Annabeth POV -
Eu estava contente com o fato de que eu e meus amigos próximos haviam conseguido sobreviver por tantos anos.
Hoje meu filho Peter estava completando 5 anos e não poderia evitar sorrir ao ver ele numa mesinha em companhia de seus amiguinhos, igualmente filhos de semideuses, na casa da sra. Jackson. Ally, sua irmã caçula, se deliciava perdidamente com o bolo azul feito pela vovó Sally tanto quanto ele.
Peter estava imensamente feliz. E ele simplesmente amava todos os doces azuis de Sally Jackson.
Eu, definitivamente, não era louca. Eu, assim como todos que já conheceram minha sogra, era completamente apaixonada pela culinária da mesma. Porém, nunca entendi direito esse apreço pelas coisas azuis.
Na real, Percy era tão apaixonado por coisas azuis que isso influenciava até na sua alimentação. Desde que me casei com ele, nossa dispensa não poderia faltar corante comestível azul e eu nunca entendi o porquê que as comidas não poderiam ser nas suas cores naturais e porque esse vício todo. Não era normal.
Eu sempre achei isso muito engraçado, mas nunca parei pra pensar tanto nisso até que meus filhos começassem a ter a mesma paixão que meu marido tinha pelos doces.
A resposta sempre era: Cores normais são sem graça.
Mas, não poderia ser outra cor? Talvez um verde? Talvez um vermelho?
Não. Havia algo mais.
- Bom trabalho. Os garotos estão aproveitando a festa. - Percy se aproximou de mim e depositou um beijo na minha testa.
- Percy... eu estava pensando numa coisa. - Falei, pensativa.
- O que foi? - Ele perguntou, acariciando meu cabelo.
- Que azul é sua cor favorita eu já sei. É claro que todo mundo tem gostos. Mas, o seu apego por azul é algo muito viciante. Tem algo por trás disso tudo. Nossos filhos vêem tanto sua alegria com os doces azuis que estão apaixonados também.
Percy suspirou.
- Existem coisas que se a gente conta, perde o encanto. - Ele respondeu.
Olhei em seus olhos para buscar sua expressão, tentando entender o que ele estava querendo dizer exatamente.
- Ei, nós temos doze anos de relacionamento. Fora nosso tempo como amigos. Acho que eu mereço saber o ingrediente secreto da receita, você não acha?
Ele sorriu.
- O ingrediente secreto é corante azul.
Olhei pra ele praticamente revirando os olhos.
- Eu acho mais engraçado quando as pessoas olham pra mim do nada comendo coisas azuis. Isso me faz rir e acho legal não precisar dar explicações. Mas, já que você é minha parceira eterna de batalhas, acho que eu posso te contar.
Percy pegou um copo de refrigerante de uma bandeja que estava sendo trazida pelo Paul. Fiz o mesmo.
- Estou ouvindo. - Falei.
- Tudo bem. Eu tinha sete anos. Meu pai era um deus. Minha mãe era mãe solteira. Ainda nem morávamos com o Gabe. A família da minha mãe é bem distante e não temos quase contato nenhum. Ou seja: a única pessoa que cuidava de mim era minha mãe. Minha mãe pra tudo. Ela me deixava com a babá e ia trabalhar na doceria.
Minha mãe teve que substituir várias babás, porque o pequeno Percy Jackson era um garoto travesso. Hiperativo e com déficit de atenção. A casa era virada de cabeça pra baixo às vezes. Eu mesmo sei que não era um menino fácil de criar. Nossos dois filhos? Não chegam perto da dificuldade que minha mãe teve apenas comigo.
Mas, mesmo assim ela sempre fez de tudo pra que não me faltasse nada. Ela trazia comida, roupas e tudo o que dava pra trazer com o salário que ela ganhava. Nem sempre as coisas eram fáceis. Às vezes ela tinha que fazer empréstimo pra poder conseguir pagar todas as contas do mês.
Eu sempre fui de observar tudo isso e mesmo que eu fosse uma criança difícil de lidar, eu não fazia por mal. Era a hiperatividade disparando. A Ally é muito mais parecida comigo e mesmo assim é mais fácil criá-la, pois ela tem dois pais. Com minha mãe não era moleza.
Na verdade, eu sempre gostei muito de azul. Isso é fato. Mas, algo realmente me fez me apaixonar mais por isso.
Então, chegou o momento do meu aniversário de 8 anos e algumas semanas antes havíamos passado numa loja, onde me deparei com uma vitrine.
Na vitrine, havia o melhor carrinho de controle remoto da história. Ele era grandinho, uma caminhonete super brilhante e azul. Meus olhos brilharam no mesmo instante.
Na mesma hora eu pedi que minha mãe comprasse.
Ela me olhou com o sorriso de sempre e falou que tentaria comprar no meu aniversário.
Sally Jackson sempre foi assim. Ela nunca gostou de demonstrar tristeza, sufoco, dificuldades. Ela sempre foi uma mulher forte.
Os dias se passaram e meu aniversário de 8 anos chegou. Eu voltei de um dia perturbado na escola. Após sofrer bullying como sempre. A babá foi me buscar nesse dia. Eu achei que minha mãe tinha corrido do trabalho pra comprar minha caminhonete e estava empolgado.
Mas, quando cheguei em casa, me surpreendi: a sala estava toda enfeitava de azul. Bolas azuis, enfeites azuis, mesa forrada em azul e doces. Todo o tipo de doces que eu pudesse imaginar estava azul. M&M, biscoitos, jujubas, bolo, marshmallows...
Eu nunca havia visto tanta comida azul.
Eu saí do meu transe quando ela se ajoelhou na minha frente.
Ela disse: Percy, me perdoe. Eu não consegui comprar o que tanto você queria. Aquele brinquedo está muito além do nosso orçamento, não posso mentir pra você. - a cara dela era triste por não poder dar a única coisa que eu havia pedido na vida e seus olhos até que estavam marejados.
E aí, ela falou: Pelo menos seu aniversário vai ter um pouco de azul.
Após isso eu saí de perto dela e me aproximei da mesa. Ainda estava em choque. Alguns doces ali não eram separados nos pacotes por cores. Com certeza, minha mãe havia tido o trabalho de separar pra que tudo fosse azul.
Peguei um marshmallow azul e admirei tudo aquilo.
"Mamãe, esse é o melhor aniversário do mundo."
Foi o que consegui dizer naquele momento. Corri e abracei, falando que a amava. Aquele, de fato, foi o melhor aniversário.
E desde então, os doces azuis sempre fizeram uma parte de nós.
- Sally Jackson é incrível. - Falei, sem palavras.
- E é por isso que eu a amo. - Percy disse.
- E você não é uma criança mimada. Aceitou numa boa ela não poder te comprar o que você queria. - Aprovei, passando a mão no seu rosto.
Ele riu.
- Acho que sim...
Demos um selinho.
- Ei, vocês vão ficar de namoro? O bolo acaba já! - minha sogra chamou.
Sorrimos e fomos nos deliciar com os doces azuis de Sally Jackson.
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Contos da Família Jackson
Fiksi PenggemarAlgumas histórias da vida de Annabeth e Percy após o casamento.