Um salmista disse uma vez
Que a alma cansa
Num antropomorfismo estupendo
E cansa mesmo
Mesmo sem ter músculos
Mesmo sem ter nervos
Cansa do peso de carregar
[Silenciosamente]
O corpoUm salmista disse uma vez
Que a alma espera
Como se tivesse um relógio
E um pulso pra onde olhar
Mas ela espera
Sem horas
Sem calendário
Como se cada sensação
Virasse o ponteiro do tempo
[Por dentro]Um salmista disse uma vez
De que adianta ser justo
Como se fosse justo
Como se justo existisse
Com se fosse possível
[Apenas por si]
Exigir justiça
Mas era um apelo
E não exigência
Ao exigir do mundo algo
Pedia para si também
Um pouco de decênciaUm salmista disse uma vez
Amém
E amém é necessário
É necessário se reconhecer
Com o que se é, incapaz
De mudar aquilo no mundo
De mudar aquilo em nós
Que foge do campo da capacidade
E respirar, aqui ou além
Num sonoro ou silencioso
Amém
