PARTE DOZE - OLHAR DIFERENTE

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Awakening – Aurora

Nimue
Os homens da Trindade haviam nos encontrado.

Não havia outra opção que não deixar a vila em que estávamos e buscar abrigo em outro lugar o mais distante possível.

A Excalibur me permitia permanecer viva a maiores distâncias do lago, eu acredito. Não estava de fato livre do lago mas poderíamos morar em uma floresta próxima, por exemplo.

Tive de contar ao Monge a respeito da espada e da profecia. Ele foi compreensivo quanto a isso levando em conta que o mesmo não sabia se confiava em mim ou não e já era de se esperar reciprocidade nesta categoria. Ele me aconselhou a permanecer com a espada ao alcance de minhas mãos pois seria um desperdício não usá-la se ela nos traria uma segurança a mais e escondê-la não a faria mais protegida que em minhas mãos.

Algo que me colocara em conflito era o recente comportamento do Monge comigo. Estava muito mais... Acessível. Nosso primeiro dia de viajem e ele estava bem mais falante fora seus olhares sobre mim que eram completamente diferentes desde o ataque na vila. Hora ou outra o pegava me observando, era como se ele desejasse profundamente saber o que se passava em minha mente.

Ele parecia de certa forma muito mais sentimental. E essa era uma versão dele que presenciei apenas observando-o com Esquilo e isso caso ele não me notasse lá, porque se soubesse que o observava ele se fazia indiferente novamente.

Nós não estávamos tão tristes assim com a perda de nosso lar temporário, estávamos de certa forma confiantes. Nós sabíamos que vez ou outra lutaríamos os contra homens da Trindade e até mesmo Paladinos, mas tínhamos vantagens. Depois de discutirmos nossas opções apenas juntamos nossos pertences e o que se fez necessário e seguimos caminho.

_ Vocês estão estranhos. _ diz Esquilo sobre o cavalo. O Monge caminhava ao meu lado próximo como nunca antes esteve.

_ Como assim? _ pergunto a Esquilo.

_ Estão andando tão juntos. Eca! Não vão me dizer que estão apaixonados?! _ Ele diz fazendo careta e o Monge e eu estávamos visivelmente constrangidos.

_ Não diga bobagens, Esquilo! _ o repreendo.

_ Ainda bem! Eca! _ Ele fica em silêncio por um instante mas logo volta com seus questionamentos. _ Para onde vamos agora?

_ Há algumas vilas pela frente mas não acho que deveríamos nos abrigar tão próximos da vila antiga. É arriscado demais. _ Lancelot se pronuncia depois de tanto tempo. _ Existe uma porção do lago que passa por uma vila mais afastada, não seria o primeiro lugar em que procurariam, mas ainda sim seria apenas questão de tempo até sermos descobertos.

_ Bom, nenhum lugar é completamente seguro aqui. Ficaremos por lá o necessário e quando nos encontrarem mudamos de lugar. _ digo.

_ Como ciganos? _ Esquilo pergunta empolgado.

_ Sim. Como ciganos.

_ Sempre quis ser como os ciganos! Sair por aí, conhecer todos os lugares! Vai ser incrível! _ o menino se alegra com a possibilidade.

***

Monge Choroso
Os dias se passaram rapidamente desde que saímos da Vila. Nós seguimos caminho para um novo lar provisório que nos mantivesse seguros por algumas semanas, se tivermos sorte por meses.

Diferente de quando Nimue e eu nos conhecemos, nós que nos atraíamos e nos repelíamos com mesma intensidade, agora nos aproximávamos gradativamente. Não discutimos desde então, apenas fizemos um acordo silencioso de não invadirmos o espaço um do outro.

Mas sentia que precisava de mais. Mais confiança, mais conversas. Saber mais um do outro.

Eu desejava saber mais sobre ela. Saber o que a fez ser quem ela é, e gostaria de contar a ela o que, ou melhor quem me fez ser quem eu sou para que ela soubesse o porque fiz o que fiz. Ela precisava saber.

Nós nos encontrávamos a poucos dias do nosso destino. Buscamos abrigo em meio algumas árvores. A noite estava clara, acendemos uma fogueira e Esquilo já havia dormido enrolado em minha capa como um filhotinho todo encolhido.

A imagem do menino dormindo aninhado escorado em uma árvore me trazia uma certa paz. Imagino se algum dia Padre Carden olhou para mim desta mesma forma. Um olhar paternal, me enxergar como apenas a criança que eu era e não como a aberração que dizia ser.

_ Está pensativo. _ Nimue quebra o silêncio me tirando de meus devaneios. Ela estava a minha frente sentada no chão, nós dois estávamos.

_ Não é nada demais. _ respondo a Nimue.

_ Porque mudou de ideia? À dias vem sendo legal comigo. Por que?

_ Só acho que não é de muita ajuda permanecermos em guerra. _ eu menti.

_ Sinto que há algo à mais. _ Ela diz e por um instante seus olhos brilham como os de um felino, olhando dentro dos meus. Permaneço em silêncio seduzido por esse olhar. _ Você confia em mim? _ ela passa a língua na parte de baixo de seus lábios e isso é extremamente hipnotizante. Seus lábios agora húmidos tomavam toda minha atenção.

_ Até então não me deu motivos para que não confie. _ assim que respondo seu semblante muda ficando ainda mais iluminado. _ Você confia em mim? _ devolvo a pergunta e o olhar em mesma intensidade, Nimue assente sem desviar o olhar.

_ Tem algo que preciso te contar... _ quando faz menção em dizer Esquilo acorda chamando a atenção de nós dois. Ele não permanece acordado só muda de posição e volta a dormir.

_ O que queria me dizer? _ chamo sua atenção novamente e ela desvia seu olhar envergonhada.

_ Esqueça. É bobagem. Já é tarde, deveria dormir.

_ Nimue...

_ Não é nada. _ Ela se levanta me deixando sozinho e caminhando até Esquilo se sentando ao seu lado.

Estava tão confuso. O que isso significava? O que ela pretendia  me dizer? E mais importante, o que todos esses sentimentos que presenciei significavam?


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CURSED - NIMULOTOnde histórias criam vida. Descubra agora