14 de agosto de 2000
02h da madrugada
Suas passadas exigiam mais forças que seu corpo possuía, sua atenção estava focada no ponto de encontro, precisava de energia para conseguir correr e tentava puxar todo ar existente de seu corpo para isso, a respiração estava ofegante e a boca seca, precisava correr e tinha que ser mais rápido.
— MAIS RÁPIDO MACA! — ouvia a voz a sua frente e tentava obedecer colocando mais forças em seus pés, ao fundo o som dos tiros ecoavam para todos os lados, ela estava com medo, seu coração explodiria a qualquer momento. Segundos depois seu corpo foi levado ao chão, tinha certeza que sua hora havia chegado.
Com um impulso seu troco foi elevado e Macarena respirava ofegante sentada na cama, levou a mão ao peito sentindo as batidas aceleradas do seu coração, olhou a sua volta se dando conta que foi apenas um sonho, estava fugindo, correndo no terreno do lado de fora do complexo penitenciário e tinha uma mulher que estava com ela, não conseguia se lembrar do rosto, mas a voz ela certamente não esqueceria nunca mais.
Deitou-se novamente após regular a respiração, pensava agora na conversa com Palacios, tinha que pensar em como deixar aquele lugar de forma definitiva, estava cansada de fugir e não passar das imediações da prisão, temia o que estavam planejando contra ela, se fosse transferida para a ala psiquiátrica seria seu fim. Macarena tinha força, rapidez, conseguiria facilmente driblar os guardas e correr como se concorresse a uma maratona, mas não tinha ninguém para socorrê-la lá fora, onde iria se esconder? Onde conseguiria dinheiro e documentos falsos? Ela não fazia ideia e isso tornava sua tentativa de fuga praticamente impossível.
Levantou indo para o armário e pegou seu caderno e o lápis, se sentou novamente na cama arrastando seu corpo para trás e encostando na parede fria, agora com a respiração equilibrada ela se sentia mais calma, abriu uma página e girou o caderno deixando ele na horizontal, iniciou um desenho de um pé descalço com o mar ao fundo, mesmo com a luz baixa da cela ela precisava externalizar o que sentia, seu desenho representava o desejo de pisar na areia da praia, sentir aquela textura tão familiar entre seus dedos e o cheiro e a brisa do mar bagunçando seus cabelos, ela respirou fundo enquanto imaginava a cena, mas não sentiu aroma nenhum, apenas o odor repugnante daquela cela e isso a fez despertar de sua fantasia. A sensação de estar ali presa desejando uma coisa tão simples como contemplar a natureza era uma coisa devastadora. Macarena deixou escorrer uma lágrima, estava se entregando ao desespero e necessitava de uma esperança, precisava de algo que pudesse fazer com que ela soubesse que sou sonho era possível.
Preciso sair daqui. Ela anotou na lateral da página com sua assinatura.
14 de agosto de 2020
02h da madrugada
Zulema estava inquieta, seu corpo se movimentava a cada um minuto em busca de uma posição perfeita e confortável para dormir, tentou de barriga para baixo, de lado, testou a cama de cima do beliche, mas nada fazia com que seu corpo relaxasse, se sentou com as pernas cruzadas e levou a ponta dos dedos massageando as têmporas como se tentasse dissolver a eletricidade dentro de si, deu um suspiro profundo puxando todo ar que conseguiu e soprou pela boca, repetiu o movimento três vezes e deitou novamente.
— Puta merda! — sua irritação agora era audível e saia pela boca, se virou ficando de lado observando as paredes e os detalhes da cela, pensava no quão filha da puta alguém tinha que ser para ter que viver ali, sabia que se encaixava nessa cota, mas pensava em Macarena, como uma mulher daquela estava presa, vivendo naquele lugar como se representasse grande perigo a sociedade? Muitos questionamentos passava pela cabeça de Zulema e isso era o motivo de sua insônia. Em seu passeio visual seus olhos pararam no pequeno armário, levantou-se novamente deixando a cama e foi para frente do móvel, se abaixou para abrir as portas e retirou o caderno, fechou as portas e sentou ali no chão apoiando as costas no armário, cruzou as pernas e em seguida apoiou o caderno nelas — Como você entrou aqui? Onde está sua dona? — ela conversava com o objeto e depositava um olhar de curiosidade com se ele conseguisse sanar suas dúvidas.
Abriu a capa encontrando a primeira página com os rabiscos que já tinha visto antes, foleou a segunda e dessa vez para sua surpresa havia algo novo, Zulema estava paralisada sem entender, tinha uma cabeça brilhante para diversas coisas, mas aquilo conseguia tirá-la do eixo, deixava ela insegura e às vezes com medo, temia perder o juízo porque não encontrava nenhuma explicação para aquele caderno, não fazia ideia de como apareciam coisas ali que não estavam antes. Passou a ponta dos dedos sobre a assinatura de Macarena fazendo uma leve pressão borrando um pouco o traço. É real! Ela pensava.
— Preciso sair daqui — ela leu a frase em voz alta e seu peito inflou com a respiração começando a acelerar, sentia uma adrenalina começando a subir ao se dar conta da frase e da dona dela, seu medo dava lugar a uma motivação de entender como aquilo funcionava, se aquilo não estava antes e Macarena escrevia ali certamente ela estava viva e de alguma forma tudo aparecia naquele caderno. Sua boca abriu em um sorriso, se estivesse certa aquilo poderia ser o meio para entender o plano de fuga de Macarena.
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Tive um bloqueio gigante, me perdoem e não desistam de mim!!!
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Ponte para o encontro | ZURENA
RomansaDuas mulheres, duas linhas temporais e um destino. Após receber a sentença de um novo crime Zulema se vê condenada a viver o resto de sua vida na prisão, tudo parecia ter terminado para ela até descobrir que havia outra possibilidade.