Maria | Diogo Leite

parte dez.

       Assim que a docente deu por findo o processo do lecionar dos conhecimentos teóricos objeto de aprendizagem para aquela específica lição, apresentando as suas despedidas, Maria foi a primeira a erguer o seu esguio físico, após já haver cessado o funcionamento do sistema Apple do seu computador portátil e procedido à devida organização e arrumação do material necessário utilizado na aula, não hesitando em acomodar a bolsa ao seu ombro, e a negra pasta da praxe junto do seu peito, com o propósito de ser das primeiras, senão a primeira, a desocupar o vasto auditório.

— Podes, por favor, enviar-me os apontamentos das restantes classes? — Solicitou à aveirense Rafaela, que se encontrava, igualmente, no processo de recolha e ordenação dos objetos utilizados no decorrer daquelas três horas. — Prometo que te retribuo com explicações. — Velozmente, aditou, conquistando da boavisteira uma gargalhada.

— Vou cobrar-te por isso, Maria Miguel! — A morena dotada de umas bonitas íris de uma tonalidade cinza asseverou, despontando do humor da de loiros e lisos fios, que exibiu um mostrar de dentes, a que se seguiu a uma breve risada.

       — Acerca desse cobro, não detenho as menores dúvidas, Camacho! — Com humor no seu tom de voz, a irmã do mestrando Francisco retorquiu mencionado, ainda que tacitamente, as desalentadas mensagens que, escassos dias ou até no dia antes, à realização das avaliações, a única descendente de emigrantes portugueses lhe remetia, rogando-lhe que lhe elucidasse sobre inúmeras porções da matéria, tendo mesmo, por uma ou outra vez, surgido na habitação dos Miguel, já num horário não propício a qualquer convívio, para que tripeira de coração envergasse a sua armadura de explicadora e lhe salvasse de uma classificação universitária a rasar o miserável.

— E é, igualmente, por isso que eu te adoro! — A cara metade do guardião internacional português, Diogo Costa exclamou, endereçando-lhe uma piscadela, que a aborreceu. — Mas, sim, claro que te remeto as anotações! — Em fim, proferiu, apesar da descendente de César e Susana já deter a perfeita consciência de que obteria uma afirmativa resposta, por parte da sua melhor amiga. — Não te esqueças de informar-me sobre a consulta do Diogo! Tenho a certeza de que tudo estará bem! Dá-lhe os meus parabéns pelo final de uma batalha. Agora que venha a restante para que possa, finalmente, ganhar a guerra. — Um irrefletido sorriso rompeu nos lábios da namorada do camisola quatro, assim que as palavras da adepta do Boavista penetraram-lhe os tímpanos, acalentando o seu coração.

       — Assim o farei! Muito obrigado, Rafa! E, depois, compenso-te! — Dispôs-lhe um beijo no rosto e, a uma velocidade superior à da marcha, a sócia da instituição azul e branca iniciou a sua caminhada em direção ao parque de estacionamento exterior, onde se encontrava sita a sua viatura, num dos inúmeros espaços passíveis de ocupação. Ao alcançar o automóvel, não hesitou em penetrar a parte interna e percorrer o seu itinerário em direção às instituições hospitalares, onde já se encontrava Diogo, a fim de reunir-se com o médico responsável pelo seu processo de cura, para que lhe fosse possível conhecer os resultados de outro conjunto de exames a que fora submetido, após haver terminado os seus seis ciclos de quimioterapia, duas semanas antes, nos finais do primaveril mês de março, bem como o seu plano de radioterapia e outra compilação de informações que seriam imprescindíveis no rumo à vitória, pelo doente oncológico.

Disposta a conhecer a exata localização, e ponto da situação, do jogador da principal formação do seu clube do coração, a finalista do curso de enfermagem procurou contactá-lo, via chamada telefónica, mais concretamente pelo altifalante, contudo, o seu intento afigurou-se sem qualquer sucesso, quando não obteve a resposta desejada. Empregou a totalidade dos seus esforços, a fim de não permitir que os inúmeros cenários lhe subjugassem a sua singular tranquilidade, e elegeu focar a estrada que ocupava o seu campo de visão, afigurando-se obrigatório a utilização do vocabulário de baixo calão, assim que atingiu o seu destino final e denotou a inexistência de qualquer lugar vago, para que lhe fosse possível imobilizar o seu Kia.