Bem-aventurados

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Calebe andava tão apressadamente em direção a igreja, que Clarice mal conseguia acompanhá-lo. Seu cabelo ainda não havia voltado ao tom de costume.

- Quem será que é o novo padre de lá? Tomara que não seja o maldito Magnus. De qualquer forma, eu trouxe pó de pemba, extrato de duende, um pouco de casco de ushi, alguns círculos mágicos, porção de cura, porção antiveneno, sucoburos, cachimbo Pererê, e mais algumas outras coisas.

Como fui me interessar por um cara tão maluco?

- Precisa mesmo disso tudo? – tentou ser educada.

- Nunca se sabe! – Calebe levantou o dedo e respondeu com o nariz empinado.

Subiram os degraus da escadaria, e Calebe logo adentrou pelas grandes portas de madeira mogno, as quais estavam escancaradas, deixando a sua acompanhante um pouco atrás.

- Por favor, me ajude com uma moedinha. – disse um homem cego encostado próximo à entrada.

Clarice abaixou-se, e lá deixou um punhado de moedas que trazia consigo. Calebe olhou para trás, porém deu de ombros e seguiu em frente.

- Por que não ajudou ele? Talvez se você...

- Nem tudo é o que parece. – Calebe apenas percorreu a nave da igreja.

Um homem negro, de cabelo raspado usando uma batina se aproximou dos dois, com uma expressão séria, com as mãos para trás e o peito estufado.

- Vejo que não mudou nada desde aquela época.

- Vejo que você mudou bastante. – Calebe aponta para as vestimentas dele.

O homem soltou um largo sorriso, e abriu os braços para a abraçar seu velho amigo.

- Lembro que você também estava estudando para ser padre juntamente comigo, logo depois da guerra. No entanto, desistiu de tudo por uma mulher.

- Você está usando óculos, é o primeiro caso de lobisomem com miopia que eu conheço. – Calebe desconversou em meio a risadas.

- Eu gosto de usar, fica mais convincente de que sou inofensivo. – sorriu, e deu uns tapinhas nas costas do amigo. – E essa é?

Clarice estendeu a mão para cumprimentá-lo, mas o homem sorridente apenas a abraçou também. Era uma pessoa que passava uma sensação de paz e tranquilidade.

- Vem cá. – puxou Calebe.

- Não não, Téo...isso é demais. – Calebe hesitante, foi ao abraço em trio.

Clarice agora estava com a cabeça próxima ao tórax de Calebe, a centímetros do pescoço dele, e podia sentir o cheiro daquele perfume Montblanc, que percorreu por dentro de suas narinas, e atingiu suas células olfativas, levando assim a informação do bulbo olfativo, glomérulos olfativos, chegando ao córtex cerebral, que por fim enviou a informação para todo o corpo que se arrepiassem até os menores de seus pelos.

O que estou pensado? E dentro de uma igreja!

Rapidamente se repreendeu, e por um instante pôde notar um olhar do padre voltado em sua direção, como se ele soubesse exatamente o que ela estava pensando.

- O que você procura não está aqui, meu amigo. – Téo olhou para Calebe.

- Há poucos dias alguns dos meus alunos sofreram um brutal ataque da igreja, que enviou vários lobisomens.

- Aquilo não foi para atingir seus alunos, estávamos atrás de outra coisa. – enquanto proferia as palavras, o padre segurava uma espécie de crucifixo, e desviava algumas vezes seu olhar rapidamente para Clarice.

Aqueles que UivamOnde histórias criam vida. Descubra agora