"Que merda você está fazendo?!"; pelo menos foi isso que eu tentei dizer, porém, sem meus aparelhos auditivos, podia ter certeza de que qualquer coisa havia saído da minha boca, menos aquilo.
Marco começou a gritar comigo, mas eu só podia ouvir um grande zunido abafado, pior que isso, era como se alguém estivesse batendo num microfone e eu estivesse com o ouvido colado à ele. Não é uma experiência agradável, posso lhes assegurar disso.
Aborrecida, eu o empurrei de cima de mim e grunhi, procurando pelos pequenos apetrechos que me ajudavam a escutar para que eu pudesse reclamar o quanto eu quisesse, mas não conseguia achar em lugar nenhum, o que apenas me irritou mais.
Enquanto eu me continha para não ter um ataque de nervos e dizer um monte de coisas incompreensíveis à ele, Marco interrompeu minha busca, puxando minha mão com certa brutalidade e colocou algo nela, eu já sabia o que era, devia estar agradecida, mas definitivamente não estava.
"U qui você stava pensano?", parecia furioso.
"'U qui eu stava pensano?'U qui você stava pensano?!", exclamei igualmente brava. "Naum sabi u qui é espaço pessual?!", questionei.
"Você stava com a vainha apontáda pá sua cabeça depois di um dia péssimu, queria qui eu pensasse em spaçu pessual?!", ele indagou e eu me calei, baixando o olhar.
"Você achou que eu...", tentei dizer através da linguagem de sinais, mas me perdi, pensando nessa possibilidade. "Eu não...", mordi os lábios, voltando ao passado.
Fechei os olhos com força, levando a mão ao chão e segurando a varinha, pressionando seu cabo com força enquanto tentava reprimir as memórias.
"Intaum...", Marco disse baixo, perto de mim, me tirando de meu transe e fazendo com que eu levantasse o olhar para ele. "O qui ocê preendia...?", murmurou, arrancando de mim um suspiro.
Ao invés de responder, me levantei, buscando pelo livro de feitiços que estava embaixo da minha cama. Eu abri em algum capítulo aleatório e ele saiu de lá.
"Sim, Star?", sua voz ressoou em minha mente.
Pedi, em linguagem de sinais, para que abrisse em determinado capítulo e, enquanto o livro folheava-se sozinho, decidi explicar resumidamente para o Marco o que eu estava fazendo e porque.
"Eu sei que parece... esquisito.", comecei me justificando. "Não sei bem o porque, mas eu mesma acho... um ato meio desesperado.", admiti, logo reparando que as páginas haviam parado de passar, então peguei a varinha e coloquei as pontas dos dedos da mão direita sobre o cristal de estrela, fechando os olhos e respirando fundo. "Inter-pres braille transformatio.", murmurei, logo sentindo a ponta dos meus dedos formigar e sorrindo com a sensação, adorava quando dava certo.
Marco apenas continuou me encarando com confusão e curiosidade, se aproximando um pouco para observar tudo com um pouco mais de cuidado enquanto eu passeava com meus dedos pela página delicadamente.
"Você... conségui lê?", perguntou curioso e, como resposta, eu apenas sorri.
"Uma pegunta di cada veiz, Díaz.", respondi baixo. "Esse... é Re-giis So-lum La-cri-má-e", li com dificuldade.
"'Afastá cêtimetos de solidaum pa qui océ possa tabái'a?", leu em voz alta, agora um tanto perplexo, me encarando enquanto eu sentia meu rosto quente.
"E... esse...", procurei o segundo na página ao lado. "Fi-dúciam Spé-cu-lô.". completei, ainda mais envergonhada que antes.
"Dará à ocê múita cófiãça? Star, pá que ocê preisa disso?!", perguntou admirado, mas não de um jeito positivo e, sem uma boa resposta, apenas desviei o olhar, coçando meu braço, totalmente desconcertada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Beauty Inside
RomanceStar Butterfly é uma princesa de outra dimensão que nasceu herdeira do reino e da varinha mágica de sua família, mas também com duas deficiências. Sendo a primeira herdeira parcialmente cega e quase que completamente surda, ela terá que provar para...