PARTE NOVE - O PREÇO DA CONFIANÇA

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Black Water Lilies - Aurora

Monge Choroso
Desde que Nimue partiu em busca das armas Esquilo e eu treinamos todos os dias. Caminhamos pela floresta para buscar de alimentos e para ensiná-lo tudo o que sei sobre sobreviver sozinho. Ele tem sido bastante atencioso e mostra um desejo crescente em aprender cada vez mais.

Nunca em toda minha vida me diverti tanto. Esquilo me faz rir constantemente, seja com suas travessuras, seja com seus comentários. E apesar de tudo não deixa de lado seu propósito, levando a sério cada lição.

Quando era pequeno também gostava de lutas e aprender todo tipo de coisa, mas meus ânimos se desfaziam em tensão pois sabia que caso falhasse haveriam punições. Escolhi fazer diferente com Esquilo, não acho que puni-lo seja a resposta. Ele é dedicado e faz tudo por gosto sendo assim não preciso negociar com ele.

_ Nunca deixe seu adversário se aproximar o suficiente para fazê-lo perder o controle da situação. Se não conseguir ver o que te ataca provavelmente morrerá. _ Esquilo equilibra a espada forjada em madeira em suas mãos cem porcento concentrado.

_ E se houver mais de um?

_ Não os deixe aproximar o suficiente para pegá-lo de surpresa. Faça com que venham um por vez e se não houver como precisará prever seus golpes para saber quem o atacará primeiro. _ ele abaixa a espada confuso.

_ Mas como farei isso?!

_ Toda luta, mesmo que não seja justa, é como dança. Você só precisa compreender o ritmo de cada um. Com bastante prática vai saber acompanhar o ritmo de seus adversários e assim saberá exatamente o que ele fará em seguida. _ ele assente. _ Vamos. Me mostre do que é capaz. _ ele corre em minha direção empunhando a espada novamente.

Esquilo tenta desferir golpes como um ninja, cortando o ar a cada passo. Desvio de cada golpe trocando vez ou outra de direção fazendo-o ficar tonto. Ele tropeça em um galho caindo sentado numa pilha de folhas. 

_ Isso vai ter volta! _ Ele resmunga me fazendo rir. Estendo a mão para ajudá-lo e ele aceita.

_ Comece novamente. Tente se concentrar em meu ritmo e não só em me atingir. _ ele respira fundo e se coloca novamente em posição. _ Está pronto?

Esquilo assente e vem para cima de mim novamente mas ao invés de desferir golpes ao vento como antes ele vem só até metade do caminho fazendo com que eu me aproxime dele desta vez. Insinuo uma sequência de dois golpes pela esquerda me afasto e o ataco pela direita. Da primeira vez ele apenas se esquiva e assim que a sequência se repete ele decide que é hora de atacar. Ele usa seu tamanho como vantagem para tornar difícil prever seus movimentos.

Ele é rápido e sabe disso, não só sabe como também usa isso à seu favor. Ele foge do meu campo de visão tentando me atacar pelas costas mas assim que se aproxima deixo que pise em minha capa puxando-a o fazendo cair novamente.

_ Então é por isso que não tira a maldita capa?! _ não consigo deixar de rir do menino.

_ Quando se trata de sobrevivência, nenhuma luta é justa. Isso não é um duelo, é vida ou morte. As vezes terá de usar elementos surpresa. _ ele faz que sim concordando. _ Quer descansar por um momento?

_ Não. Vamos tentar de novo. _ ele se levanta sozinho se colocando em posição novamente.

Tenho de admitir, Esquilo é teimoso mas extremamente determinado.

***

Nimue
Pensando bastante em minhas novas opções, com meus poderes poderia proteger Esquilo sozinha. Mesmo que presos ao lago não precisaríamos do Monge Choroso por muito mais tempo. Meus planos agora são aprender a lutar e assim que houver a oportunidade me livrar dele, mesmo que para isso tenha de matá-lo.

Não sei se algum dia poderia confiar completamente nele e agora com a Excalibur é questão de tempo para que isso saia de controle. A pouco mais de uma semana ele era um inimigo, um assassino impassível e mesmo que eu queira ceder a doce mentira de que possa haver bondade nele, meus sentimentos tendem a descrença.

Voltei ao local onde havíamos matado os homens da Trindade e seus corpos e armas ainda estavam lá como o esperado. Peguei tudo o que precisava, espadas, adagas, tudo para não precisar mais voltar.

Começara a escurecer, montei novamente no cavalo e comecei meu caminho de volta à vila.

***

Há poucos metros da vila consigo ouvir o som de risadas. Ainda é bem cedo e o sol ilumina todo o ambiente. 

O Monge e Esquilo correm em círculos empunhando espadas feitas de madeira. _ Você nunca me pegará! Sou rápido como uma raposa! _ diz Esquilo correndo na direção da cabana.

O Monge corre atrás de Esquilo com um sorriso largo no rosto até que me vê. Ele parecia literalmente outra pessoa. _ Você voltou rápido. _ ele diz com seriedade voltando ao ‘normal’. _ Como foi a viagem? _ Esquilo corre até mim me abraçando.

_ Bem. Não tive problema algum no caminho e os homens estavam exatamente no mesmo lugar. _ ele assente e continua em silêncio. _ Vocês estão treinando a muito tempo?

_ Não muito.

_ Eu estou! E estou com fome! _ diz Esquilo entrando na cabana. _ Correr sempre me deixa com fome!

_ Podemos resolver isso. _ digo sorrindo para o menino. _ Posso sair para buscar comida.

_ Eu consigo fazer sozinho! _ diz Esquilo empolgado.

_ Nem pensar! De jeito algum vou deixar sair sozinho.

_ Por favor! _ Ele pede novamente.

_ Acho que ele consegue. _ Lancelot lança um olhar presunçoso me deixando praticamente sem reação então retruco com descrença. A intimidade dos dois me consome.

_ Viu! Eu consigo! _ Esquilo se anima com a possibilidade.

_ Tudo bem. _ digo soltando o ar dos meus pulmões, me dou por rendida e o Monge comemora junto a Esquilo. _ Mas tem que me prometer que se encontrar algo estranho ou sentir que não está seguro vai voltar direto para cá! Sem bisbilhotar, sem correr atrás do perigo. Direto para casa!

_ Tudo bem! Eu volto logo! _ Ele sai rumo a floresta sem olhar para traz.

_ Você está estragando ele. _ digo a Lancelot.

_ Ele tem que aprender a se virar. Logo não será mais uma criança e nada o protegerá para sempre. _ me calo por um instante pensativa.

_ Vocês estão de tornando bem próximos.

_ Isso é um problema? _ ele questiona não em um tom ameaçador ou arrogante mas com certa inocência.

_ Não! Só... Não o magoe. Ele já perdeu muito.

_ Eu jamais faria isso. _ ele parece sincero. Droga! Ele me põe em uma posição de dúvida. O caminho todo para cá só conseguia pensar em como deveria me livrar dele e quando chego praticamente ouço com clareza Merlin dizendo a mim sobre fazer o mal acreditando em estar fazendo o bem.

Fecho meus olhos pensando por um instante. Talvez ele realmente mereça uma segunda chance.

_ Ainda conquistarei sua confiança, Nimue. Mesmo que leve bastante tempo, estou disposto a mostrar a você que não sou mais um assassino. _ Ele sai da cabana me deixando sozinha.

Isto é o que veremos.



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CURSED - NIMULOTOnde histórias criam vida. Descubra agora