Hostage

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"Isso é uma ressaca de uma realidade extinta” — The Handmaid’s Tale 

Naquele momento, mesmo retribuindo os beijos do marido, as palavras de Ben continuavam atingindo Rey como um dardo acertando o alvo. A reprodução incessante da frase em sua mente a esmagavam como se fosse um inseto — asqueroso e indesejado — vagando por uma avenida movimentada. Ela não conseguia impedir a sensação de inquietação e sufocamento que crescia em seu peito. Os efeitos advindos daqueles segundos íntimos estavam se unindo para espalhar impulsos elétricos através de suas terminações nervosas e levando o corpo a um estado de excitação, o que provocava um fervor na altura do ventre fazendo-a desejar tê-lo de todas as formas possíveis. 

Há presença de tanta expectativa e tensão a amedrontava. Era a primeira vez que conhecia essas emoções, e ainda que ninguém jamais tenha explicado o conceito ou lhe mostrado o que fazer — ou a forma de usa-los — ela alcançou o entendimento da desnecessidade de sanar tais hesitações, uma vez que o seu corpo sabia precisamente a maneira de interpretar e atender os sinais, concedendo a ela apenas a função de vivencia-las. 

No entanto, apesar do sentimento ser bastante agradável, e a fazer querer sorrir sem um motivo aparente, qualquer resquício dessas sensações se dispersaram e deram lugar pela mais primitiva culpa, considerando a implícita insinuação carnal proposta naquela ideia e a vergonha que vinha com ela. Isso tornava o inofensivo feito de tentar reproduzir o dito em seus pensamentos equiparar-se a um crime moralmente censurável e pecaminoso.

Lembrava-se dos ensinamentos das Tias sobre os efeitos do desejo forte e impuro por algo impróprio ou proibido, que embora não estivesse aplicado ao bom ou ao ruim, quando as tentações da carne e a cobiça andavam juntas, o significado era sempre ruim. 

O reaparecimento daquelas lembranças originou um alvoroço na cabeça de Rey, levando seu estômago a murchar como um balão de festas furado. 

Ela lutou para acalmar os tremores interiores e exteriores, a respiração descompassada e o suor nas mãos. Achava-se tão submersa e afobada em meio aquele conflito, que esquecera do presente e das ações que se desdobravam com o marido de modo a sentir-se nada menos do que uma expectadora tácita e desatenta. 

À medida que o caos em sua mente se apaziguava, a Esposa começava a recobrar vagarosamente sua consciência voltando a sentir a língua do marido mover-se por dentro de sua boca, disseminando seu gosto por toda parte que tocava. Inconscientemente os braços de Rey subiram até a nuca dele, usando a ponta dos dedos para dedilhar sua pele pálida e macia. Os movimentos da língua de Ben sobre a dela eram capazes de serem sentidos por todo o seu corpo, nutriam um apetite em experimentar cada perímetro, capturando seu lábio inferior e sugando sem nenhuma modéstia.

Os lábios movimentavam-se contra os seus em um ritmo calmo e delirante. Os braços dela reforçaram o aperto ao redor do pescoço dele ao sentir a língua de Solo contornar seus lábios, besuntando sua saliva por eles, levando-a a lambê-los para provar seu gosto uma vez mais. 

Uma das mãos de Solo segurou o seu cabelo enquanto a outra escorregava para baixo, alcançando o limite das suas curvas, acariciando sua bunda lentamente, provocando o aquecimento que se tornava cada vez maior entre suas pernas. Um grunhido de prazer arranhou a garganta dela sendo abafada pelos beijos famintos que trocava com o esposo. Rey afundou ainda mais os dedos em meio aos fios espessos do cabelo de Ben, entregando-se ao momento e enterrando na parte mais funda de sua mente o conflito que a angustiava segundos atrás. 

Os lábios de Ben desceram em direção ao busto da esposa, a língua envolvendo a clavícula dela e os dentes raspando despretensiosamente a pele, choques contínuos e até então desconhecidos pairando abaixo de sua barriga como uma prece secreta para que ele guiasse sua boca cada vez mais para baixo. Apenas o ato de imaginar essa eventualidade, fez com que os braços de Rey descessem em direção ao quadril de Solo e o puxassem contra ela — ainda que não restasse qualquer espaço os separando —, porém, tal ação até aquele momento singelo, ocasionou no contato dos sexos de ambos por cima de suas roupas. 

A Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora