Capítulo 3

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09 de agosto de 2000

As presas estavam no pátio para o banho de sol, aquele dia estava especialmente muito quente e o céu totalmente azul sem nenhuma nuvem. Um grupo ria e cantarolava músicas de duplo sentido sentadas na escada, vez ou outra uma jovem de cabelos cacheados levantava fazendo alguma palhaçada mais exagerada e era repreendida pelos guardas. O momento de descontração teve fim quando viram uma loira aparecer na entrada do local, rapidamente as atenções se voltaram para aquela figura porque todas pensaram que Macarena nunca mais sairia do isolamento. Uma senhora mais velha que estava no meio daquela algazarra acenou para a loira que deu um sorriso contido e começou a andar em direção as mulheres, no meio do percurso pediu um cigarro a uma mulher que estava parada no centro do pátio. Macarena tragou o cigarro sentindo o cheiro e a presença da nicotina de volta a seu corpo, soprou a fumaça lentamente, estava morrendo de saudades daquilo. Seguiu seu caminho a passos curtos e sentia os olhares sobre si, sabia que a presença dela chamava atenção, mas ela não se importava.

— Mi niña, pensei que não te deixariam mais sair do buraco — Sole a mulher mais velha tinha um carinho imenso pela loira, a tinha como uma filha. Foi o primeiro contato de Macarena quando ingressou em Cruz do Norte, Sole conheceu todas as versões dela, desde a jovem inocente e inexperiente com a prisão, até a essa versão atual, uma mulher implacável que buscava sua liberdade a todo momento. Macarena se permitiu sentir os braços da senhora em volta do seu corpo, era a única que tinha permissão e intimidade para ter um contato mais caloroso com a loira. As outras mulheres do grupo apenas a cumprimentaram de longe, não que tinham medo, eram de certa forma as pessoas que Macarena não machucaria, mas não sabiam que versão dela estava presente naquele momento.

Macarena foi presa por um crime que não cometeu, caiu na lábia de um homem e o ajudou inocentemente a roubar uma grande quantia de dinheiro da empresa que trabalhavam, ele fugiu com o dinheiro deixando os registros de entrada e saída das movimentações das contas que estavam no nome da loira e a culpa caiu toda em cima dela. Os primeiros meses na prisão foram difíceis, virou um fantoche na mão das presas mais experientes, mas toda humilhação toda foi se transformando em raiva e determinação. Macarena ingressou no clube de boxe e assim descobriu ser uma ótima lutadora e era onde ela liberava a raiva, onde aprendeu a se defender e a começar a trabalhar a mente para se livrar de situações de perigo na prisão. A partir disso foi um pulo para tomar conta de tudo, de medrosa passou a ser temida, todas as presas tinham um respeito por ela que beirava a medo. Macarena não ameaçava matar, mas um golpe daquela loira facilmente deslocava um maxilar e ninguém queria descobrir o que poderia vir depois desse nível de agressão, ela era uma bomba relógio, suas tentativas de fugas sempre eram as mais inusitadas e em momentos aleatórios, se sentisse vontade, era poderia sair correndo pelo complexo penitenciário em direção a saída sem o menor problema. Alguns carcereiros não a levavam a sério, pensavam que ela tinha algum distúrbio mental ou algo do tipo, mas Macarena apenas era impulsiva, tinha sede de deixar aquele lugar e viver em liberdade.

— Fui uma boa garota Sole — a loira sentou no degrau mais alto dando atenção ao cigarro em suas mãos, tragou mais uma vez e inclinou a cabeça para cima sentindo o calor do sol na sua pele, soprou a fumaça baixando a cabeça e olhou para as presas que formavam quase um semicírculo em sua volta — eles acham que sou doida... talvez eu seja, mas quem se importa!

— Para onde te levaram Maca? — a jovem de cabelos cacheados perguntou sentando ao lado da loira. Rizos tinha uma paixonite por ela, sabia que nunca seria recíproco, pois Macarena não se permitia criar laços afetivos com ninguém.

— Uma cela especial — Macarena suspirou lembrando do ambiente onde passou um mês inteiro trancada — mais parece um cofre, fica distante das celas comuns. Disseram que eu não poderia ter contato com ninguém.

— Querem te enlouquecer Maca, toma cuidado — Sole se preocupava com ela, temia uma morte da mulher em uma dessas fugas.

— Não vão conseguir, antes disso estarei bem longe daqui...

— Não vão conseguir, antes disso estarei bem longe daqui

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Conheçam a Maca, como vocês podem ver serão 2 linhas temporais, no decorrer da história irão surgir as conexões entre os dois tempos e a relação Zurena.

Espero que gostem e até o próximo!

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