Narrador onisciente e a história de Sheilla

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Morgana estava sentada em um belo banco de madeira na portaria do prédio onde a mãe de Pandora morava. Pandora havia subido a um tempo considerado grande, Morgana tinha começado a treinar suas falas para a peça, mas já estava muito cansada de pensar nisso, decidiu começar a ler uma HQ que havia pegado na biblioteca mais cedo. Depois de um tempo, Pandora sai do elevador com o rosto inchado, vermelho e molhado por lágrimas que ainda rolavam, em sua mão havia um par de patins, ela para em frente Morgana soluça e fala:

-Você tá lendo Scott Pilgrim, eu amo!

Morgana por um segundo olhou para a HQ em sua mão e depois virando-se para Pandora fala:

-Você tá bem? O que aconteceu lá dentro?

Pandora começa a soluçar e mais lágrimas rolam por seu rosto, ela se senta no banco, tenta falar mas o choro a impedia. Morgana vendo Pandora em toda essa situação disse:

-Eu entendo, não precisa falar nada agora e enquanto não se sentir confortável para falar. Que tal irmos pra nosso cafofo, tomar um banho quentinho e tomar um cappuccino enquanto assistimos a Scott Pilgrim?

Pandora apenas dá um sorriso desengonçado em meio a uma carinha triste, essa atitude de Morgana aqueceu seu coração, e esse calor do coração lhe secou as lágrimas do rosto. Isso já foi o suficiente para Morgana entender que na língua de Pandora isso significava um bom sinal. 

Já na apartamento delas, depois que o cappuccino havia acabado e depois o filme se viu na mesma situação, Pandora e Morgana foram para o quarto. Estavam deitadas juntas na cama de Morgana, o abraço de Morgana aquecia seu coração mais do que nunca. Pandora passou a mão pelo rosto de Morgana, se aproximou e pegou impulso pra se levantar. Sentada encostada na parede, de pernas quase cruzadas e mãos passeando pelo braço de Morgana que estava deitada a sua frente, Pandora começou a contar a história do que aconteceu lá dentro do apartamento da sua mãe. Melhor do que ouvir Pandora contando a partir do seu ponto (de ouvinte) é ouvir sua mãe Sheilla contando, a partir do seu ponto (de personagem que viveu a história). E melhor do que isso é ouvir um narrador onisciente, que sabe de todos os fatos e os íntimos pensamentos e intensões, e por isso sabe o que omitir e o que se aprofundar. Iniciando com a história de Sheilla, mãe de Pandora. 

Sheilla tinha 18 anos, fazia faculdade na cidade onde crescera e vivera até então. Em certo final de semana, estava em casa quando seu pai chega. O pai de Sheilla, tinha problemas com bebidas, não que vivia sempre bêbado mas quando bebia ficava agressivo, escandaloso, explosivo e como se não bastasse, gastava grande parte do seu dinheiro nisso. Nesse dia não foi diferente, chegava já a noite em casa e gritava por sua esposa, a mãe de Sheilla. A mãe dela pelo contrário, não possuía hábitos viciosos ou tóxicos, mas tinha natureza forte e livre, não obedecia as ordens do marido se essas lhe pareciam tolas. Nesse dia não foi diferente, mesmo sabendo que seu marido não gostava que ela saísse sem ele e/ou com um outro homem, ela estava na carro com seu melhor amigo de infância. O pai de Sheilla chegando em casa e não encontrando sua esposa, lembrou-se dos comentários daqueles que ele chamava de amigos que diziam sobre adultério e masculinidade frágil todas as vezes. Sheilla da cozinha escutou seu pai gritando no quintal, ele reclamava para a sogra sobre o quanto sua esposa era péssima em ser esposa. Sheilla já não surpresa com toda aquela situação, com medo fez o que mais tarde seria um de seus males, fugir das situações. Trocou de roupa, pegou seus preciosos patins e saiu de casa. Na porta de casa viu o carro em que sua mãe estava dentro chegando, gritou "pai" e fez movimento de beber. Na rua debaixo a da sua casa havia uma pracinha, andava de patins lá. 

Uma coisa que Sheilla e Pandora compartilhavam ao andar de patins era que suas mentes precisavam estar focadas em andar de patins, caso contrário perdiam o equilíbrio fácil e caiam. Outra coisa que compartilhavam ao andar de patins era que elas não gostavam de cair, era para elas humilhante e sinal de retrocesso, embora Pandora sabendo que esse pensamento estava errado ainda ficava presa nele.

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