[1] Anthrodynia

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Taehyung odiava como o capitalismo funcionava.

Após distribuir seu curto currículo por toda cidade, em todos os estabelecimentos possíveis, Taehyung sentiu na pele a dificuldade que era encontrar um emprego sem ter as devidas qualificações. Ninguém parecia querer contratá-lo, principalmente quando viam que suas experiências eram quase vergonhosas aos vinte e três anos de idade. Mesmo sabendo que não era um forte candidato devido às duas linhas naquele papel, ele fez várias entrevistas e até mesmo mentiu em algumas delas.

Certo, como ele iria adquirir novos conhecimento se, para ocupar os cargos, precisava de experiência? Isso sequer fazia sentido. Por onde deveria começar se não lhe davam um começo? Nem mesmo tinha começado os estágios que precisava na faculdade, nem concluído algum tipo de especificação que pudesse acrescentar em seu currículo vazio. Aos treze anos, ele ajudava seu pai como auxiliar na oficina mecânica, mas buscar e trazer ferramentas não contava como experiência relevante.

Taehyung estava começando a se sentir culpado por ser um completo inútil.

Passou o dia todo distribuindo papéis com suas informações por toda Seul atrás de um trabalho, qualquer um que pagasse o suficiente para comer. Mas tudo que recebia era sempre um educado "ligaremos se precisarmos, Senhor Kim".

Porra nenhuma.

Ele sabia muito bem que parte disso era por conta da sua aparência física, todas essas tatuagens e piercings sempre pareciam ser um problema quando as pessoas batiam os olhos.

Cansado e cheio de fome, Taehyung sentou-se em um ponto de ônibus e suspirou, frustrado. Houve um ponto em sua vida onde tudo parecia bem, e ele realmente procurava saber quando tudo começou a virar uma bagunça. Apesar da família complicada, teve uma infância saudável, feliz, tinha o pai e a avó materna cuidando dele, o protegendo, o educando. Mas alguma coisa aconteceu com a porra do destino e a vida resolveu que seria divertido tirar dele aquilo que possuía de mais precioso: seu pai.

Nunca teve uma família muito estruturada, seu pai – recusava-se a dizer padrasto, afinal, pai é quem cria –, era a pessoa que constituía a base da sua vida, a mais importante, muito mais do que o biológico, que só enviava uma quantia em dinheiro para pagar a pensão, mas sequer procurava saber se estava se alimentando ou se faltava alguma coisa.

Minho era policial e foi assassinado quando atendia a um chamado perto de casa.

Quando ele morreu, Taehyung viu-se caindo em uma realidade perdida e desesperada. Ele tinha apenas quatorze anos, uma criança sem direção, num período em que precisava urgentemente de uma figura paterna. Ele só se lembrava das sirenes, o som alto do grito da sua avó perfurando seus ouvidos, deixando a situação ainda mais aterrorizante.

Sem saída, afundou-se nos próprios sentimentos, deixando a dor pesada ser a principal causa da sua rebeldia contra a própria família (ou o que restava dela).

Quando completou quinze anos, teve sua primeira experiência sexual com uma garota, Kim Eubin, uma mulher bonita, bem resolvida. Ela tinha olhos felinos e um charme que convenceu Taehyung de que ele não se arrependeria daquilo e deu a ele a chave para um mundo capaz de aliviar a dor da perda de uma forma meio cruel, mas que funcionava.

Aos dezesseis, Taehyung poderia se considerar um usuário frequente de drogas, e, como era de se esperar, houve uma mudança absurda de comportamento, fazendo a família se desmontar como um frágil castelinho de areia.

Insistindo em novas experiências e sem nenhum tipo de medo ou repreensão, aos dezessete anos Taehyung deitou-se com um menino, sem qualquer culpa ou remorso por ir contra alguns "princípios'' que aprendera quando mais novo. Mas foi através daquele garoto bonito, corpo quente e sem curvas delicadas, o dorso liso pela ausência de seios, que ele teve a certeza de que corpos masculinos lhe interessavam muito mais que os das meninas. Não que fosse definido homossexual, só tinha suas preferências e poucas vezes investia em alguma garota realmente interessante.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora