O final trágico do conto de fadas

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"Querido diário, aqui é a Aurora escrevendo de novo. Os dias estão passando mais devagar desde que o Oliver se isolou em seu apartamento novamente. O que o Capitão disse no telefone o deixou desnorteado, ele parou de falar e saiu andando pela rua até voltar ao apartamento de novo. Ele tava bolado de verdade dessa vez, bolado e chateado.
Não deu para ouvir muita coisa mas, o que deu pra saber foi que alguém morreu mesmo. Parece que os membros da Liga Fantástica estavam uns contra os outros e alguém estava arquitetando tudo. Essa última parte eu não tenho certeza, até porquê o áudio tava uma merda pra ouvir.
Sabe, diário, eu sinto falta do meu pai desde quando ele voltou ao Tartaggo. Eu não podia voltar com ele por eu ser filha de um semi-deus e uma mortal, eu sou tipo uma meio-sangue, saca? Minha mãe passou um tempo cuidando de mim na casa dos meus avós, os maternos, claro, mas, eles eram rigorosos comigo. Xingavam a minha mãe por não ser o que eles queriam que ela fosse. "Poesia? Que coisa mais idiota" eles diziam. "Você nunca conseguiu uma entrevista importante com alguém" e coisas do tipo.
Eu também passei a escrever as minhas poesias por um tempo. Elas falavam sobre saudade e bons pais de verdade. Eu sentia raiva por meu pai ter me deixado, mas também ficava com medo do que realmente tinha acontecido.
Eu amava meus pais, ainda amo na verdade. Os dois eram lindos juntos, me davam todo o carinho do mundo e me ensinaram tudo que podiam ensinar. Eles eram incríveis... até o Rei Viking solicitar o retorno do meu pai à Tartaggo e tudo ir por água abaixo desde então.
Minha mãe, ficou internada por um tempo em um hospital de Augusta. Estava com câncer de pulmão avançado. Depois que o papai urso se foi... ela não parou mais de fumar. Talvez eu passe lá algum dia, se ela ainda lembrar de mim.
O Oliver é o mais próximo que tenho de um pai em anos, ele é um babaca, mas, até que é um cara bem legal, pra ser sincera. É cheio das melancolias nas frases, ele deve ter sofrido muito pra ficar daquele jeito em casa: pelado e de suéter por cima. Se não fosse aquele suéter, o cara ia ser gostosão.
Enfim, diário... acho que por hoje é só. Espero mesmo que amanhã o Oliver melhore."

Dia 12/04/2022
Era uma noite fria de Outono. Meu chefe acabara de solicitar minha presença na reunião de conselho, que acontece de 4 em 4 anos e geralmente o assunto em a ver com os mortais. Os reis estavam insatisfeitos com o governo fazendo exames de sangue nos supers. Eles não os temiam, apenas não queriam entrar em guerra em vão pelo reino. Deuses contra Supers, essa guerra pesaria para os humanos e eu temera por isso.
Amanda está insegura comigo, está com medo de que eu não volte mais, pois, a qualquer momento eles iriam precisar de mim e infelizmente era impossível negar o convite sem que não houvessem consequências.
Aquelas mulheres eram minha vida, e eu faria de tudo para tê-las bem. Mas as lágrimas não iriam se secar naquela noite, e nem na próxima...
Aurora estava radiante como sempre foi, com o seu sorriso banguela no rosto fazendo caretas para mim, e eu respondia na mesma altura com outras caretas também. Ela ainda não chegou no meu nível ancião de caretas, mas, confesso que teve um bom desempenho colocando a língua dentro do nariz, aquilo foi nojento.
Seu cabelo estava bagunçado, eu fiz questão de arruma-lo, ou, tentar arrumar pelo menos. Não levo jeito para essas coisas de cabelo mesmo, o meu nunca estivera tão bem bagunçado... agora sim, ela estava linda e muito mais radiante. Seu sorriso inocente não sabe o que irá vir pela frente a partir daquela noite. Uma noite tão dolorosa para mim, mas que será bem mais dolorosa para ela quando cair a ficha. Amanhã, ela vai acordar e perguntar para sua mãe: "ma-mamãe... cadê o papai urso?" E então, Amanda não vai ter ideia de como responder.
"Talvez não tenha mais o peito do papai para se deitar, e nem mais competições de caretas onde você sempre se gabava por ganhar.
O melhor café da manhã, o melhor cafuné, a melhor cosseguinha nos pés e nem mesmo as historinhas mitológicas que o papai urso conta antes de dormir.
Mas quero que seja forte minha boa menina, como sempre foi.
Quero você correndo atrás dos seus sonhos de ser a maior guerreira da Geórgia e lutar contra monstros marinhos gigantes.
Quero que você nunca desista de ser feliz, de ser livre e sorridente! O mundo um dia dará as costas para você, e quando isso acontecer, quero que você ganhe ainda mais energias para continuar.
Quero que você seja você mesma, mesmo que o mundo ache errado.
E quero que você nunca esqueça,
Que será sempre
A minha melhor canção de ninar."
-Papai Urso
Essa foi a carta que deixei antes de partir pela manhã. Espero que Amanda a esconda por enquanto, e espero que as coisas não estejam tão feias em Tartaggo.

Eu achei a carta do papai apenas aos 9 anos, foi ela quem me motivou a estar aqui hoje. Ela estava escondida dentro de uma cadeira antiga da minha bisavó.
Esse apartamento era do meu tio, ele morava sozinho desde quando sua mulher o deixou e levou meus primos também. Ela estava decidida a não olhar para trás e eu era a única pessoa com quem ele conversava. Odiavam ele por ter se viciado em cocaína, depois que ela foi embora, o vício só piorou. Eu era a única pessoa que ele tinha, mas, o cheiro me fez ficar longe. Ele morreu de overdose em 2030 e deixou toda a herança para mim.
Hoje o Oliver resolveu aparecer e colocar aquele rostinho de idoso pra pegar uma vitamina. Quando eu vi a cara dele, me teleportei direto pra sala dele. Ele estava melhor, estava sorrindo e conformado com a situação. Ele me explicou tudo quando cheguei.
-Bem, a gente precisa dar o fora daqui. O tocha enlouqueceu e matou o homem de lata junto com a mãe.

-Cacete... que tenso...

-O capitão viu tudo acontecendo, foi a 2 semanas atrás. Ele está avisando a todos os supers e acha que o próximo sou eu.

-E... o que eu tenho a ver com isso? Eu tô na lista dele também ou ele não tem lista?

-Bom, se levar em conta as pessoas que ele não vai com a cara, tá todo mundo fudido. E eu quero proteger você.

-Aaawn, quer dizer que você se importa?

-Me importo sim, eu admito. Feliz agora?

-Aham

-Você me lembra a minha filha.

-Cacete, você tinha uma filha?
Oliver responde meio cabisbaixo como se tivesse lembrado de algo que não gostaria de lembrar.

-Eu vou pegar o meu uniforme. Não ria de mim quando eu voltar, baixinha.

-Não prometo nada...

O Homem De GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora