Jungkook
Quando se namora uma pessoa por muito tempo, você aprende tudo sobre ela. O que significa cada sorriso, cada ruga na testa, cada microexpressãozinha de tristeza ou de felicidade. Eu conhecia Eun-woo o suficiente para perceber que as coisas não estavam tão boas entre a gente, mas acho que, no fundo, eu não queria admitir a derrota. Não queria mais um relacionamento fracassado na minha lista. Não posso dizer que fiquei realmente surpreso quando ele confessou que estava me traindo – àquela altura, eu já esperava, ainda que torcesse para que fosse apenas coisa da minha cabeça –, mas eu achava que o que nós tínhamos valia a pena. Que eu valia a pena pra ele. Fui ingênuo ao presumir que ele estava me contando tudo aquilo porque havia se arrependido e queria outra chance. No final, fui eu que tive que pedir para que ele não terminasse comigo. Gosto de pensar que sou melhor do que isso, mas ainda sinto raiva quando lembro.
Muito mais de mim do que dele.
Sei que o fato do Taehyung ter me convidado para passar a noite não quer dizer grande coisa. Depois de quatro rounds do melhor sexo que eu já tive na vida, já estava tarde e nós ainda não havíamos jantado. Por pouco não colocamos fogo no apartamento – a lasanha ficou torrando no forno enquanto as coisas esquentavam pra gente na cama. No chão, na parede e também na escrivaninha. Quando eu sentei na cama e comecei a me vestir, ele me abraçou pelas costas e beijou os meus ombros.
— Não vai agora. A gente ainda nem jantou — ele disse, e foi nesse momento que percebeu que tinha esquecido o forno aceso. — Porra, a lasanha!
Acho que não foi tão ruim assim a lasanha ter queimado, porque acabamos tendo que pedir comida – que terminou demorando para chegar e foi quando Taehyung perguntou se eu não queria ficar. Eu não sabia se ele estava apenas sendo educado, mas não precisei que ele insistisse para aceitar o convite. Pearl diria que eu preciso parar de ser tão complacente, principalmente porque Taehyung é só um cara que eu acabei de conhecer, mas faz tanto tempo que eu não me sinto tão bem com alguém que ainda não estou preparado para ir embora.
Não sem a certeza de que vou vê-lo outra vez.
Fiquei com medo de não ter absolutamente nenhum assunto, ou pior, acabar dizendo alguma coisa estúpida como você é muito mais bonito pessoalmente, que é exatamente o que eu faço enquanto ele abocanha um pedaço de pizza. A última coisa que eu quero é que Taehyung pense que eu sou um babaca superficial. Para a minha sorte, ele acha que é apenas uma brincadeira por conta do timing. Como se fosse impossível ficar bonito de boca cheia. Não acho que exista uma situação em que ele não esteja bonito, mas guardo minha opinião para mim.
— Você é designer de jogos, né? — ele pergunta, limpando a boca com um guardanapo. — Se eu não tivesse visto essa informação no seu perfil, nunca, em um milhão de anos, eu imaginaria que você é um nerd — Taehyung ri. — Não me leva a mal, eu adoro videogame — ele se adianta antes que eu diga qualquer coisa. — É só que você não tem nada a ver com os nerds que eu conheço.
Não sei se me sinto ofendido ou lisonjeado pelo comentário dele, mas acho que gosto de não ser exatamente o que ele esperava. Gosto do fato de, apesar de todas as expectativas que eu tinha sobre essa noite terem sido atendidas, as coisas estarem saindo muito melhor do que o esperado.
— É porque você não me viu de óculos — eu digo numa risada.
— Não sei não, Jungkook, acho que é porque eu te vi sem roupa. Se você tivesse usando óculos agora não iria fazer a menor diferença — Taehyung diz com a expressão um pouco mais séria, apesar do sorriso, e eu sinto o coração palpitar pela forma como ele olha para mim.
E não é porque ele está usando apenas uma boxer ou pela lembrança recente do que aconteceu uma hora atrás, porque não é em sexo que eu estou pensando agora. Conheço bem essa agitação no pé do estômago – convivo tempo o suficiente comigo para saber o que isso significa.
São quase duas da manhã quando terminamos de comer e, apesar da relutância de Taehyung, eu o ajudo a arrumar a cozinha. Se eu estivesse com o Eun-woo, tenho certeza de que os pratos iriam ficar na pia até o dia seguinte, o que não me incomodava, para ser sincero. Eu também não sou o maior exemplo de organização, mas acho que poderia me habituar a passar as madrugadas das minhas sextas-feiras arrumando a casa com ele, principalmente se o que viesse antes disso fossem três horas preenchidas com tudo o que você pode imaginar que duas pessoas cheias de tesão conseguem fazer.
— Quer tomar um banho antes de dormir? — ele pergunta e eu não sei se é apenas um convite ou uma intimação, mas não preciso pensar duas vezes depois que ele tira a roupa e liga o chuveiro. Fico duro no mesmo instante.
O box é relativamente espaçoso, mas somos dois caras grandes e tudo parece diminuir de tamanho quando estou perto dele. Abraço sua cintura e beijo suas costas enquanto a água quente cai, e ele segura a minha nuca e vira o rosto para me beijar. Dessa vez é diferente. Nossos lábios se movem com calma e com uma suavidade particular que não havia quando nos beijamos antes, e eu não tenho pressa para parar.
Taehyung se vira e envolve os braços ao redor do meu pescoço.
— Eu amo essa sua boca — ele murmura baixinho depois de morder o meu lábio inferior. — É tão bom te beijar, sabia?
É assustador pensar que não existe nada sobre ele que eu tenha descoberto essa noite que não tenha causado uma rebelião dentro de mim.
Respondo com outro beijo, um mais impaciente. Prendo Taehyung contra a parede de vidro do box, escorregando as mãos pela sua cintura, e ele me puxa com força. No instante seguinte, tudo o que era calma se transforma em urgência.
Não sei de onde tiramos tanta energia, mas ainda ficamos um bom tempo na cama depois do banho, nos alternando entre beijos e conversas triviais, como se essa não fosse a primeira vez que fizéssemos isso.
— Desembucha, qual o seu problema? — pergunto, encaixando o rosto na curva do seu pescoço.
— Como assim? — ele dá uma risada, se afastando para conseguir me olhar.
— Um cara como você tem que ter algum problema pra estar solteiro — eu digo, e é para ser uma brincadeira, mas pela cara que ele faz, acho que acaba sendo de mau gosto.
— Eu não tô solteiro — Taehyung ri sem jeito. — Talvez eu devesse ter te contado no início, sei lá. Eu tô num relacionamento aberto.
— Relacionamento aberto? — é tudo o que eu consigo dizer enquanto meu cérebro tenta processar a informação.
— Ano passado meu namorado foi fazer doutorado na Holanda e a gente decidiu abrir o relacionamento. Ele fica com quem ele quer, eu também, e a gente não conversa sobre isso. Espero que você não se importe — ele diz, mas soa como uma pergunta.
E eu não sei o que responder.
Teoricamente, não é um problema, e eu não acho que teria mudado de ideia se ele tivesse deixado isso claro logo quando eu cheguei aqui, mas levando em consideração todas as expectativas que eu construí nas últimas horas sobre vê-lo novamente, saber que ele namora outra pessoa é, pra dizer o mínimo, um inconveniente.
— E como é que isso funciona? Tipo, sei lá, não rola ciúme?
— É como eu disse, não conversamos sobre isso. A gente não se envolve emocionalmente com ninguém.
Sinto uma pontada no coração quando ele diz isso, porque, apesar de não conhecê-lo bem o suficiente para saber o que está pensando, entendo que é um aviso.
— É, parece uma boa ideia — eu sorrio e torço para que ele acredite que é sincero.
Deito ao lado dele e encaro o teto. Não nos beijamos ou dizemos mais nada pelo resto da noite.
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Swipe (KTH ♡ JJK)
FanfictionJungkook nunca leva encontros do Tinder a sério, mas dessa vez é diferente. No início era somente sobre sexo, só que parece impossível tirar o sorriso de Taehyung da cabeça.