Coração partido

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Duas semanas.

Quatorze dias.

336 horas.

Esse foi o tempo que Uchiha Sasuke esteve preso dentro do solitário cubículo, de paredes sujas, húmidas e cheias de rachaduras, sem ter as orbes esverdeadas para amenizar sua angústia. Duas semanas, desde a última vez que viu Haruno Sakura. Um tempo relativamente curto comparado aos dois anos e seis meses que se afastou - voluntária e erroneamente - dela. Mas, de alguma forma, os quatorze dias sem ter a companhia dela pareceram mais eternos que os novecentos e doze dias no esconderijo de Orochimaru.

Em sua mão ele segurava com afinco o tecido suave e vermelho, adornado com o bordado de pontos tortos dentro do desenho desajeitado de um leque - símbolo de seu clã -, era a única coisa que restava dela. Levou o pano até o rosto, sentindo um leve rastro do aroma de sushi e arroz. Mas, incrivelmente, também havia um pouco do cheiro dela, talvez o resquício de algum hidratante ou apenas um produto de sua imaginação.

Deitou mais uma vez na cama fria, feita de tijolos e um fino edredom que servia como colchão, levou consigo o tecido que alguma vez foi usado para embrulhar seu almoço.

"Ela se afastou…" 

Engoliu seco, a ideia de perde-la o consumia lentamente. Apertou ainda mais o pano entre os dedos, sentindo o bolo se formar em sua garganta. Talvez fosse melhor assim... ela merecia um homem completo, sem complicações e complexos. Que soubesse dizer a ela o quão bonita ficava com as maçãs do rosto coradas e que os olhos dela pareciam duas lagoas cristalinas. Que ela era uma pintura vivida da estação mais colorida, que o cabelo dela se assemelhava as flores que levavam seu nome. Ela merecia alguém que lhe dissesse todos os dias o quão perfeita era, dos pés a cabeça. Merecia ser idolatrada como uma deusa, venerada todos os dias por tamanha pureza.

Merecia alguém, muito diferente dele, que apenas e conseguia chamar o nome dela. Ele nunca saberia como dizer a ela todas aquelas palavras elaboradas e frases bem feitas. Um homem que ficou conhecido por se igual a um herói de guerra, mas não passava de um criminoso sujo e desprezível. Era isso o que ele era: incompleto. Tão partido quanto o coração da Haruno.

"Sakura…"

Sentia-se imundo. Até mesmo pronunciar aquele nome lhe pareceu um ato profano. Mas…desejava desde o mais profundo de sua alma atormentada, vê-la, mesmo que seja de longe, cuida-la para que ninguém jamais ousasse machuca-la como ele havia feito. Se pudesse..se tivesse a capacidade de voltar atrás com certeza faria as coisas diferente, mas ele não tinha tal poder em seu leque imenso de jutsos. Apenas lhe restava o gosto amargo do arrependimento, do que foi e do que poderia ter sido.

"Ela não me odeia…"  

Pensou em auto-consolo. Um tolo, era isso o que o definia naquele momento. Um tolo apaixonado que havia perdido seu grande amor, antes mesmo de poder toca-la e provar o gosto da felicidade que ela havia prometido lhe entregar. Um miserável, afogado nos próprios pecados por ter destruído um sentimento tão imaculado quanto o da Haruno.

Como ele foi capaz de fazer aquele par de olhos chorar? De faze-la sangrar por dentro ao ponto de querer mata-lo… ao ponto de querer dar um fim no que sequer havia começado.

Mesmo com uma ficha interminável de delitos - e entre eles o pior de todos: Fazer Haruno Sakura sofrer - ele ainda queria sentir os braços dela em sua cintura, a respiração baixa em seu peito e os olhos brilhantes voltados unicamente para si. Um demônio, era isso o que ele era, tentando tocar nem que seja com a ponta dos dedos asas do anjo imaculado de cabelos cor-de-rosa.

"Primeiro você deveria se perdoar, não acha?"

O conselho do atual Hokague ecoou em meio a tantos outros pensamentos, quase gritando para ser ouvido. Parecia tão simples, mas era infinitamente mais fácil continuar culpando a si mesmo e conviver com aquilo, do que tentar se perdoar.

Amai HaruOnde histórias criam vida. Descubra agora