Transe

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Foi numa tarde de domingo
Eu havia colocado a água pra ferver
Era o início do ritual
Comecei a ler um jornal
Desses velhos, com notícias passadas

E a cada página folheada
O tempo parecia voltar
E vi os dias de antes
E vi retroceder os passantes
Hipnotizado, sem desviar o olhar

Foi quando a chaleira apitou
A fervura havia chegado no ponto
Me sentia um pouco tonto
Precisa me recuperar
Era café que faltava entrar

E coloquei as duas colheres de sempre
Forte e quente, do jeito que tem que ser
No primeiro gole eu acordei
No segundo minha alma voltou a mim
No terceiro senti que podia tudo

Era o ritual
Sentia a vida
Sentia o tempo
Sentia o gosto do amargo
Estava vivo afinal

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