Acordo e olho para o teto, então percebo que esse não é o meu quarto. Lá fora está escuro, parece noite. Meu pescoço e um dos braços estão imobilizados. Não consigo mexer, mas estou sentindo-os. Isso é um bom sinal. Viro a cabeça devagar e, com muito esforço, vejo um monitor cardíaco e percebo que estou num hospital. Tento levantar a cabeça e vejo na extremidade da cama uma pequena poltrona branca com alguém dormindo. Parece Élio. Tento chamar seu nome, mas não consigo. Vem um torpor e acabo adormecendo.
Acordo novamente e, dessa vez, a luz do sol entra pela janela e clareia o ambiente. Ouço barulhos de pessoas fora do quarto. Tento levantar a cabeça e olhar para o sofá, mas não vejo ninguém nele. Fico confuso se estava mesmo acordado ou foi apenas um sonho. Uma enfermeira alta, magra, com olhos grandes abre a porta sorridente e fala:
- Finalmente acordou! Já estavam todos preocupados com você. Como se sente?
- Como se tivesse sido atropelado por um trator - respondo.
Ela verifica os aparelhos e vai saindo.
- Moça! - chamo constrangido por não saber o seu nome.
Ela para ainda com a porta aberta e olha.
- Ontem à noite havia alguém dormindo aqui no quarto? - pergunto para tirar a dúvida.
Ela sorri e responde:
- Sim. Na verdade todas as noites. Não conseguimos mantê-lo longe desde que você deu entrada aqui. Ele deve ter ido ao banheiro ou comer alguma coisa, mas deve estar voltando. Vai ficar muito feliz de lhe ver acordado mas garanto que vai ficar triste por não ter presenciado. Você tem ótimos amigos.
Ela dá uma piscadinha e sai fechando a porta atrás de si.
De repente a porta abre devagar e vejo Élio entrar com uma garrafa de água. Ele está mais magro, abatido e seu cabelo parece mais bagunçado que o normal, entra com a cabeça baixa e só então olha e me vê. Assusta-se e derruba a garrafa, então corre para a cama sorrindo. Parece que a enfermeira não contou que eu acordei.
- Lobinho! Você acordou! - ele para na minha frente radiante.
Nunca fiquei tão feliz de ouvir essa palavra. Seu sorriso continua lindo; aquelas sardas que amo e aquele olho que me atrai tanto estava brilhando. Noto que ele não sabe o que fazer. Com a mão que consigo eu toco no seu rosto, ele fecha os olhos e põe sua mão sobre a minha.
- Fiquei tão preocupado - ele fala ainda de olhos fechados - achei que não ia acordar.
- Quanto tempo passei assim? - pergunto. Estou na dúvida entre um ou dois dias.
- Dez dias - ele responde.
Dez dias!? Penso surpreso.
- E quantos desses dias você dormiu na poltrona? - pergunto curioso.
- Todos eles - ele responde coçando a cabeça – no começo foi desconfortável mas agora já acostumei. Você pensava que ia se livrar de mim assim tão fácil?
Ele parece aliviado por me ver bem. Recebo a visita do médico e, em seguida, os enfermeiros tiram os objetos que me prendem os movimentos, já consigo me mover livremente e até sentar na cama. Meu braço esquerdo permanece com gesso. Da poltrona ele acompanha tudo atento.
Após a saída dos médicos, conversamos sobre o que aconteceu nesses dez dias. Percebo que ele está se esforçando para me fazer rir. Ouvimos batidas na porta e entra Lucas. Tive que me segurar para não rir de como engraçado ele estava. Usava tênis, calça, camisa, jaqueta, luvas, máscara na boca, óculos e um gorro na cabeça.
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O Renascer De Páris
Romance➡️ Sinopse: Páris é um garoto de 15 anos cheios de problemas e traumas. Ele já tinha passado por tanto sofrimento que nem ao menos vivia, apenas se deixava levar de um sofrimento a outro. Mas o ingresso no ensino médio de uma nova escola...