14: sintomas de gostar e... passado

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Lauv - Modern Loneliness
One Direction - Better Than Words

 🥊🎼

H U N T E R

Assim como um imã que atrai coisas, eu costumava atrair problemas - pelo menos é o que eu pensava. E é nesses momentos em que eu queria ser um pequeno peixe no mar sendo engolido por um enorme tubarão branco, onde tudo acabaria em uma só mordida, ou melhor, de uma só vez.

Gastar mais de uma hora para ir até a casa de Melanie era sempre complicado, e eu confesso que me arrependia um pouco quando colocava meus pés lá, apesar do motivo principal. Estar aqui era sempre uma mistura de choro, gritos, discussões e mais problemas. Um ambiente altamente inflamável para alguém como eu.

Agora eu estava brincando com o bebê na minha frente enquanto ela dava alguns passos ainda desajeitados pela grama verde. Eu podia ouvir a discussão e odiosos gritos dentro da casa atrás de mim, me deixando visivelmente incomodado, mas eu tentava me concentrar apenas nela apesar de me sentir um pouco agitado. Porém pouco a pouco começou a cessar, até não se ouvir mais nada.

— Você precisa ir embora, Hunter — disse a mulher na minha frente, ela tinha os olhos um pouco avermelhados. Eu sabia que de alguma forma era minha culpa, mas eu estava tentando mesmo com minhas limitações — Da próxima, avise ou venha só quando eu ligar. Não apareça assim.

Eu engoli a seco. Tinha passado os últimos dias ignorando suas ligações e ela estava completamente certa.

— Tudo bem... — peguei a garotinha no colo, olhando-a uma última vez antes de entregar à Melanie Nós dois sabíamos que a próxima vez demoraria, mas de novo: eu estava tentando. — Até mais.

Ela assentiu, a garotinha no seu colo me olhando curiosa e logo deitando a cabeça em seu ombro. Aquilo não era bom. Nada era. Eu olhava para a pequena coisinha em seus braços com medo. Medo de que ela pudesse não gostar de mim, medo de que eu pudesse assustá-la de alguma forma. E eu não conseguia conviver com isso. Não conseguia conviver comigo mesmo.

"Ela estava ali, eu podia sentir isso por causa do cheiro que emanava pelo local e o som de coisas quebrando, era sempre assim quando ela estava por perto. E eu sabia que era meu momento de ser destruído do mesmo jeito que ela fazia com os objetos também.

Meu corpo dizia que eu deveria correr, minhas pernas andando sozinhas de encontro a ela para que enfim isso pudesse acabar. Mas minha mente parecia um grande sinal de alerta dizendo que eu deveria correr, fugir e correr por ajuda antes que ela me pegasse.

Ela era meu bicho-papão. Exatamente como em Harry Potter. Se aquele não-ser fosse real, era nela que ele se transformaria.

E eu sabia que pagaria por cada minuto para proteger aqueles que eu amava do mesmo destino que eu tinha todas as vezes que ela aparecia em chamas daquele jeito."

Respirei fundo, tentando me acalmar naquele momento e tentando deixar aquelas memórias para trás. Olhei para a casa atrás de mim mais uma vez antes de partir. E aproveitando que estava naqueles arredores, me levei até o local onde eu gostava de frequentar, o bar de uma amiga que não via há um tempo considerável.

Não demorou muito para que eu chegasse, e quando adentrei ao lugar, pude ver Malina limpando o balcão enquanto tinha um outro pano pendurado em seus ombros. Ela era como minha mãe, mesmo que não soubesse disso, e tinha ajudado no processo de adoção de Julie também. Eu devia muito a ela.

Apesar de ela já ter certa idade, seu rosto e corpo era jovial para alguém da sua faixa etária. Ela batia um bolão e eu me perguntava quando meu pai iria abrir os olhos para isso. Os dois velhos fingiam que nada rolava tudo isso por causa de uma limitação idiota do meu pai: seu primeiro e até então único amor, minha progenitora.

NOCAUTE | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora