Capítulo 3.

1.7K 119 15
                                    

CARINA P.O.V.

O dia parecia se arrastar, ou talvez eu que estava ansiosa demais para ir pra casa. O trabalho havia sido tranquilo hoje, apenas dois partos e todos simples, confesso que estava entediada. Olhei para o relógio na parede e bufei ao ver que ainda faltavam três horas até o turno acabar. Organizei a pilha de papéis que estava em minha mesa torcendo que isso fizesse o tempo passar mais rápido, mas quando terminei, apenas dez minutos tinham se passado.

Desisti de tentar me distrair e fiquei encolhida na cadeira, tentando não pensar nos últimos meses da minha vida e no quanto eu era feliz. Duas semanas haviam se passado desde que deixei a casa de Maya, desde então não havíamos nos falado. Ela me ligou algumas vezes na primeira semana, mas não consegui atender. Não estava preparada para ouvir sua voz. A raiva havia passado e agora restava apenas mágoa, suas palavras frias ainda ecoavam em minha mente quando eu tentava dormir, fazendo meu coração sangrar e lágrimas molharem meu travesseiro. Eu sentia saudades dela o tempo todo. Saudades do sorriso, dos beijos, de seu toque, mas quando me pegava pensando nisso afastava o pensamento. Maya não é digna de minha saudade. Estava distraída encarando a mesa em minha frente quando ouvi leves batidas na porta.

- Dra. Deluca, está ocupada? - Amelia perguntou com metade do corpo dentro da minha sala, um sorriso brincando em seu rosto. Rapidamente enxuguei os olhos tentando me recompor.

- Pode entrar. - Respondi com um sorriso fraco. Desde que eu havia realizado o parto da neurocirurgiã uma amizade estava surgindo lentamente entre nós. - Não deveria estar em casa?

- É verdade, mas senti falta do hospital. - Ela sorriu. - Também queria ver como você está. - Dei de ombros.

- Estou bem.

- Carina - Ela disse cautelosa. - Você não sai há semanas. Eu entendo que esteja passando por uma situação complicada, mas esse seu comportamento não é saudável.

- Eu apenas não estou com vontade de ir para lugar nenhum que não seja meu quarto. - Respondi baixinho.

- Você precisa mudar isso! - Ela respondeu exasperada. - Vamos sair hoje depois do seu turno acabar, o que acha? Podemos ir ao bar do Joe.

- Você tem um bebê em casa esperando por você. - Ergui uma sobrancelha. - Não pode beber.

- Eu não ia beber, apenas ia lhe fazer companhia. - Vi seus olhos revirarem e sorri. - Eu apenas quero que você se sinta bem.

- Vai parar de pegar no meu pé se eu aceitar sair? - Falei com uma careta, vendo um sorriso nascer no rosto da mulher. Ela assentiu. - Ótimo, mas irei sozinha.

- Você sabe mesmo como acabar com a alegria de alguém. - O sorriso que antes iluminava seu rosto havia desaparecido. Me permiti soltar uma risada.

Amelia ficou na minha sala por horas e mal vi o tempo passar. Gostava da companhia da neurocirurgiã, seu senso de humor me fez esquecer por um momento os meus problemas.

Às sete da noite saí do hospital e atravessei a rua em direção ao bar. Não me sentia confortável fazendo isso, mas havia prometido à Amelia. Entrei no local e caminhei até uma mesa nos fundos, agradecendo mentalmente por não estar lotado. O garçom se aproximou e fiz meu pedido: uma dose de whisky. Não era minha bebida favorita, mas precisava de algo mais forte que vinho essa noite.

Quarenta minutos se passaram e comecei a relaxar devido ao álcool em meu organismo, me sentia leve e balançava a cabeça lentamente no ritmo da música. Percebi que atraía a atenção de algumas pessoas no ambiente e sorri internamente, sentindo meu ego ser acariciado. Sempre gostei de ser admirada, desejada, mas costumava não deixar isso me consumir. Entretanto, no momento, estava gostando mais do que o normal. Desde que Maya me contou o que fez, tenho me sentido insuficiente, me questionando o tempo inteiro sobre minha aparência e personalidade. No começo concluí que havia algo de errado comigo, afinal, por qual outro motivo ela dormiria com outra pessoa? Mas depois de pensar com mais clareza, vi que a única pessoa errada na história era ela. Parei de me culpar pelo fim do nosso relacionamento, mas as inseguranças ainda incomodavam um pouco. Estava tão perdida em meus pensamentos que me assustei ao ver uma mulher parada ao lado da minha mesa.

Lost Without You Onde histórias criam vida. Descubra agora