X - Querido Gilbert

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12, Janeiro de 1897
Trindade e Tobago, Caribe

— Mudas de roupa, documentação, livro, carteira

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— Mudas de roupa, documentação, livro, carteira... — Eu disse enquanto revisava minha mala, para ter certeza de que não havia esquecido nada.

— Você sabe que isso não vai adiantar de nada né? Mesmo se estiver faltando alguma coisa já é tarde demais, estamos longe de Avonlea — O Lucas resmungou.

— Todos a bordo — Disse o comissário de bordo do navio fazendo a última chamada antes de fechar as portas do convés.

Me despedi de Lucas com um rápido abraço, não dissemos muitas palavras um para outro, foi a despedida mais rápida da minha vida e por alguma razão nenhum dos dois fez questão de prolongar o abraço.

— Gil — O Lucas me chamou quando eu já estava quase embarcando — Me esqueci de te entregar isso — Ele tirou um colar do seu bolso.

— O colar da mamãe... — Eu abri o pingente e vi a pequena dedicatória de meu pai.

— Não ache que estou sendo sentimental, é apenas para lhe dar sorte.

— Obrigado — Eu agradeci com um sorriso no rosto e embarquei no navio sentindo que finalmente minha vida iria começar.

E essa foi a última vez que eu conversei com meu irmão, a duas semanas atrás. Desde então estou me acostumando com a idéia de morar numa caldeira com vários outros trabalhadores, a maioria homens que por pouco não foram escravos e não têm muitas opções de trabalho.

Não temos muito luxo, o ambiente é sujo, sem iluminação da luz do dia, apenas do fogo, é extremamente abafado e nós dormimos em redes desconfortáveis, todos perto um do outro, quase amontoados. Ficamos dias sem tomar banho e sujos de carvão, nossas roupas são sempre as mesmas, encardidas e com mau cheiro.

Alguns operários saíram para pegar as correspondências, mas eu fiquei descansando na rede. Antes, eu ficava esperançoso de ter alguma para mim, era um dos primeiros a ir vê-las, mas até agora não recebi nenhuma. Se depender do meu irmão acho que nunca vamos trocar cartas, mas confesso que estou ansioso para receber alguma carta da Anne.

Depois de ir tantas vezes buscar as correspondências e não ter nenhuma para mim, eu desanimei. Talvez demore um pouco para que alguém se preocupe comigo e queira saber como estou e nem consigo imaginar quem iria sentir tanto a minha falta a ponto de me escrever uma carta.

— Garoto, tenho uma coisa para você — Bash, um amigo que fiz aqui, diz assim que volta para a caldeira.

Na verdade Bash se tornou o único amigo leal e confiável que encontrei aqui. Com o pouco tempo de convivência que tivemos eu acabei sabendo bem por cima um pouco de sua história de vida. Sebastian saiu de Trindade, sua cidade Natal, onde morava com a mãe que sempre trabalhou em casas de famílias brancas, ele se cansou da dependência a qual vivia e decidiu correr atrás do que realmente queria e por algum motivo o destino o trouxe para cá.

Minha doce Anne com EOnde histórias criam vida. Descubra agora