As rosas não falam, elas gritam.

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Eu havia decidido nunca mais usar aquele uniforme novamente pelas ruas. Até porquê, eu seria preso e linchado por matar crianças a "sangue frio", puta piada de bosta. Mas O capitão falou que era uma situação de extrema urgência e que estaria me esperando no QG de Tybee Island. Um esconderijo subterrâneo, não como a nave da liga da justiça, mas, era um bunker anti-bombas e desastres naturais. Ficava escondido por debaixo de outdoors com marcas de produtos cosméticos, era gigantesco, porém, discreto.

O uniforme parecia o mesmo, Sophie mesma o costurou. Ela tinha talento para a coisa. O uniforme cobria minha cabeça com um capuz branco até os olhos. Estes, cobria meus olhos com manchas pretas de tinta com os dois dedos, indo do canto de um olho ao canto do outro olho, igual fazem nos filmes de ação genéricos com cenas de guerra. Da parte do peitoral até o abdômen, era revestido com cores azuis e pretas. As cores pretas, por cima das azuis, quase deixando o azul escuro invisível. Uma cinta branca por volta da cintura até as costas e as calças com as mesmas cores pretas e azuis.

Fazem 10 dolorosos anos em que não uso aquele traje. Desde quando aquele evento aconteceu e destruiu minha vida. Eu até pensei em me matar mas... talvez eu seja egoísta demais ou ansioso demais para isso. As capas saíram de moda faz um tempo, sabe como é, por causa do filme  "Os Incríveis", eu adoro esse filme. Tive a sorte de assistir com a Sophie no cinema e foi uma das melhores noites que já tive. Sophie ficou me zoando com o "fica frio aí" e perguntando "cade o meu uniforme?" E eu dizia: -ah, "eu sou o maior bem que você pode ter".
Eram bons tempos, Aurora, bons mesmo. Se apaixonar por alguém assim, sem mais e nem menos... é uma das melhores sensações, não tenho como negar. Você encontra ali a razão para se amar em paz, e não sofrer mais...mas o amor é a coisa mais triste quando se desfaz.
Eu estava paralisado ali, já vestido com o uniforme, me olhando no espelho e perguntando: -esse sou eu mesmo? -digo isso com o pouco da tinta escorrendo pelo rosto por conta das lágrimas. Ainda dói lembrar, mas aí lembro que a dor é o melhor professor de todos e Sophie sabia bem disso, eu sabia bem disso... e isso não me conforta nem um pouco.

Aurora estava esperando em pé andando em círculos pelo apartamento, ansiosa, sabendo que iria conhecer o resto do Comissário. Ela era uma boa garota, assim que me viu eu estava escondendo a tristeza com um sorriso estampado no rosto. Ela sabia que era de mentira mesmo com toda aquela tinta pelo rosto, mas, ela escolheu não falar nada, e era melhor assim.
-Que climão, né? -Diz Aurora olhando para o meu rosto com o mesmo tom tímido da primeira vez que bateu à mina porta.
-É... -Responde Oliver já conformado com a situação. Ele estava disposto e um tanto confiante pois sabia que se em algum lugar havia respostas, elas estariam naquele maldito bunker.

Curiosamente, na garagem do apartamento tinha um Furgão todo pintado com unicórnios e gatinhos vomitando arco-íris, nem precisei perguntar se era da Aurora ou não.
-Cê sabe dirigir isso? -Diz Oliver claramente preocupado em morrer dentro de um furgão de unicórnios.

-Sei... mas você não vai me prender por não ter habilitação né?-Responde Aurora em um tom irônico indo em direção à porta do carro enquanto retira as chaves de dentro da bolsa.
Já dentro do carro, a decoração não é diferente. O carro está repleto daqueles brinquedos que balançam a cabeça enquanto dirige. Eu tinha um desses quando era taxista e tinha a cabeça do Michael Jackson. Ele usava aquela roupa de Smooth Criminal com o chapeuzinho branco.
Por outro lado, os gostos da Aurora eram diferentes, os brinquedinhos iam de gnomos cabeçudos até o Gandalf de Senhor dos anéis, acho que "gnomos" também se encaixam na categoria do "Senhor dos anéis", ou eram Hobbits? Bem, eu esqueci.
O volante era pintado de rosa, e no lugar da buzina, havia uma carinha feliz sorridente e quase dava pra ver a carinha dizendo "me buzine, me buzine!!".
-Nem pense em fazer is...
-BIIIIIIIIIIP
-Mano...
-Hehehe -Aurora dá um enorme sorriso, enquanto tirava o freio de mão e engatava para a primeira marcha, saindo da garagem com extrema facilidade. O certo seria o adulto estar dirigindo, mas, quem iria nos prender? Ela estava feliz pra caramba dirigindo e eu não queria atrapalhar a felicidade da garota.
No rádio estava tocando Tom Jobim-Girl from Ipanema, uma rádio que tocava músicas dos anos 90: bossa nova, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra e afins. Aurora parecia adorar as músicas, cantamos juntos o caminho todo até a casa do Corvo.
-Tall and tan and young and lovely
-The girlll from Ipaneema goes walking -Aurora canta toda desafinada, mas o importante era estar cantando com o coração e isso ela estava fazendo bem.
Eu estava feliz também, rindo pra caramba das desafinações bizarras da Aurora. No caminho, contei sobre o Corvo. Ela achou ele um babaca como qualquer outra pessoa. Eu queria visita-lo para levar sua filha ao bunker junto com ele. Não iria deixar os dois para morrer...
Ao chegar na rua da casa do Corvo, que não era muito distante, vi todo o caos que estava por lá. Toda a casa por fora estava marcada com balas de armamento pesado, provavelmente de dentro para fora. Haviam vários corpos queimados fora da casa. Ao descer do furgão e ir em direção à entrada, deu para ver todo o gramado queimado que estava por ali. A casa havia um buraco gigantesco no teto e o sol batia direto no tapete vermelho da casa, que, nesse caso, era vermelho sangue. Carros de agentes da interpol estavam por volta da região, os carros estavam furados à bala, provavelmente os tiros vieram da janela do Corvo, que tinha uma pequena abertura para apoiar armas. Por fora da casa, era toda feita de madeira, porém, era apenas um disfarce. Dentro da madeira, estavam barras de metal maciço para que bala alguma pudesse atravessar. Eu mesmo o ajudei a construir e sabia de todos os segredinhos da casa.
A maioria dos corpos dos agentes estavam feitos a bala, e nenhum sobreviveu, porém, haviam também corpos queimados, estes, mais perto da entrada da casa. Quando a coisa ficou feia, o Corvo deve ter se escondido no porão de sua casa, ele havia uma escotilha quase impenetrável que dava acesso ao porão. Quando entrei, a casa estava cheia de cartuchos de balas disparadas e todas as armas estavam sobre o chão, ele deve ter feito questão de usar cada uma delas, até mesmo a minigun escondida na garagem. No teto, haviam marcas de madeira queimada, sendo possível ver até mesmo o material maciço furado. Aquilo era obra do Tocha, ele estava atrás do Corvo, provavelmente por causa de seu caso com uma secretária da interpol, que, ironicamente era uma mulher negra extremamente atraente e bonita. Pois é, o Corvo com uma mulher negra, a peguete do tocha.
Fui direto para a escotilha, estava fechada, porém, com um buraco queimado enorme no lugar. O tocha deveria estar bem puto para fazer todo aquele estrago. Retiro o que disse, ele não é bem o "cara bacana com o topete de John Travolta" que eu falei que era. Ao entrar na escotilha lá estavam os dois, pai e filha. Foram mortos juntos, a filha estava agarrada no pescoço do pai, estava em seu colo abraçando-o. Eu nem imagino o quão assustada ela estava. O Corvo estava virado pra trás com a mão na cabeça de sua filha, Carolyn, fez isso para a proteger das chamas. Ele era o maior herói de todos para ela, e um pai incrível.
O Corvo colocou o seu capacete na cabeça de Carolyn, ela era à prova de balas e chamas, porém, não tinha como proteger o resto do corpo que estava em carne viva.

Não sabia ao certo se a interpol estava trabalhando com o governo em conter a população e muito menos se O Tocha estava envolvido também. O Corvo sabia de alguma coisa que não devia, antes de toda essa merda começar ele disse que estava investigando casos antigos do governo e acabou descobrindo um cara chamado Tyr Odin, Tiberius, como era chamado. Ele foi visto saindo de um bar junto ao Jackson Portman, O Capitão, há 28 anos atrás. Nos documentos, Jackson dizia à Tiberius que estava doando seu sangue para pesquisas do governo. O Corvo então fez sua linha teórica na parede, com pinos vermelhos e laranjas e um enorme mapa da cidade e onde provavelmente era o lugar onde faziam os experimentos. Todas as pistas apontavam para o Bunker da liga. O bunker foi marcado com vários pinos amarelos com uma anotação furada no lugar também. Ela estava queimada, porém, o pouco que dava para enxergar era "E_con_re Tiberius e..." o resto estava queimado, impossível de ler.
-Puta merda!!!! O meu pai está vivo??? -Diz Aurora em uma mistura de emoções: raiva, medo, felicidade e confusão enquanto coloca as mãos nos seus cabelos brancos. -Mas por que ele não veio me procurar durante todos esses anos? Eu-eu não entendo... isso não faz sentido algum.
Aurora então sai em direção à porta da escotilha e saindo pela porta da frente.
Eu continuo lá, ainda analisando as informações e ligando peça por peça. Havia uma faltando, uma não, muitas.
Antes de sair, eu cubro o corpo do Corvo e o de sua filha com uma toalha de mesa que peguei da cozinha.
-Espero que você se redima com os seus pais lá no lugar para onde você vai. Vejo que você aprendeu, deixou de ser um racista de merda e aprendeu a amar as pessoas de verdade. -Eu derramo um pouco da cera de vela que havia na escotilha e vou embora procurar a Aurora.
Ela estava chorando dentro do furgão com as mãos sobre o rosto gritando:
-EU VOU SURTAR!!!
Abrindo a porta do carro e fechando a porta logo em seguida. Oliver segura Aurora pelos braços e a pede para olhar nos seus olhos. Ela primeiro olha para o lado, ainda chorando querendo esconder as lágrimas com as mãos.
-Ei, ei olha pra mim, garota! Vai ficar tudo bem, okay? Eu estou com você agora e vai ficar tudo bem... -Oliver diz isso calmo porém seguro nas palavras. Era assim o jeito que ele diria para as suas duas filhas, que hoje, teriam 19 anos e estariam quase completando a faculdade. Estariam com aqueles mesmos problemas com adolescentes babacas. Até em algum achar sem querer um cara ou "uma cara" por aí que realmente valia a pena lutar. Aurora estava chorando agora, não por um adolescente, mas, por um homem adulto e que mesmo assim ele conseguiu partir seu coração.
Ela conseguiu se recompor e me explicou tudo o que aconteceu e também a carta que seu pai deixara. Ela guardava a carta dentro da bolsa e sempre lia quando estava triste. Ela leu junto comigo e enquanto ela se sentia melhor, eu estava agora em lágrimas de tristeza. O Tiberius parecia ser um cara legal, mas, ainda estava com o pé atrás sobre ele. A rosa de cabelos brancos agora tinha parado de gritar, talvez fosse uma crise de ansiedade, essas merdas acontecem... ela deita sua cabeça na minha perna e adormece. Sua pele morena estava coberta de lágrimas, mas, estava mais calma agora. Ao se deitar, o papel que tinha pego cai do meu bolso, desta vez com o verso para cima e neste verso estava escrito "Vai atrás da Amanda Martin, é a mulher do cara, Oliver" como esse miserável sabia que eu ia pegar aquele bilhete? Enfim... eu vou esperar a baixinha aqui acordar e vamos com o pé na estrada novamente.

O Homem De GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora