PARTE QUINZE - A AMARGA VERDADE VINDA DE SEUS DOCES LÁBIOS

621 76 185
                                    

The Other Side – Ruelle

Monge Choroso
Quando tomei a iniciativa de beijar Nimue não sabia ao certo se ela recuaria. Fiquei contente pois ela retribuiu mas ainda sim sentia que havia algo de errado.

_ Está tudo bem? _ ela continuara em meus braços com sua cabeça escorada em meu corpo e assim que a pergunto ela se afasta com um olhar atordoado e volta a chorar. _ Nimue, seja o que for que tenha a me dizer, pode me dizer. Eu confio em você e você sabe que pode confiar em mim.

_ Não você não entende! Eu não posso, porque quando eu disser não sei se será capaz de me perdoar e não quero perder você também.

_ Você mais que qualquer outro sabe todas as coisas ruins que já fiz. Se você foi capaz de me perdoar porque não a perdoaria?

_ Porque o que fiz é pessoal. _ seus olhos cheios de lágrimas transbordavam deixando seu delicado rosto molhado e avermelhado. A esse ponto já imaginava o que poderia ser mas precisava ouvir de seus lábios.

_ Conte-me, Nimue. Por favor. _ com seu rosto em minhas mãos seco suas lágrimas com meus polegares. Ela que tentava a todo custo evitar me olhar nos olhos agora me encarava com medo e tristeza.

_ Eu o matei. Eu matei Padre Carden. _ as palavras amargas saídas dos doces lábios de Nimue me atingiram como uma flecha em chamas. Eu não sou um tolo de achar que ela havia o feito por gosto, tão pouco de pensar que o velho me considerava seu filho, mas ainda sim era doloroso.

A sensação de ser rasgado por dentro se arrastava em meu âmago como um veneno letal. Ainda tinha esperanças de que ele estivesse vivo. Se há em algum lugar redenção para mim teria de haver para ele também. Mas era tarde demais.

Nimue é meu povo. Ela me compreende como nenhum da igreja me compreendia e foi a única pessoa que conheci que não tratou minhas marcas e cicatrizes como abominações. Ela me incentivava e me permitia ser melhor que tudo aquilo, melhor para ela e melhor para Esquilo. Mas suas mãos estão sujas do sangue daquele que era o mais próximo de família que já tive e isso era confuso e difícil de lidar.
Poderia ter sido qualquer um. Mas Nimue o fez.

_ Lancelot... _ Nimue chama minha atenção. Permanecia no mesmo lugar embora minha mente não estivesse presente por um instante. _ Me perdoe... Eu não sabia... Como poderia saber? _ ela estava em prantos provavelmente aterrorizada, não consigo imaginar o que se passava em sua mente.

Eu não quero dizer nada. Eu nem quero sentir o que estou sentindo, é demais para mim. Eu apenas a abraço para que ela se acalme, ela resiste por um momento mas logo me abraça com a mesma intensidade. Com o tempo ela se acalma mas permanecemos abraçados pois agora era um ato de luto, era eu quem precisava de contato.

Sinto um nó crescente em minha garganta como um grito silencioso. Um desespero por não haver nada que possa fazer nem por ele nem por mim mesmo. Não me sentia triste, me sentia angustiado. Ele não foi uma boa pessoa nem para mim nem para ninguém em grande parte do tempo. Só Deus sabe como já quis matá-lo com minhas próprias mãos, mas saber de sua morte me deixou vazio. Quebrado.

Quando nosso abraço é desfeito ela me observa buscando sinais de quaisquer que fossem meus sentimentos. Afasto seus cabelos de seu rosto na intenção de poder vê-lo por completo. Ela é tão doce, tão linda. Amá-la é muito mais fácil e bem menos doloroso que amar Padre Carden. Talvez o amor não tenha de ser tão difícil.

***
Nimue
Finalmente havia contado a Lancelot o que fiz e tirado todo esse peso dos meus ombros. Mas agora tudo mudou. Podia ver em seu rosto que algo havia se partido dentro de si e isso nunca voltaria ao normal.

Era cedo demais para saber se o perdi e talvez seja apenas o luto mas Lancelot permanecia silencioso, tão silencioso quanto quando nos conhecemos. Ele não foi rude ou tentara nada contra mim. Nem mesmo desfez nosso abraço mas parecia não estar mais ali. Não era mais ele.

Eu não queria deixá-lo sozinho mas também não sabia se ele gostaria da minha companhia. Eu não tinha nem ideia do que fazer. Começo a me questionar se fiz a coisa certa.

Nós voltamos para a cabana e encontramos Esquilo dormindo com seu arco em mãos e várias lascas de madeira ao seu redor, em suas roupas e até em seu cabelo. Ele passou a tarde toda nisso deveria estar cansado.

Eu o acordei para que deitasse em sua cama ao invés de permanecer ali escorado na pequena cadeira e antes que pudesse perceber Lancelot havia sumido.

Eu o quebrei. Céus, sempre faço tudo errado.

***
Monge Choroso
A sensação de angústia não passava. Ela apenas me consumia mais e mais. Precisava tirá-la de mim de alguma forma ou enlouqueceria. Adentrando a floresta com minha espada em mãos corto galhos de árvores baixas com toda a força que possuo. Repito até que perder meu fôlego extravasando toda a raiva. A sensação breve de alívio se transforma em tristeza e derrota me deixando cair de joelhos sobre a terra macia.

Apenas permito que meus olhos transbordem em lágrimas. _ Maldito! Você nunca foi um bom pai! Todos aqueles anos! Todas as coisas que me fez fazer... Todas as vezes que me viu sangrar e não fez nada! _ enxugo minhas lágrimas tentado fazê-las parar em vão. _ Eu te amava... _ sussurro quase que para mim mesmo.

Permaneço na floresta por mais algum tempo até que me sinto um pouco melhor. Me sentia vazio, me sentia um tolo por procurar meios de fazê-lo ver que estava errado.

'_ Eu não vou conseguir, Padre! _ já era décima flecha que disparava e nenhuma acertará o alvo. Meus braços queimavam e minhas mãos já calejadas estavam doloridas.

_ Não seja bobo. A perfeição leva tempo e dedicação. Tempo você tem, você tem dedicação?

_ Sim senhor. _ digo empunhando um arco que tem praticamente o meu tamanho. Respiro fundo fechando meus olhos por um segundo. Me posiciono novamente firmando meus pés e abrindo o arco. Me concentro no alvo deixando todos os sons ao meu redor se tornarem distantes.

Lanço a flecha confiante e quando ela atinge o alvo a sensação é de orgulho e alívio.'

_ Viu garoto! Você pode fazer o que quiser quando se dedica o bastante para conseguir! _ Padre Carden se aproxima me abraçando contente.

Ele não foi sempre um monstro como também não sou. O que me restara era apenas rezar por sua alma e desejar que algo nele tenha sido bom o suficiente para salvá-lo do inferno.


Então meus amigos Feéricos ontem (como na maioria das vezes) não postei capítulos por motivos de me sentir um lixo, insuficiente e insuportável por causa da minha ansiedade então me perdoem... Agora tá tudo bem e segue o baile kkkk

Obrigada pela leitura! Vote, comente (adoraria saber o que achou sobre o conteúdo!) indique para seus amigos Feéricos! Beijos da WayWay
SEE YOU SOON 💕

CURSED - NIMULOTOnde histórias criam vida. Descubra agora