Eu estava no meu quarto fazendo uma pesquisa sobre cego-surdos, como nossa futura inquilina, a fim de saber como me comunicar com pessoas como ela. Pensava que teria mais tempo pra isso... Mas estava enganado.
Mesmo com a porta fechada, pude ouvir a campainha tocar e meus pais se espantarem; minha mãe ficava dizendo para o meu pai arrumar a sala rápido enquanto ia até a porta. Eu comecei a prestar mais atenção no que estava acontecendo ali, até que tudo ficou silencioso por um instante e pude ouvir a única mulher da casa respirar fundo.
"Star! Seja bem vinda, querida!", minha mãe exclamou ao abrir a porta e eu me contive para não me estapear. Ela é surda, mãe, não pode te ouvir!
Curioso e um tanto preocupado com a situação crítica do momento em que vivíamos, andei na ponta dos pés até as escadas para observar tudo sem ser observado, apenas com uma pequena parte da cabeça visível para quem olhasse escada acima; ou seja, somente o necessário.
A garota nova, embora muito diferente, parecia também... Bem normal. Loira dos cabelos longos, bem longos, até os joelhos, lisos e bem cuidados como os de uma princesa; seus olhos eram azuis, mas pareciam ainda mais claros por terem como centro pupilas tão claras que pareciam transparentes e, ainda sim, carregavam um toque delicado e charmoso só que... meio a tudo isso, acho que o que realmente se destacava por não se encaixar na imagem que a garota passava, eram os corações em suas bochechas, finos e rosados como numa carta de copas. A questão era: Por que ela tinha aquilo ali?
Tempo demais observando, fiquei cada vez mais confuso e acabei por me descuidar, colocando cada vez mais a cabeça no campo de visão de qualquer um; logo, meu disfarce foi perdido, minha mãe o estragou e pareceu radiante com isso.
"Marco!", chamou, animada. "Desça, venha conhecer a Star.", convidou, quase subindo para me puxar escada abaixo.
Um tanto indignado e desconfortável por conta do seu ato e frustrado pelo meu descuido, desci as escadas, deixando claro no meu rosto como me sentia. Que coisa! Eu não queria conhecê-la de perto agora!
"Star, esse é o Marco, ele...", minha mãe tentava explicar, alto e devagar, empolgada, mas um tanto nervosa, enquanto meu pai observava tudo atentamente ao seu lado, igualmente em pânico, tentando pensar no que fazer a partir de agora.
E foi aí que tudo ficou mais estranho. A menina loira pôs as mãos no rosto da minha mãe, surpreendendo-a de uma forma que ela até ficou sem palavras. Acho que todos nós estávamos eufóricos e/ou ansiosos com tudo que estava acontecendo, tanto que bastou, literalmente, um toque para que todos nós calássemos por completo, sem saber como reagir.
"Re-pi-tá.", a loira pediu, tentando falar o mais articulado possível, inexpressiva, o que acabou gerando um efeito de frieza, causando ainda mais medo e hesitação na minha família.
"Uh...", e minha mãe, por exemplo, pareceu congelar naquele instante, confusa com o que estava acontecendo e muito mais nervosa do que inicialmente, como se sentisse que estava perdendo o controle da situação nos primeiros minutos de contato e experiência. Mas eu já imaginava o que estava acontecendo, e tinha que agir.
"Mãe, é só falar.", expliquei de forma mais resumida possível. "Se apresenta.", sugeri.
Star queria usar a técnica do Tadoma que servia pra receber mensagens, seu polegar estava bem posicionado ao lado da boca da minha mãe enquanto o resto de seus dedos ficavam embaixo do queixo, assim, ela podia fazer uma espécie de leitura labial sem enxergar.
"Star, sou a Angie.", minha mãe sorriu fraco. "Eu e o meu marido, o Rafael, não vamos estar aqui sempre, mas, qualquer dificuldade, qualquer problema, pode contar conosco."
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The Beauty Inside
RomanceStar Butterfly é uma princesa de outra dimensão que nasceu herdeira do reino e da varinha mágica de sua família, mas também com duas deficiências. Sendo a primeira herdeira parcialmente cega e quase que completamente surda, ela terá que provar para...