10 de agosto de 2000
Sentada no chão com as pernas penduradas e apoiadas na grade de ferro do pátio interno da área das celas, Macarena observava o movimento das presas, do alto ela analisava meticulosamente o comportamento de todas, tragou o cigarro e depois bateu nele com a ponta do indicador deixando as cinzas caírem no chão do andar de baixo. A loira pôde perceber que alianças pareciam ter sido formadas, pois, viu Anabel de cochicho com um grupo de presas que antes ela não tinha aproximação, um mês fora de circulação e as coisas avançaram rápido, ela pensou. Do outro lado Goya estava abraçada com duas garotas, uma delas Macarena não reconheceu, supôs ser alguma presa novata que tinha infelizmente caído nas garras daquela mulher.
— Levanta daí — ouviu a voz atrás de si e um chute nas costas, um guarda estava de ronda e chamava atenção para que ela saísse daquela posição — levanta agora Macarena! — a loira só obedeceu no segundo chamado, levantou lentamente encarando aquele homem que ela não suportava, a lista de brigas que já teve com Valbuena era gigante.
— Prontinho chefe — os dois se encararam por alguns segundos, Macarena o chamava chefe por puro deboche, porque ele havia perdido o cargo de chefia da segurança após falhar na captura de uma detenta, o homem desejaria enforcar e jogar a mulher de onde ela estava e já ela daria tudo para cortar a garganta de Valbuena fora. A tensão violenta pairava entre dois, sem cortar o contato visual ele foi se afastando até virar de costas e seguir seu caminho.
O sinal do chamado para o horário do banho de sol se fez presente cortando o momento de raiva que começava a crescer na loira, ela pegou o maço de cigarro e o isqueiro do chão e foi em direção ao pátio externo, avistou o grupo de mulheres novamente fazendo uma festa ao som das próprias vozes e se aproximou, sentou ao lado delas apenas observando as loucuras em silêncio.
— Não te vi na cela a noite e hoje pela manhã mi ninã, acreditei que já tivessem te liberado — Sole parou de dançar e se sentou ao lado da loira.
— Infelizmente não, vou ter que dormir sozinha... não sei que merda de diferença faz eu dormir lá passando o dia fora normalmente — ela deu de ombros, puxou mais um cigarro, acendeu e o levou a boca imediatamente. Maldito vício.
— Realmente não faz, mas se você se comportar em breve podem te liberar — ela mais uma vez demonstrava preocupação com o comportamento de Macarena, a loira, porém já não prestava atenção em Sole, seu olhar estava voltado para Anabel e seu grupo do outro lado do pátio, as mesmas estavam em uma rodinha e vez ou outra olhava para Macarena.
— Anabel está aprontando alguma — a loira apontou para o grupo de mulheres — espero que não seja para mim.
— Não se mete com Anabel Maca.
— Não se ela me fizer algo, mas não posso segurar a minha vontade de arrastar a cara dela por chão, tenho sede disso e não é de hoje — a loira falava e era notável a raiva na voz dela.
Sole passou o resto da manhã no pé de Macarena pedindo para ela ficar tranquila, a senhora se apegou demais a loira e já não aguentava mais vê-la entrando em confusão e sendo levada para solitária, cada vez que isso acontecia ela saia pior.
Elas agora estavam entrando no refeitório para o almoço e conversavam distraídas. Duas mesas de onde Macarena estava era a mesa onde Anabel e seu bando ocupava, a medida que a loira andava o grupo de mulheres a encarava, chegando mais perto uma delas tentou chamar atenção dela.— Ei doida — Sole olhou apreensiva e Macarena girou a cabeça rapidamente para procurar quem estava falando com ela — achei que iriam te levar para ala das loucas! — as outras presas riam com a provocação.
— Você me chamou do que? — a loira se aproximou da mulher — repete se tiver coragem! — ela falava baixo e sua expressão era indecifrável.
— Doida!! — bastava muito pouco para acordar a fera no corpo dela. Macarena rapidamente puxou a bandeja de comida ao seu lado deixando os alimentos caíram pelo chão, inclinou o objeto horizontalmente e deu o primeiro golpe na cintura da mulher que foi pega totalmente de surpresa, em seguida com um chute no abdômen empurrou o corpo da outra detenta fazendo com que ele se chocasse com uma pilastra.
— Eu posso ser mais doida do que você imagina — ela se aproximou da mulher que se contorcia de dor pelo golpe que tomou na cintura, teria certamente atingido algum órgão. Macarena não satisfeita puxou o corpo que estava indo ao chão e o agarrou pela gola do uniforme — não se mete comigo — deu o último aviso seguido de uma joelhada na barriga da presa que foi ao chão em segundos.
As presas gritavam pela situação e rapidamente os guardas chegaram para parar a confusão e tirar Macarena dali, foi arrastada por dois homens de volta para sela, sentiu seu corpo se chocar com o chão com a brutalidade que jogaram ela e em seguida ouviu o barulho da porta pesada se fechar, ela estava morrendo de raiva, em um ataque de fúria foi até seu caderno dentro do armário e começou a riscar, queria estar passando aquele lápis com aquela força na cara de Anabel e suas comparsas, ela deveria ter se controlado mais porque estava mais que óbvio que aquilo era uma armação para tirá-la de circulação. Macarena jogou o caderno no armário novamente batendo a porta do pequeno móvel com brutalidade e se jogou na cama tentando se acalmar, após alguns minutos de respiração sentiu seu corpo relaxando gradualmente, talvez a forte chuva e o barulho das trovoadas estivessem causando efeito relaxante em seu corpo, fechou os olhos e sentiu o sono tomar conta e finalmente dormiu.
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Mais um capítulo, peço um pouco de paciência com a interação Zurena, pois preciso pensar nas conexões e contar na história para fazer sentido.
Espero que estejam gostando!
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Ponte para o encontro | ZURENA
RomanceDuas mulheres, duas linhas temporais e um destino. Após receber a sentença de um novo crime Zulema se vê condenada a viver o resto de sua vida na prisão, tudo parecia ter terminado para ela até descobrir que havia outra possibilidade.