Capítulo 15

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Fico na frente da porta olhando para os dois homens que me encaram.

— É assim que você recebe o seu irmão? Nem um abraço? Um sorrio pelo menos? — Ele fala em tom de brincadeira, mas percebo a apreensão na sua voz, principalmente por que não consigo desviar os olhos da figura atrás dele e das malas no chão, sim, malas, no plural.

— O que você está fazendo aqui? — Consigo desviar os olhos e encarar o meu irmão. Ele engole em seco antes de responder.

— O escritório abre na segunda, quero estar aqui na primeira semana, alinhar as coisas. — Ele responde e não tenta entrar no apartamento.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto agora olhando para a segunda figura no corredor.

— Vou supervisionar o escritório nos primeiros meses.

— Vou reformular a pergunta. O que você está fazendo na minha casa? — Minha voz sai firme, mas dentro de mim um turbilhão de emoções está em conflito.

— Nós vamos ficar aqui — meu irmão responde e percebo que ele move o corpo alguns centímetros ficando de frente para mim e tampando minha visão do Rafael — o apartamento é enorme, não tem por que ficar em um hotel.

Quando ele termina de falar, coloca as mãos nos meus ombros e me afastando, entrando no apartamento com as malas logo em seguida, o Rafael segue seus passos e ninguém fala nada.

Fecho a porta e me viro lentamente para os dois que agora estão no meio da sala, com as malas ao redor me encarando.

— Ele me falou que você sabia — o Rafael é o primeiro a quebrar o silêncio, não consigo identificar o tom das palavras dele, mas sinto que é um pedido de desculpas e a dor nos olhos dele me deixam confusa, desvio o olhar e encaro meu irmão.

— Eu esqueci, achei que não fosse um problema — o Vinícius responde colocando as mãos no bolso. Ele não esqueceu merda nenhuma, nós dois sabemos disso, ele não em avisou propositalmente e agora entendo as joias a mais.

— Amanda, mostra para o Rafael onde é o quarto de hospedes — falo ainda sem tirar os olhos do meu irmão que não desvia o olhar — eu e você vamos conversar no escritório — me viro e sigo em direção ao escritório, escuto os passos dele atrás de mim.

Não sei como não desabo, nem como estou conseguindo manter a calma e a firmeza na voz e nos passos, minha vontade é de arremessar as coisas na cabeça do meu irmão, de atirá-lo pela janela, que merda ele acha que está fazendo? O apartamento é meu, ele não pode chegar aqui e impor a presença do Rafael, não daquela forma, não sem me dar a chance de me preparar.

Entro no escritório e escuto ele fechando a porta ao passar, apoio as mãos no tampo da mesa e encaro as janelas, preciso respirar algumas vezes antes de me virar e encarar ele.

— Vic — ele dá um passo na minha direção e eu recuo, ele entende a mensagem e para.

— Por que não me avisou? — Pergunto sem desviar os olhos do rosto dele.

— Por que eu sabia que você não ia ficar feliz. — A verdade doí quando me atinge, ele sabia que eu não ficaria feliz e mesmo assim fez.

— Então por que você fez isso?

— Sinceramente? — Ele me pergunta e passa a mão pelo rosto. Percebo o peso que ele parece estar carregando nos ombros e as marcas de cansaço no rosto.

— Sim.

— Por que quero minha irmã de volta, cansei disso, Vic. Cansei. Cansei de não te ter nos fins de semana, nas festas de fim de ano, de não poder fazer uma festa de aniversário, de te ver uma vez por mês, ou menos, se contar quantas vezes eu te vi ano passado, não enchem duas mãos. — Dor. Dor nas palavras, na expressão e nos olhos dele. Dor que me destrói e me dilacera.

O PECADO VICTÓRIA - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora