Capítulo 21 - Hashis.

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— Certo, vamos pedir imagens das câmeras dos túneis e tentar pegar a placa do carro. — Murmurou o investigador Ian Born, com os olhos pregados em seus documentos presos em uma prancheta.

Eu e Bex esperávamos sentados na Delegacia, chegamos lá parecendo crianças desesperadas para contar algo inédito que havia acontecido, mas todos os agentes pareciam achar normal acontecimentos deste tipo – perseguição –; provavelmente já estavam acostumados.

Aguardávamos para Bex ir prestar seu depoimento, ambos sentados nas cadeiras grudadas da recepção enquanto o investigador permanecia de pé à nossa frente. Bex contaria exatamente tudo o que vivenciou na noite em que me resgatou. Me peguei curioso para ouvir a sua versão da história, do porquê ela fora até o galpão: provavelmente já havia me dito, mas tantas coisas aconteceram que eu me esqueci.

Encarei suas mãos agarradas uma a outra enquanto descansavam em seu colo, ela estava com a cabeça levemente levantada enquanto admirava algo... segui seus olhos e vi o que a deixava tão maravilhada: o investigador Ian; enorme demais, estiloso demais, carrancudo demais... Bex tinha gostos estranhos; seu olhar era de puro desejo para o homem, que estava um tanto absorto em seus documentos para perceber as encaradas nada sutis de Bex.

Chutei suas pernas levemente, fazendo-a ter um espasmo com o susto. Seu rosto caiu e virou, revelando o band aid que cobria o lado direito de sua testa. A feição de admiração e luxúria mudou completamente para uma perdida, como se eu tivesse a tirado de um sonho picante.

Bex esperou para ouvir o que eu tinha a lhe dizer, mas apenas toquei o canto dos meus lábios o limpando; murmurei de forma inaudível um:

— Limpe a baba. — Dei um sorriso travesso e apontei com o queixo para o investigar Ian, as bochechas de Bex sequer coraram.

— Ele é uma delícia. — Murmurou de volta, se abanando. Balancei a cabeça negativamente achando graça daquilo.

Garota atrevida.

Bex puxou minha atenção de volta abrindo as mãos e as afastando como se estivesse medindo algo, acompanhei curioso.

— Deve ser desse tamanho. Uma terceira perna. — Sussurrou de volta me arrancando uma risada abafada.

Antes de soltar a mais alta gargalhada da minha vida, olhei para os lados encarando a Delegacia quase vazia. Torci para que ninguém tivesse visto aquilo; poderíamos ser presos por desacato á autoridade, talvez.

— Você é nojenta! — Continuei minhas mímicas com os lábios, me surpreendendo por Bex compreender tudo.

Ela continuou a brincadeira com o pênis imaginário até Ian se remexer, abaixar a prancheta e nos encarar. Paralisamos juntos enquanto segurávamos o riso.

— Algo errado? — Perguntou de forma casual, seus redondos olhos castanhos caíam de mim para Bex.

Me sentia como um adolescente na sala do diretor da escola.

— Enfim... — Ian continuou assim que viu que nosso silêncio já era uma resposta. — Poderiam me confirmar qual veículo era, e qual exatamente o horário que ocorreu a perseguição?

— Era um Chevy Tahoe 2019, cor preta. — Bex lhe explicou de imediato ganhando o olhar frio e cansado do homem. — Percebi que havia um estepe trocado, talvez fique mais fácil de localizar assim...

Ian assentiu anotando tudo o que minha amiga falara em uma minúscula caderneta preta que havia acabado de tirar do bolso traseiro.

— Horário?

— Por volta de 10 horas. — Ele assentiu novamente sem tirar os olhos das anotações.

Um silêncio reinou entre nós, quando me dei o trabalho de quebrá-lo para perguntar se a perseguição de hoje mais cedo teria algo a ver com a ameaça sobre minha família, Ian Born me cortou.

𝗖𝗢𝗡𝗦𝗧𝗘𝗟𝗟𝗔𝗧𝗜𝗢𝗡Onde histórias criam vida. Descubra agora