Parte I

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PRÓLOGO

         Esther eu éramos amigos de infância. Ela era aquele tipo de pessoa para qual você não consegue dizer não. A melhor e única amiga que eu já tive. Tinha certeza que a amava, o que eu não sabia era até onde esse amor chegava. Por vezes pensei que ultrapassara os limites de uma amizade.

         Esther vem do hebraico, significa estrela e, definitivamente ela era uma.

Eu Adriano, ou Dinho como ela mesma costumava me chamar, aprendi que com ela é preciso adotar irregularidades, pois segunda-feira pode virar sexta, dia pode virar noite e uma tempestade tortuosa pode virar uma noite límpida e estrelada. Ela me ensinou que para que uma coisa de certo, terá que dar errado inúmeras vezes antes, e é preciso persistência e esperança para que quando finalmente de certo, você não deixe a chance passar diante de seus olhos, sem percebê-la.

         Eu amava Esther de verdade. Ela era a estrela que mais brilhava no meu céu. Maluca, louca de pedra, travessa, escorregadia, uma folha caída de outono e prima do vento. Eu a amava como grandes amigos de infância e também como minha paixão de veraneio, em intensidade era como platônico, só que continuo. Ela era incrível e mirabolante.

 CAPÍTULO UM

O SINAL TOCOU.

O último dia de aula é o mais esperado desde que colocamos o pé dentro da escola. Era assim para todo mundo. Estava quente. Muito quente. Coloquei uma roupa qualquer, sentindo meu corpo transpirar e se movendo com dificuldade. Tomei um rápido café e fui para a escola. Último dia, repeti para mim mesmo, tentando fazer com que isso me estimulasse e espantasse o sono. Não deu muito certo.

Quando cheguei, Esther me aguardava encostada na parede ao lado do portão de entrada, os cabelos loiros cobrindo os ombros nus e os cadernos apoiados em sua cintura. Ao me ver ela exibiu um sorriso de dentes claros e retos.

— Oi — disse eu, me aproximando.

— Olá. — ela veio ao meu encontro.

— Dá para acreditar? É o nosso último dia aqui Esther. Adeus professores mal-humorados, bebedouros estragados e banheiros mal cheirosos. Adeus pra essa espelunca toda!

— É, mas vou sentir falta — riu­—, não sei o que vou fazer depois que isso tudo acabar. Sabe, pode parecer loucura, mas eu preciso dessa rotina: acordar cedo, tomar café da manhã e vir para a aula. O fim das aulas me deixará meio perdida por uns tempos e pensar que estamos tão próximos disso me dá arrepios.

— Quem sabe ir para uma boa faculdade?

— É quem sabe. — Disse Esther sem convicção para por um ponto final no assunto.

O silêncio foi constante até irmos para a sala de aula. Éramos de turmas diferentes. Às quatro horas seguintes passaram lentamente. Eu olhava para o relógio e o relógio olhava para mim. Parecia que ele gostava de fazer com que seus ponteiros girassem devagar.

O sinal tocou.

Todos os alunos correram para fora da sala de aula, tentei acompanhá-los, mas digamos que eu não era muito ágil. Quando finalmente cheguei ao corredor, fui surpreendido por uma chuva de papéis. Típico. Os formandos jogavam seus cadernos que não usariam mais, provas, trabalhos e redações, para o alto, aliviados, como quem dissesse “Estudar nunca mais!”. Então foi ai que vi Esther parada do outro lado do corredor. Seu olhar estava vazio. Um papel lhe caia diante dos olhos, ela então, pegou-o ainda no ar. O leu com atenção e seu semblante mudou, parecia aflita e perturbada. Ela dobrou o papel e colocou no bolso. Seria inútil tentar atravessar o corredor lotado de estudantes eufóricos e alforriados, então fui para a rua. Esther não tardou a aparecer.

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⏰ Última atualização: Jan 07, 2015 ⏰

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