Capítulo 9

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Ele está no mesmo avião, a menos de um metro de distância, não preciso nem esticar o braço para tocá-lo. Em sete anos nunca estive tão perto dele e isso está destruindo todas as barreiras habilmente montadas ao meu redor. Quero gritar, abrir a porta do avião e arremessar ele para fora, quero chegar em Curitiba e socar meu irmão. Mas não vou fazer nada disso. Não vou deixar que esse turbilhão de emoções se agitando dentro de mim transpareça, não vou causar uma cena, vou ser superior, ou pelo menos o máximo de superior que eu consigo, fingir que a proximidade não me abala.

Durante todo o longo trajeto de uma hora e meia, ninguém além da comissária de bordo abre a boca, nos limitamos a responder as perguntas dela e só. Meu corpo inteiro dói pela postura rígida, mas não consigo relaxar. Mantenho os olhos pregados na janela, com alguns intervalos entre meu celular e a tela do computador de bordo que mostra o tempo de viagem. Minutos intermináveis.

Assim que o comandante anuncia que vamos aterrissar tenho que me controlar para não soltar um suspiro de alívio, preciso urgentemente colocar uma distância considerável entre nossos corpos e principalmente, preciso ir ao banheiro, não tive coragem de sair do meu lugar, teria que passar por ele, me espremer entre nossos assentos para chegar ao banheiro e sou incapaz de fazer isso, mesmo que fosse sentir certa satisfação em esfregar minha bunda, literalmente, na cara dele, não consigo levantar. Só então percebo que não estou pronta para nenhuma espécie de contato físico com ele, nem um simples esbarrar.

O avião aterrissa e um segundo após a equipe de bordo abrir a porta, ele já está descendo as escadas, o movimento é tão rápido que não dá nem tempo de eu levantar da cadeira, parece que não sou a única que não aguenta a proximidade física entre nós. Ótimo.

— Você está bem? — Amanda pergunta enquanto pegamos nossas bolsas e seguimos para a saída do avião.

— Sim. — Respondo, a mentira na ponta da língua. Ela concorda com a cabeça e sei que também não acreditou na minha resposta.

Desço do avião e vejo o Rafael falando algo com o meu irmão e depois seguindo para um dos carros que está estacionado perto do hangar, ótimo.

Esqueço por alguns minutos toda a situação da viagem e me permito um segundo de alegria por ver o meu irmão, ele vem em minha direção com um sorriso enorme no rosto e abre os braços para me abraçar.

Schatz. — Ele fala assim me afundo a cabeça no seu peito e contorno seu corpo com os braços. — Que saudades! — Concordo com a cabeça, é a única resposta que consigo dar. Tenho que me controlar para não chorar dentro do abraço acolhedor e protetor do meu irmão. Aqueles dias em Curitiba serão uma prova de resistência para mim e eu sentia que estava falhando antes mesmo de começar.

Nos afastamos e ele segura meu rosto entre as mãos, me analisando.

— Está tudo bem? — Ele pergunta com uma ruga de preocupação surgindo na testa, sou incapaz de esconder as emoções dele e isso me irrita.

— Sim, um pouco cansada do voo, só isso. — Respondo me afastando um pouco. Ele concorda mesmo não acredito. Parece que esses dias serão repletos de mentiras.

Ele se afasta um pouco e olha em direção a minha amiga que está parada a poucos passos de distância de nós dois. Observo meu irmão avalia-la da cabeça aos pés fazendo o rosto da Amanda ruborizar. Interessante.

— Está é Amanda, minha amiga. — Falo apontando para ela. — Este é Vinícius, meu irmão.

Eles se cumprimentam com um leve aceno de cabeça.

— Vamos? — Vinícius pergunta esticando a mão para segurar na minha.

— Por favor. — Seguro a mão dele e sigo em direção ao carro que está a nossa espera.

O PECADO VICTÓRIA - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora