O homem de gelo

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23/05/2016
Era uma noite de domingo quando minha mulher estava grávida de 3 meses de duas graciosas garotinhas  gêmeas. Estava um pouco nervoso... Não, na verdade eu tava nervoso pra caramba! Vai sair dois mini Olivers dali de dentro, imagina só ter uma versão pequena e linda de mim rodando por aí. Uma não... duas.
A melhor parte é que eu não tinha ideia de qual seria o nome das duas. Tava pensando em Olivia e Talita, mas, minha modesta mulher, tão delicadamente me respondeu:
-Que nome de merda ein, Oli

-Calma lá, maruja, eu tô tentando aqui, okay? Dá um desconto...
Ela me olha com um sorrisinho bobo no rosto, ela é apaixonada por mim, mas agora tá me achando com cara de idiota. Nós não nos conhecemos na escola ou em uma reunião de trabalho, essas coisas de filmes clichês de romance, coisa que ela adora. Tudo aconteceu no verão de 2004, eu estava trabalhando como taxista, era bem o meu segundo emprego, sabe? Ela já sabia do primeiro, eu era bem famoso na época, e poucos sabiam quem era Oliver Miller.
Sempre depois das viagens eu tinha que limpar esperma do banco de trás, tinham vezes que eu limpava até sangue. Não era o melhor dos empregos, eu só via ali uma oportunidade para sair um pouco da rotina e ver os pecados do subúrbio da cidade de Atlanta, capital do estado da Geórgia, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos. Era lá que eu caçava bandido.
A primeira vez que eu a vi, estava sentada no parque Piedmont Park, em Midtown, com um vestido branco, que parecia brilhar feito um anjo. Seus cabelos loiros ficavam voando ao vento junto com as folhas das árvores do parque. No rosto, pouca maquiagem, não usava óculos ou qualquer coisa do tipo. E tinha a voz mais bonita que já havia escutado na vido, eu a chamava de Canário por isso.
Eu já havia visto passar pelo parque algumas vezes, correndo ou pegando frutinhas nas árvores. Aquela era a primeira vez que ela estava de vestido.
Não tinha planejado começar um diálogo que marcaria minha vida para sempre naquela tarde logo após sentar naquele banco de pedra no parque.
-"A vontade é impotente perante o que está para trás dela."

-Friedrich Nietzche?

-Na mosca, garoto

-"Para o amor, um banco de praça já basta."

-Fabrício Carpine...

-Carpinejar

-isso, isso! Cheguei perto, vai! dá um desconto...

-Tudo bem... tudo bem, você acertou! Quer o grande prémio em dinheiro ou em barras?
A jovem moça que estava ao meu lado então se ajeita no banco da praça colocando as mãos como apoio no banco e juntando as pernas, levantando os pés acima do chão. Ela parecia um pouco mais velha agora, na casa dos 30 anos, mas, ainda se parecera uma garota com um vestido branco no meio do parque.
-O tempo é uma grande vadia... já se perguntou quantas pessoas já passaram na sua vida e quantas ficaram? -Ela diz isso ainda olhando para as árvores balançando ao vento, não era um vento forte, era mais como uma brisa que ainda conseguia balançar as folhas das árvores. Eu fiquei calado, deixando que ela prosseguisse o raciocínio.
-Não acho que essas que ainda ficaram sejam pessoas boas ou que querem o seu bem sempre. -ela diz isso tão delicadamente mas não como um sussurro, dava pra ouvir claramente e ela queria que eu ouvisse tudo.
-Elas fogem pois não tem mais tempo, o tempo agora é elas mesmas. No seu próprio tempo, as pessoas aprendem a mudar, a melhorar e a escolher quem é a pessoa certa que vai te acompanhar no tempo. Já outras, acabam se acostumando com o vazio e a solidão. É por isso que venho até aqui. Gosto de sentir a brisa e ouvir os pássaros cantando. As vezes é bom sair para viver um pouco...
Ela olha pra mim, corada por ter falado tanto. Eu olho de volta.
-Desculpe... eu não devia ter falado tanto... foi só um desabafo.

-Está tudo bem! Eu entendo. Agora deixa eu adivinhar: Podcast?

-Como você sabia?? Cacete... era pra ser segredo. Ai, desculpa o palavrão. -Ela termina a frase tapando a boca com as duas mãos, se segurando para não rir, enquanto eu caio nas gargalhadas, ela solta a sua boca e se junta a mim. E, puta merda... ela tem um sorriso lindo também. Ela tem um piercing no septo, eu não curto muito piercings mas... nela estava bonito e eu não pude deixar de reparar.
Nós dois paramos de rir e fica um silêncio que envergonhou nós dois olhando para os lados opostos.
-Eu... preciso ir embora agora, tá ficando um pouco tarde e eu tenho que botar a comida pro Thor.

O Homem De GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora