Conhecidas, apenas - Posie -

A lua e a terra

 Penélope coçou os olhos sentindo o cansaço, havia ido dormir muito tarde na noite passada e os anos estavam começando a pesar, não era mais como na faculdade, uma hora de sono e muito café não a deixavam acordada com tanta facilidade. Praguejou. Enviou uma mensagem para Aiden, um café preto sem açúcar.

 Não tinha visto o estagiário ainda, o que era um pouco estranho, a apresentação com os representantes da Nova Zelândia havia sido um sucesso, tudo bem que foram 3 refações de portfólio mas no geral, o homem pareceu muito interessado, Penélope estava aguardando ansiosamente pelo convite para abrir uma filial lá.

 Seu pai ficaria orgulhoso, não que isso fizesse muita diferença, ou até fazia, no fundo, por mais que negasse e relutasse, todos nós buscamos por aprovação e aceitação, então, Park cogitou, comparecer ao jantar, talvez seu pai tivesse mudado. Difícil. Riu do próprio pensamento, seu plano era ligar algumas horas antes, avisar que ficou presa no trabalho(a única desculpa que faria Tom ficar quieto) e então poderia falar para Mia que seu pai desmarcou.

 Não que ela fosse acreditar mas era ao menos uma desculpa, Mia tinha uma mania e um jeito de fazer as coisas que quer darem certo, uma mistura de insistência e sedução, o que era um pouco irritante, Penélope tinha que confessar, mas as coisas eram bem simples entre elas, o que era relaxante e confortável.

- Sra. Park?- Batidas na porta a interromperam, ela estranhou, Aiden deveria avisar das visitas.

- Pode entrar- Deixou a papelada chata de lado e pensou em tirar uma folga pelo resto do dia- Mark- Balançou a cabeça enquanto o homem entrava.

- Desculpa o incômodo, Sra. Park- Ele quase não passava pelas portas, apesar da altura, não era tão forte, tinha um sorriso meigo e tentava esconder a calvície penteando o cabelo para frente(não dava certo).

- Tudo bem, Mark- Acenou- Algum problema?- Seus ombros ficaram tensos.

- Dos grandes- Lembrou-se do momento que perdeu o jó-ken-pô e teve que ir contar para a chefe, maldita sorte.

- O que aconteceu?- Cerrou os punhos e trancou o maxilar.

 Sua mente sabia que o problema estava por vir, enquanto observava as palavras saírem da boca de Mark e seu coração descompassar de nervoso, deixou que sua mente voltasse, porque era o que ela queria a muito tempo e Park já sabia o que fazer.

 Penélope respirou fundo, ajeitou o avental e foi para fora antes que seu chefe brigasse pelas horas de folga. Chegou no balcão, o movimento estava bem baixo, o que era ótimo, olhou o relógio, ainda tinha algumas horas antes de sua próxima folga e muitas horas até seu horário de saída, o que não era tão ótimo.

 Passou a toalha na máquina de expresso e observou o movimento aumentar, não muito, é claro, repousou o pedaço de pano no ombro. A cafeteria tinha um tema conceitual com algumas peças de corrida, os sofás um pouco desgastados, os desenhos nas paredes... Até as xícaras cuidadosamente inseridas naquele contexto.

- Um café com creme, por favor- Penélope estranhou a voz mas continuou como se fosse coisa da sua cabeça.

- Algo mais?- Quando levantou a cabeça, pode ver. Josie. Josette Saltzman, em carne e osso.

- Uma conversa?- Piscou algumas vezes.

- O que você está fazendo aqui?- Elas não se viam há um bom tempo, depois do incidente Penélope resolveu dar um tempo das duas, desligou todas as vezes que recebeu chamadas e chorou em silêncio pois o que mais queria fazer era atendê-las.

 Quando bebia mantia-se longe ou ocupada o suficiente para não sentir saudade, e se sentisse, teria alguém para estar no lugar de Josie, não tinha sido fácil, mas com o tempo, melhorou. Melhorou? É... Claro... Pode-se dizer que sim, agora, com ela ali na frente, Penélope já não tinha tanta certeza.