parte três.

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       — Ainda me encontro a processar. — O companheiro de balneário do brasileiro Alex Telles confessou, empregando a integralidade dos seus esforços, com o propósito de camuflar o atípico frenesi que, dele, se apoderara aquando do reencontro com Maria. A última vez que havia sido abraçado por semelhante sentimento fora naquele verão onde desfrutara, exatamente, quase diaria e intimamente, da companhia daquela mesma menina mulher. — Se a tua intenção for voltar para casa, posso levar-te. — Sugeriu, ainda que o seu efectivo desejo residisse em permanecer naquele contacto próximo com a finalista do curso de enfermagem.

Era, precisamente, idêntico o intento da irmã de Francisco que, diante da possibilidade de desfruir de um momento de lazer e recreio com o antigo colega de turma, e amante, jamais ousaria recusar a sua consumação. E, por essa mesma razão, não o fez.

       — Por acaso, preferia comer qualquer coisa antes de regressar. — Inapta a mascarar a sua timidez, face à exteriorização do seu propósito, a universitária proferiu, enquanto observava o ambiente ao seu redor, de modo a, custosamente, evitar o contacto visual que ela possuía a, perfeita, consciência ser, silenciosamente, solicitado por Diogo, cujo brilhante, e encantador, verde já se encontrava fixo nela e na sua figura.

       — Concordo contigo. Também já tenho fome pois, afinal, todo o propósito deste, suposto, encontro às cegas foi, exatamente, convivermos enquanto jantávamos. — Constatou, enfim, conquistando a, total, atenção da rapariga que, ainda inábil a ocultar o seu embaraço, lhe presenteou com o seu bonito sorriso. — Entrego-te a responsabilidade de escolher o nosso próximo destino, Maria. — Aditou, nunca movendo as suas íris num sentido diferente, senão o cativante rosto da futura enfermeira, completamente, enrubescido — o que o recreou.

       — Assim, colocas-me num posição difícil, Leite. — Retorquiu, evocando-o de forma semelhante àquela de quando partilharam a carteira da sala de aula, provocando no jogador uma fraca risada, que a contagiou.

       — Qualquer que seja a tua sugestão, eu concordo, Miguel. — O futebolista português compactuou com as intenções da do sexo feminino, que, novamente, apreciou as redondezas, no entanto, não se sentindo seduzida por qualquer daqueles restaurantes. Pelo menos, não naquela noite.

Bowling? — Aquando da sugestão da irmã de Francisco — no local onde ambos, durante aquele tão apaixonante verão, haviam desfrutado de inúmeros momentos —, o defesa central não refreou uma gargalhada, que provocou a amplificação da inibição da moça.

Há coisas que, verdadeiramente, nunca mudam, Maria Miguel. — Com humor, o camisola quatro proclamou. A de loiros e lisos fios não conhecia se o portuense se referia ao seu gosto pelo jogo — embora não fosse a melhor jogadora —, à constante ruborização do seu rosto quando na companhia dele, ou aos sentimentos mas, na realidade, a resposta revelava-se a mesma para qualquer uma das hipóteses. E fora suficiente voltar a encontrar Diogo para Maria compreender que, independentemente do tempo, haviam coisas que não mudavam com ele. — Aceitas a minha boleia ou preferes que recorramos aos serviços dos transportes públicos ou de um UBER? — Interrogou-a, mais uma vez, confiando à estudante do ensino superior a decisão definitiva.

Se concordares, e não te importares, em conduzir... — Num baixo volume, a descendente de Susana e César retorquiu, não desejando envolver-se na azáfama noturna, ainda que em menor intensidade do que a diária, da rede metropolitana.

       — Não me importo em nada e, até, acordo que vamos de automóvel, o que viabilizará uma viagem mais cómoda e célere. — O colega de balneário de Danilo Pereira harmonizou, iniciando a sua caminhada em direção ao seu veículo, num tácito pedido para que Maria o acompanhasse e, de imediato, acatado pela mesma.

Maria | Diogo Leite Onde histórias criam vida. Descubra agora