— Finalmente chegou seu grande dia, filha!
— Feliz aniversário, Belle.
Meus pais me abraçaram e pareciam mais felizes que eu e isso acontecia ano após ano. Não os julgo, pois eles não tinham como adivinhar que, lá no fundo, sempre odiei essa data por uma lista inimaginável de motivos. Ok, talvez não inimaginável, mas que, com certeza, incluía duas coisas importantes:
Número um: era sempre uma festa de aniversário cujos convidados eram os empregados da casa. Sim, eu gostava deles, mas não eram amigos da minha idade e nem tampouco eram muito próximos a mim.
Número dois: alguma coisa ruim sempre acontecia nesse dia, fosse comigo ou com alguém da minha família. No ano passado, minha mãe caiu da escada e ficou duas semanas sem poder ir ao consultório por ter torcido o pé. Já no ano retrasado, a única amiga que morava na mesma cidade que eu me jogou fora como se eu fosse descartável. O motivo? Eu havia parado de ir às festas ou mesmo para qualquer outro lugar para me focar na faculdade, ou seja, parei de bancar as despesas dela nos passeios.
De toda forma, não era justo que o resto do mundo tivesse que me aguentar com cara amarrada o dia todo por causa disso. Era um problema meu e ninguém tinha que se envolver nisso, não valia a pena.
O café da manhã era o mesmo de sempre quando era meu aniversário: waffles, panquecas e, por mais incrível que possa parecer, batatas fritas. Aquele era o único dia que meus pais me deixavam ser um pouco feliz para me acabar em batata frita até que eu não aguentasse mais. Assim que tomei meu lugar à mesa, os empregados se reuniram e começaram a baboseira de cantar a infeliz música que acompanha todo aniversário. E, como sempre, coloquei a melhor máscara de felicidade no rosto e bati palmas junto com eles.
Enquanto começava a me empanturrar de batatas, meu celular notifica uma mensagem, mas não era qualquer mensagem. Pelo som diferenciado que coloquei, já sabia exatamente quem era e acabei deixando um sorriso escapar.
Andrew, meu melhor amigo.
E quando digo "melhor amigo", é realmente o tipo de amigo que te dá bronca quando precisa, te anima quando as coisas vão mal e é o primeiro a comemorar algo de bom que lhe acontece. Nos conhecemos no começo da faculdade, pois éramos da mesma turma e ele foi o único à minha volta que nunca quis que eu pagasse nada por ele. Ao contrário, ele é quem às vezes pagava algo para mim nos passeios. Todos sempre falavam que tínhamos um rolo, mas nunca avançamos para algo além de uma amizade de verdade.
Há um ano e meio ele conseguiu o intercâmbio que tanto almejou e está terminando os estudos nos Estados Unidos. Desde então, nos falamos todos os dias por mensagens ou ligações e continuamos alimentando nossa amizade. Andrew disse antes de partir que voltaria quando se graduasse e faríamos o Mestrado juntos, talvez seja isso que me dê forças para continuar enfrentando todos aqueles parasitas.
Peguei o celular para ver o que ele havia enviado e só consegui sorrir mais. É claro que Andrew não iria esquecer.
Feliz aniversário para a Bellinha mais querida e amorzinho que eu conheço! E aí, tendo uma overdose de batatas?
Mas é claro, é só isso que compensa nesse dia. - respondi.
Você não existe. Ah, tenho uma coisa pra te falar, mas acho que por áudio é melhor, segura as pontas aí
Esperei que ele gravasse o que tinha para dizer e, enquanto isso, continuei apreciando minhas queridas batatas. Meus pais deixaram a mesa, se despedindo de mim e cada um indo para seu devido trabalho. Pelo menos eu teria o dia todo de paz, o que era ótimo.
Finalmente ele terminou o dito áudio e fiquei insegura por ver o tempo que aquilo levava. De toda forma, o reproduzi enquanto subia as escadas de volta para o meu quarto.
"Bellinha, eu tenho uma notícia boa e outra má. A boa é que conheci uma garota que está na minha turma aqui e é super divertida e animada. O nome dela é Ashley e a gente meio que tá se entendendo e tem um clima entre a gente, acho que finalmente vou conseguir uma namorada! Mas, voltando para a má notícia..." - a pausa foi tão grande que tive tempo de chegar ao quarto e me sentar na cama, o que me deixava desesperada. Depois de tantos minutos, ele continuou - "a Ashley é tipo... ciumenta... e não gostou muito de saber que eu tava conversando com você, sabe? Ela disse que ia me jogar na rua da amargura se eu não cortasse laços com você e, depois de pensar muito, acho que nosso tempo como amigos já passou... Foi legal e não vou esquecer das nossas competições de arroto na lanchonete, mas a gente tem que seguir, né? Sei que está com raiva, na verdade deve estar puta da vida, mas eu sinto muito mesmo. Até algum dia, Bellinha".
Estava morrendo de vontade de atirar o celular na parede, mas o pobrezinho não tinha culpa de nada, então só o deixei de lado mesmo enquanto caminhava pelo quarto, digerindo aquela facada enquanto me controlava para não berrar e chorar feito uma louca. Sabia que alguma coisa dessas iria acontecer, mas veio da fonte que eu menos esperava. Eu estava muito mais do que "puta da vida"! Na verdade, queria que ele estivesse aqui na minha frente para que pudesse encher aquela cara magrela de socos até não poder mais.
Soquei a parede enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Desgraçado. Espero que essa garota coloque um par bem grande e bonito de chifres nesse imbecil, pois é o que ele merece.
Meu acesso de raiva terminou quando vi minhas mãos vermelhas e sangrando um pouco. Enxuguei as lágrimas com a manga do moletom que estava usando e fui até meu banheiro pegar o kit de primeiros socorros para dar um jeito nos machucados.
O celular anunciou outra mensagem de Andrew, mas ignorei. Não tínhamos mais nada para falar, certo? Por isso, continuei fazendo as ataduras necessárias, mas em meio a uma verdadeira sinfonia de mensagens daquele estúpido.
Quando terminei, meu celular começou a tocar e disse para mim mesma que não iria atender, mas não consegui. Um novo acesso de raiva estava chegando e, se eu não falasse com esse maldito, ou a parede ou minhas mãos seriam quebradas dessa vez.
— Bellinha, não me ignora assim, fala comigo.
— Não temos mais nada para falar, Andrew. Você já disse tudo o que queria naquele áudio desgraçado, não disse? Falso, mentiroso! Nunca esperava um golpe tão baixo desses por causa de uma qualquer que apareceu de repente! - ele tentou me interromper, mas continuei firme, sem dar espaço - Então espero que você vá para a puta que te pariu e seja o corno com a galhada mais bonita dos Estados Unidos!
— Mabelle, me deixa...
— ADEUS, ANDREW!
Desliguei o celular, bloqueei aquele corno de todas as minhas redes sociais e me atirei na cama, abraçando meu travesseiro enquanto as lágrimas mais uma vez ganhavam a batalha. E mais uma vez eu era apenas a Mabelle Evans, a esquisita.
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Creepypasta OC [Proxy] - Twilight
Hayran Kurgu❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀ Repostada e reescrita ❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀ Mabelle tinha apenas um desejo: encontrar pessoas que realmente fossem amigos com quem pudesse contar nos melhores e piores momentos. Só que o dinheiro não foi capaz de comprar isso para ela. Reneg...