Maria encontrava-se, perfeitamente, consciente que deveria recusar o desalentado pedido do jogador. Ir. Virar costas e partir. Mas não era capaz. Não quando se descobria, ainda, completamente, à mercê daquele rapaz. E ele estava ali, totalmente, exposto, rogando-lhe para que não fosse. E a rapariga não iria. Exatamente porque, também, desejava ficar.

       — Okay. — Em fim, a irmã de Francisco exteriorizou a sua vontade, e semelhante à dele, para veemente satisfação do portuense.

— Com okay, significa que, sim, vais ficar? — Ainda assim, procurou asseverar-se, enquanto conduzia uma mecha dos loiros e lisos fios da futura profissional na área da saúde, à retaguarda da sua orelha.

— Da última vez que verifiquei, okay traduz-se numa afirmativa resposta. — A finalista do curso de enfermagem não desperdiçou a oportunidade de o escarnecer, para seu patente aborrecimento, expresso através de um torcer do seu brilhante e encantador verde.

Assim que o assunto foi descontinuado, um levianamente, desconfortável silêncio instaurou-se entre o jovem casal, após os breves sorrisos que lhes ornava os lábios haverem desvanecido. Sem nunca corromper o contacto físico com a tripeira de coração, o encantador verde do defesa central percorreu a característica delicadeza e beleza dos traços faciais da loira, memorizando-as, e detendo a coragem e, consequente, ousadia suficiente para deslizar o seu polegar pela bochecha da rapariga. Um tímido mostrar de dentes afigurou-se inevitável e Maria transladou as suas órbitas para o pavimento, enquanto sentia uma tonalidade rosa domar a sua face. Diante da ausência de ruído por parte da descendente de César e Susana, o camisola quatro dispôs-lhe um breve, mas terno, beijo na testa e tomou a iniciativa de acionar a segurança do automóvel propriedade da universitária e guiá-la para o interior da sua habitação, sem nunca, em qualquer momento, ser confrontado com a oposição da sua parte deduzindo, então, que ela consentia as suas ações.

       — Os Jardins encontravam-se vedados ao público? — Ao denotar a prematura chegada do rebento, e da amizade, a progenitora de Diogo inquiriu o jovem casal que, quando questionado, movimentou negativamente com a cabeça.

       — Começou a chover torrencialmente quando iniciávamos a nossa caminhada em direção a eles. Regressámos ao carro e deliberámos, também, voltar para casa. — O desportista dilucidou a ascendente, que anuiu em compreensão e concordância para com o modo de agir da parelha. Interrogou-os acerca do possível apetite vivenciado, para desfrutar do lanche mas, conquistou duas desfavoráveis réplicas, consecutivas de um franco agradecimento.

Após o rapaz informar que recolheriam ao seu espaço pessoal, a mulher não evitou um sorriso, ao testemunhar os dedos entrelaçados dos antigos amantes, enquanto aqueles pisavam a escadaria que concedia o devido acesso ao andar superior, e onde se localizavam os respectivos quartos. Já na parte interna do aposento, outra ausência de qualquer som assinalava o ambiente, provocando uma ligeira tensão, que o melhor amigo de Diogo Queirós resolveu quebrar.

— Eu vou tomar o banho. — Num baixo, e suave, tom, o internacional português comunicou, com o intento de obter uma qualquer reação da irmã de Francisco que, encontrava-se, perfeitamente, consciente sobre aquele não ser um qualquer banho mas, antes, o recomendado pela própria, e que incluía a lavagem dos cabelos à responsabilidade dela. O de vinte primaveras desejava aquilo, contudo, não conhecia a correta forma de o pedir, nomeadamente, após a errónea, e injusta, maneira como a ela se havia dirigido. Perante a inexistência da almejada resposta, o central, empregando a totalidade dos seus esforços a fim de camuflar a sua desilusão, encaminhou-se para o interior da divisão da casa de banho, encerrada no compartimento, onde despojou-se do conjunto que envergava, permitindo-se permanecer apenas nas suas boxers, caso fosse brindado com a — tão — desejada presença da antiga colega de turma no contemporâneo duche.