Cera vermelha

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Essa história é uma continuação de "Namoradas, apenas"

 Penélope sempre se imaginou andando pelas calçadas de Nova Iorque, com um sobretudo poderoso, um café em mãos e talvez uma pasta ou folhas soltas, ela estaria atrasada, por charme. Pararia para admirar as grandes construções e a quantidade de pessoas a sua volta, cada uma com seu objetivo do dia, tão distantes mas tão próximas ao mesmo tempo.

 Isso era possível?

 Ela havia concluído quase tudo com êxito, quase, porque quando sua mente sonhava tão longe não considerava outros fatores, os que a levaram até aquele lugar e as reviravoltas do traiçoeiro destino. Park passava todos os dias por aquela rua, mas nunca parou para admirar os prédios, tampouco os grandes outdoors, não pensou em momento nenhum nas pessoas que a cercavam.

 Seriam conhecidas?

 Será que elas se viam todos os dias?

 Em determinados momentos elas dividiam espaço e tempo, mas mesmo assim, não se preocupavam em saber nomes, por Deus, não se preocupavam em gravar rostos. Aquela era Nova Iorque, podia ser sim, o ninho de seus sonhos, prestes a serem realizados como em um filme da Disney, mas aquela também era uma cidade grande, que pisava e destroçava esperanças porque não existe espaço para todo mundo.

 Penélope se considerava um meio termo, seu pai ajudou no processo e muito de seus planos eram tão reais e sólidos quanto o concreto abaixo de seus pés, mas em compensação, alguns de seus sonhos haviam sido afogados com frieza em um rio de realidade para nunca mais voltarem a superfície. Mas aquela era Nova Iorque.

 A grande Nova Iorque.

 Com seu ar poluído, seus cartazes chamativos, seus táxis amarelos que enchiam a avenida, com as pessoas dos mais diferentes tipos, bastava olhar em volta, um empresário engravatado que corria porque estava atrasado(provavelmente) e ao lado dele, uma menina de cabelos coloridos, ela parecia tão calma com a vida que chegava a ser irônico os dois estarem lado a lado.

 Talvez fosse.

 Penélope estava pensativa naquele dia, sentiu-se boba por cogitar tais ideais filosóficos, como se tivesse propriedade, já havia frequentado algumas palestras interessantes sobre psicologia mas talvez, inconscientemente, não eram tanto para esse sentido. Ignorou e continuou rumando, suas costas ardiam e ela podia sentir as bolhas recém formadas em seus pés.

 Os saltos faziam um barulho característico ao bater no concreto, a morena dos olhos verdes estava mais cansada que o normal, nada que um banho quente e uma taça de vinho(ou uma dose de uísque) não resolveriam, ela teria uma boa noite de sono apenas para repetir a dose no outro dia, uma rotina, sem escapatória, como uma engrenagem em um relógio.

 Passou rapidamente pelo porteiro, acenando a cabeça para cumprimentá-lo, não se lembrava do nome de qualquer forma. Clicou com força nos botões do elevador, como se isso o fizesse chegar mais rápido, abaixou a cabeça ao entrar porque o vizinho do apartamento de baixo estava lá. Um jovem adulto, loiro(falso), pele clara, olhos castanhos, suado pelo exercício físico que era facilmente notado pela definição de seus músculos.

 Apertou-se quando a velhinha do quinto andar entrou, ela tinha os cabelos brancos como a neve, estava sempre sorrindo e sabia o nome de todo mundo, estava segurando uma sacola ecológica então Park imaginou que estivesse indo para o mercado. A morena de olhos verdes encarou os andares passando no visor, por Deus, como demorava, algo naquele dia estava errado, tudo parecia acontecer tão devagar e ser tão difícil, ela só queria sua casa, tão complicado assim?

 O vizinho acenou um tchau e saiu quando o elevador parou em seu andar, Penélope deu aleluia, balançou a cabeça se despedindo da velhinha e saiu a primeira indicação do elevador de estar em seu andar. Sacou seu molho de chaves com pressa e procurou pelo chaveiro amarelo, não tardou para encontrá-lo.

Conhecidas, apenas - Posie -Onde histórias criam vida. Descubra agora