Shades Of Cool

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"Pergunte a si mesmo se você é realmente livre. Se fosse livre de verdade, não teria escolha. Você tem escolha?” — Dark


Rey Solo

Minhas pálpebras tremeram e abriram-se para o mundo como uma flor desabrochando na primavera. Um segundo mais tarde, elas curvaram-se para baixo como em um bater suave e imperceptível das asas de uma borboleta, apenas para se abrirem novamente, permitindo que meus olhos esverdeados escondidos nela pudessem vislumbrar o entorno. Eu não tinha muita certeza de quanto tempo estava fazendo aquilo, porém, sabia que os minutos desperdiçados naquela sala de espera, observando o teto e tamborilando os dedos sobre a superfície do assento, deveriam estar sendo utilizados nas tarefas de casa. 

Lancei um olhar na direção do corredor vazio a direita, esperando que uma das quatro portas espalhadas por aquele espaço se abrissem e meu nome fosse enfim chamado, dando um basta naquele aguardo interminável. O sino que mede o tempo está tocando. O tempo ali era medido por sinos, como outrora nos conventos de freiras. Há outras mulheres comigo na sala de espera, três delas, Esposas iguais a mim. Dissimuladamente observamos umas as outras, avaliando nossas barrigas enquanto pensávamos: será que alguém teve sorte? 

Sou levada ao médico uma vez por mês, para fazer exames: de urina, hormônios, preventivo de câncer e exame de sangue; todas as mulheres em idade fértil precisavam fazê-los, era obrigatório. 

Um pouco mais afastado de onde estávamos, atrás de uma mesa de recepção hospitalar, um enfermeiro de um metro e oitenta, cerca de quarenta anos, fica sentado digitando, suas mãos são grandes demais para o teclado, ainda usa a pistola no coldre de ombro. Em pé nas laterais do elevador, encontravam-se dois Guardiões* — estáticos e portando metralhadoras — mirando um ponto fixo que não fossemos nós, com o escudo de armas nos ombros e nas boinas: duas espadas cruzadas, acima de um triangulo branco. 

Os Guardiões não eram soldados de verdade, sendo usados somente no policiamento de rotina e em outras funções sem importância, a maioria deles consistiam de homens burros ou mais velhos ou incapacitados ou muito jovens, exceto pelos que são Olhos* ocultos. Estes que me acompanhavam são jovens; em um o bigode ainda é de fios ralos, no outro o rosto ainda está cheio de espinhas. É desconcertante pensar que eles deviam ter quase ou a mesma idade que a minha, cada um de nós encarregados de uma grande responsabilidade mesmo que tenhamos aprendido tão pouco com o tempo sobre as coisas da vida.

No entanto, eu sabia que não podia me deixar enganar pela juventude comovente deles. Os jovens são com frequência os mais perigosos, os mais fanáticos, os mais nervosos com suas armas. É preciso ir bem devagar com eles. 

O Guardião de bigode, me flagra observando-o, ele vê os meus olhos e eu vejo os seus, e ele enrubesce. O rosto dele é comprido e infeliz, mas com olhos grandes e redondos. A pele é pálida e tem um aspecto pouco saudável, como a da pele sob uma casca de ferida. É ele quem vira o rosto para o outro lado primeiro. 

Após o episódio com Clinton a guarda pessoal de Ben mudou radicalmente o tratamento que destinavam a mim. Eles me encaravam apenas em caso de necessidade e não me dirigiam uma única palavra, apenas gestos sutis por meio da cabeça, como um balançar ou uma saudação levando os dedos às bordas de suas boinas. Seja qual tivesse sido as providencias tomadas pelo meu marido depois do ocorrido, não restavam duvidas que nenhum deles tentaria realizar um ato igual aquele contra mim outra vez. Contudo, não conseguia deixar de me sentir desconfortável por dividir o ambiente sozinha com eles. 

Ben havia se oferecido para me acompanhar, uma vez que eu não poderia comparecer a consulta sozinha. Eu era a Esposa de uma personalidade importante com relevância no cenário político do país, estava sujeita a ser um alvo para quem quer que estivesse interessado em atingi-lo, isto é, precisava de proteção. 

A Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora