Clara Martins
Não vou mentir e dizer que pra mim foi de boa ir cumprir o desafio de ficar presa no banheiro com o Lucas, porquê não foi, eu fiquei meio desconfortável com a situação e pelo que parece, ele também, mas como desafio é desafio, nós fomos.
Fomos pro banheiro principal e entramos, fechei a tampa do vaso sanitário e sentei encostada no box, enquanto isso o Lucas trancava a porta.
Já tinha se passado uns dez minutos que a gente tava ali e tava um silêncio constrangedor, eu sabia que ele queria falar alguma coisa, mas ele não falava nunca.
— Pode falar Lucas, eu sei que você quer falar alguma coisa.
— Eu só queria saber se depois que essa brincadeira acabar a gente pode ter uma conversa.
— Lucas, não me leva a mal, mas eu não acho uma boa idéia, nós dois bebemos um pouco além da conta hoje e é perceptível que já temos um pouco de álcool no sangue, no cérebro, no coração, enfim, só quero evitar uma merda maior.
— Relaxa Clara, eu sei me controlar e não vou fazer nada de mais, só queria ter a oportunidade de conversar contigo e tentar esclarecer as coisas – passou a mão no cabelo e depois voltou a falar — Eu não sei pra você, mas pra mim tá sendo difícil ficar em um ambiente em que eu tô de bem com quase todas as pessoas, menos com uma, tá foda Clara e eu não sei se com você acontece a mesma coisa, mas comigo acontece isso tudo e tá sendo difícil.
— Tá bom, quando acabar essa brincadeira a gente pode conversar sobre isso, mas agora vamos que já deu o tempo.
Saímos do banheiro e o pessoal ainda tava brincando, mas com uns desafios e verdades mais leves, sentamos nos nossos lugares novamente e esperamos outra rodada que a garrafa parou em mim pro Thiago.
Eu sabia tudo que ele tinha causado na Mariana, inclusive eu tava presente, mas eu só propus aquele desafio do beijo por uma causa: fazer ele se arrepender do que fez, eu sei que seria doloroso pra Mari, por causa de toda a história da consideração e tals, mas depois ela entenderia o meu intuito, pelo menos é o que eu espero.
Bom depois que a Mari saiu do beijo e correu pro banheiro, ficou nítido o climão que ficou ali, principalmente pela Mari ter corrido pro banheiro e pelo Thiago não ter voltado pra roda depois.
Pelo que eu conheço do meu amigo, o meu plano tinha dado certo e pelo jeito que ele estava (sentado isolado em um banco e de costas pra todo mundo), ele estava pensando no assunto: aquele dia que eu não lembro a data, Mariana, consideração e afins. Arrasei com meu desafio.
— Tu tá louca Clara? Tu sabe de toda treta que rolou entre eles e faz um desafio desses, tu pediu pra ter climão né? – o Gustavo falou.
— Calma irmãozinho, eu sei o que eu fiz – falei e fiz um coque no cabelo — Primeiro: climão já tá desde a hora que esse jogo começou, então fica quietinho. Segundo: ninguém pensou em climão e toda treta que rolou quando eu tava presa no banheiro com o Lucas – falei com um tom irônico e debochado — Terceira e última coisa: eu sei o que eu fiz e vocês vão me entender depois, eu tinha todo um planinho aqui ó – indiquei minha cabeça.
— E que plano é esse? – o Gui perguntou curioso.
— Eu não vou explicar muito, porquê eu prefiro que vocês vejam pra entender melhor, ai caso fique alguma dúvida depois, eu explico melhor, mas tudo que vocês precisam saber agora é: a brincadeira acabou, quando a Mari voltar do banheiro não é pra ninguém ir falar com ela e a mesma coisa com o Thi, não é pra ninguém ir falar com ele agora, deixa ele lá sozinho que ele precisa pensar mais um pouco.
— Já saquei o que tu quer fazer – o Gu falou e riu — A desgraçada é uma gênia, não é a toa que é minha irmã – bateu na minha mão fazendo um toquezinho.
— Pronto cambada, quem entendeu, entendeu, quem não entendeu é só associar as coisas, ligar os pontos, fazer oq eu falei, ver a cena que vai acontecer daqui a pouco e me chamar de gênia e se depois disso tudo ainda ficar alguém sem entender, eu explico – levantei — Agora todo mundo procura um rumo pra seguir.
Todo mundo levantou e saiu dali, Júlia e João Pedro entrou pra sala junto com o Guilherme e a Gabi, O Gustavo e a Duda foram deitar no sofá perto da churrasqueira e eu e o Lucas fomos pra um dos cantos que tinha um sofazinho. A casa da Duda é uma estofaria, porquê, ô lugar pra ter sofá e cadeira, sério, o quintal é consideravelmente enorme e deve ter uns 4 sofá, tem um sofazinho redondo do lado da churrasqueira, outro igual perto da piscina, uma mesa com quatro daquelas cadeiras confortáveis e um sofazinho de dois lugares perto da porta que dá acesso da cozinha ao quintal, qualquer problema financeiro que tiver é só a Duda vender os sofás que dá tudo certo.
Enfim, eu e o Lucas sentamos em um dos sofás e ele começou a falar.
— Eu sei que eu te decepcionei e te magoei muito durante esse tempo, mas tudo que eu fiz foi sem pensar e eu reconheço que eu tô pagando por tudo que eu fiz, mas tá difícil pra mim, Clara – passou a mão pela cabeça — Eu não menti quando disse que era apaixonado por você, mas aquela ida no bar com aquela menina pra te afetar, só me fez perceber o quão infantil eu tava sendo só porquê queria pagar de superado e mostrar que meu ego não estava sendo ferido por causa do nosso "término" – fez aspas com a mão na hora em que falou término — A real é que eu sou apaixonado por você desde a primeira vez que a gente ficou, e eu sei que fui um idiota.
— Nossa, por essa eu não esperava, mas vamos lá – me virei de frente pra ele — Eu também nunca escondi que gostava de você, mesmo sendo bruta na maioria das vezes, é o meu jeito, mas quando eu decidi dá um tempo no que tava rolando entre a gente era porquê eu queria pensar, eu queria levar isso mais a sério, porquê eu também estava apaixonada por você, Lucas – coloquei uma mecha de cabelo que tava fora do coque atrás da orelha enquanto observava atentamente o seu rosto — Eu até pensei em desistir dessa idéia maluca quando a Mari me falou que o Thiago conversou com ela e disse que tinha te visto aos prantos, logo depois você me mandou uma mensagem dizendo que ainda era apaixonado por mim e eu decidi não ficar guardando mais meus sentimentos e nem fugir do que eu tava sentindo por você, no dia seguinte surgiu a ideia da gente ir pra um bar e eu vi ali a oportunidade perfeita pra me abrir com você e finalmente tentar uma coisa séria – dei uma pausa pra respirar fundo tentando não chorar e logo voltei a falar — Mas o que mais me doeu foi ter acreditado na paixão que você dizia sentir por mim em um dia e no dia seguinte você chegar no mesmo lugar que eu tava com outra mulher, eu ia praticamente me declarar pra você Lucas – soltei um risinho nasalado.
— Eu não mentir quando eu disse que era apaixonado por você, Clara.
— Como não Lucas? Quem diz tá apaixonado por uma pessoa em um dia e no outro aparecer com outra menina, no mesmo lugar que eu tava? – me alterei um pouco — Você tem noção o quanto doeu em mim te ver com outra menina quando eu finalmente ia abrir meu coração de verdade com você? – esperei ele responder, mas a resposta não veio — Me responde Lucas, você sabe o quão dolorido foi pra mim? – ele negou com a cabeça.
— Eu sei que eu fui imaturo Clara e sei que o motivo de você não falar mais comigo era somente por minha culpa – segurou na minha mão — Sabe o quanto foi difícil pra mim ficar praticamente quatro meses sendo ignorado por você?
— Isso foi consequências dos seus atos, Lucas, talvez se você tivesse pensado mais com a cabeça e não com o seu ego isso não iria tá acontecendo – puxei minha mão que estava debaixo da dele — Talvez estaria tudo normal ou até melhor.
— Me perdoa Clara – tocou meu rosto— Me dá mais uma chance, vamos fazer da certo dessa vez, por favor. A gente pode começar do zero, podemos voltar só a ser amigos, mas por favor me perdoa.
Em um impulso abracei ele fortemente, como eu tinha saudades desse abraço, como eu tava com saudades desse cheiro que só ele tem, como eu tava com saudades dele.
— Eu te dou essa chance, mas vamos começar só como amigos tá? Você me magoou muito e eu não sei se quero me jogar assim de cabeça logo no começo.
— Eu te entendo, vamos ser só amigos – me puxou pra outro abraço — Como eu tava com saudades de você e desse abraço – deu um beijo no meu pescoço — Te amo neguinha – sussurrou em meu ouvido.
— Te amo neguinho – sussurrei de volta e dei um beijo no pescoço dele.
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Por Acaso (PAUSADA - por tempo indeterminado)
Roman d'amourMari e Thiago sempre foram amigos e nunca imaginaram que algo além da amizade poderia acontecer entre eles. Lidar com um sentimento novo e incontrolável com certeza não estavam em seus planos, mas, quando Mari e Thiago se beijam durante um bloquinho...