[2] Liberosis

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Mas o homem foi criado livre e o que lhe confere a liberdade é a razão, pois através da razão é que os seres humanos vão poder diferenciar o bem do mal e fazer as suas escolhas. Se não existisse liberdade não existiria também pecado e a virtude, pois para que ambos existam é necessário que exista a capacidade e a liberdade de fazer as escolhas certas. Dicionário de Filosofia - Gregório de Nissa:

O som incessante do celular estava causando uma enorme dor de cabeça a Namjoon. Quem diabos telefona em pleno sábado de manhã? Vencido pela tecnologia insistente, ele pegou o aparelho e nem olhou para conferir quem era o meliante que o importunava. Atendeu.

— Fala — disse ríspido, a voz grossa, ajeitando-se na cama e tentando controlar sua raiva por ter acordado.

Credo, Namjoon, que mau humor é esse? — Reconheceu a voz de Jimin, involuntariamente relaxou o corpo e deitou-se novamente no travesseiro macio, sorrisinho no canto dos lábios.

— Bom dia, Jiminie. A que devo a honra da sua ligação? — A voz já era mais calma, não conseguia se estressar com Jimin.

Bom dia! Eu liguei pra conversar com você, ué — ele disse, mas Namjoon revirou os olhos, mesmo que soubesse que Jimin não veria.

— Você é péssimo em mentir, cara. Primeiro que é raro você me ligar, segundo que mais raro ainda me ligar para conversarmos. Desembucha. — Ouviu Jimin bufar do outro lado da linha. Tinha acertado. Trocou o celular de orelha e esperou pelas asneiras que Jimin provavelmente pediria.

Namjonnie, convence o Tae a não ir na festa da Joy, ele não me ouve!

Namjoon riu sem humor, então era sobre ele. Sempre era sobre Taehyung. Namjoon poderia muito bem inventar alguma desculpa para não irem à festa, mas Jimin era mimado demais e na maioria das vezes conseguia o que queria, por mais tentador que fosse suprir os caprichos dele, Namjoon estava cansado de nunca dizer não a ele.

— Me erra, Park Jimin.

Sem esperar por uma resposta, Namjoon desligou o telefone, ignorando completamente uma dorzinha no fundo do peito. O telefone tocou mais algumas vezes. Era Jimin, mas sequer fez questão de atender, não sucumbiria a ele, não dessa vez.

Muitas coisas deveriam ser resolvidas no sábado; a matrícula na faculdade, continuar a trágica tarefa de distribuir a porcaria dos currículos pela cidade, conversar com seu advogado sobre algumas dúvidas que tinha em relação ao testamento de seu pai. Porém, Taehyung apenas dormiu até meio dia, sem se preocupar com mais nada.

Ao acordar perto do meio dia, percebeu o quanto o quarto estava deplorável e quase inabitável; havia bitucas de cigarro espalhadas pelo chão, restos de comidas debaixo da cama e na escrivania, meias e roupas sujas jogadas no carpete, o lugar estava fedendo a pano molhado e nicotina velha. Como ele não tinha mais sua mãe para encher a porcaria do saco, não fazia sentido algum se esforçar para manter a organização. Mas por medo de que alguma coisa criasse vida no meio daquela bagunça, resolveu colocar algumas coisas no lugar mais tarde, isso também porque não tinha mais cuecas limpas.

Saiu debaixo daqueles amontoados de cobertas sem muito ânimo, arrastando-se até o banheiro. O reflexo no espelho ainda era o mesmo que vira na festa; deplorável e quase humilhante. Era uma sensação esquisita todas as vezes que Taehyung mergulhava naquela coisa de rever o que tinha de errado com ele. Sempre se sentia vazio e desesperado nas mesmas proporções, sendo obrigado a desviar os pensamentos sem que chegasse a uma conclusão porque, se continuasse, morreria sufocado em sua própria mente turbulenta.

Sonolento e só vestindo uma cueca, caminhou até a janela, pegou um cigarro e acendeu. Só assim para começar o dia. A janela do outro lado nunca tinha sido interessante o suficiente para que chamasse sua atenção, mas as coisas haviam mudado, e agora encarava fixamente o garoto que já havia encontrado outras duas vezes.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde (taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora