[5] En Sourdine

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"Calmo, na paz que difunde
a sombra nos altos ramos,
que o nosso amor se aprofunde
  neste silêncio em que estamos."

                        ─── Paul Verlaine, 1869.

×

...Eu me senti precioso,

Com Seonghwa perdi a noção do tempo, o chão sob meus pés e apesar de minha pele se arrepiar a cada vez em que sua voz mansa se direcionava a mim, meu peito, meus ombros e meu ar se tornaram leves, como se todas as tentativas frustradas em que tenhamos tentado conversar desde a sua chegada não tivessem valido e por ordem de um destino que eu sequer entendia, aquela noite fosse nosso belo começo... tudo o que eu sabia ─ com a pontada do meu estômago, no centro dos meus ossos, sabia isso do topo da minha cabeça até as solas dos pés ─ era que se eu o tivesse ali, daquela forma, eu não precisava de um paraíso.

Estar envolvido pelo calor de Seonghwa parecia tão certo, único e puro que poderia ignorar todas as vezes em que tive aqueles pesadelos. Quando a música acabou, o som do mover das rosas ao nosso redor se tornou alto novamente, ele afrouxou o toque em minha cintura, sendo lento como uma lagarta... Seus olhos foram a fundo nos meus e havia um sorriso bonito em seus lábios que se desfez quando tocou minha testa em um beijo.

── Acho que devo te levar de volta a seu quarto. ── Sua voz se proferiu como um sussurro contra as maçãs de meu rosto, que arderam naquele instante e consequentemente, me fazendo apertar os dedos em seus braços antes de me afastar, pé ante pé, ao menos até ser parado por ele.

Eu hesitei, mordi meus lábios mas busquei ignorar qualquer sensação que me deixasse coagido, logo, falando baixinho ao erguer os olhos a seu rosto, percebendo apenas naquele momento, nossos dedos entrelaçados.

── Vou adorar sua companhia.

Mesmo que pudessem estar no terceiro andar do Castelo em poucos minutos, ainda nem haviam chegado nas escadas. Os pares de sapatos se arrastavam após saírem da grama. Mesmo que silenciosos, sentia-me sobrevoar nas nuvens ao lado dele.Vez ou outra, sentia seu olhar sobre mim, enquanto agora percorríamos o primeiro corredor, e a Lua se tornava nossa única telespectadora.

Mesmo que tenhamos demorado tanto a chegar no terceiro andar, ainda não parecia suficiente. A ala "Real" estava bem a frente de nossos alheios, e me recusei a continuar. Como num conto irreal, eu era o personagem cheio de sonhos.

── Verei você amanhã?

── Sim.

── E depois de amanhã?

── Também.

Ergui o olhar sob os fios ruivos antes bagunçado pelo vento, soltando um longo suspiro enquanto seus dedos ainda brincavam com os meus. Ele sorriu e inclinou seu rosto ao meu, beijando uma de minhas bochechas com delicadeza antes de se afastar lentamente.

─── Durma bem, príncipe. Nos vemos amanhã.

Minhas falas pareceram sumir, meus lábios se entreabriram em tentativa mas, tudo o que fazia era expulsar o ar por eles, com um sorriso inegavelmente bobo que se formava, fiquei a observa-lo se afastar até sumir completamente nas sombras densas mais a frente e logo eu, pudesse ir a meu quarto.

××××

─── Você terá de me explicar palavra por palavra, Kim Hongjoong.

A voz de era séria, mas sua face tinha uma expressão de divertimento. Ele era o único que falava meu nome completo, bravo ou não, mas dessa vez, não me encolhi ou retruquei, apenas soltei uma risada baixa, enquanto girava a tranca da porta. Era fato que talvez Seonghwa pudesse ter ouvido a voz de meu primo, mas, ah..

ETERNITY || SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora