Capítulo 19

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— Acho que chegou a hora da gente conversar.

— São duas da manhã.

— Não vou deixar você fugir, vamos conversar! — Ele fala se apoiando na parede e me encarando.

Eu poderia expulsa-lo do quarto, mas tinha decido dar uma chance para o Gustavo, para tentarmos ter algo e eu só conseguiria ir em frente com isso se colocasse um ponto final definitivo com o Rafael, está na hora de conversar.

— Pode falar.

Ele respira fundo e percebo que está tomando coragem para começar, me sento na cama colocando uma distância segura entre nós e sei que vou precisar me apoiar em alguma coisa.

— Eu sei que errei com você naquela noite, você não faz ideia o quanto me odiei e sofri por cada palavra que falei para você, era tudo mentira, sempre foi mentira. — Ele começa e prendo a respiração ansiosa pelo que ele fala.

— Quando a gente se conhece, você tinha sete, oito anos, era uma criança, eu vinha de família pobre e só tive o privilégio de estudar na mesma escola que o seu irmão por que minha mãe era faxineira, você sabe dessa história. Eu tinha treze anos na época e o Vinícius me tratou como um igual, ele foi na minha casa várias vezes, não sei se você sabe, morri de vergonha, tinha vergonha dos meus pais, de ser pobre, de ter que oferecer pão com mortadela para ele, mas ele nunca se importou. Nossa amizade cresceu e você começou a demonstrar que gostava de mim, mas nós éramos crianças, eu estava começando a descobrir o desejo por meninas e você era a irmã mais nova do meu melhor amigo.

"Mas eu me apaixonei por você mesmo assim. Nunca fui amado, nunca recebi carinho e você estava sempre lá, prestativa, atenciosa, você ria das minhas piadas e parecia estar sempre disposta a me ouvir falar, não foi do dia para a noite e não sei dizer quando aconteceu exatamente, mas me apaixonei pela menina de cabelos castanhos e olhos azuis. Então crescemos, e quanto mais eu crescia mais eu via o quanto aquilo era errado, você tinha o mundo a seus pés e eu não tinha nada, passei a odiar você, ou melhor, o que você representava para mim, sempre que chegava o seu aniversário, ou o natal e eu não tinha um real para te comprar um presente, me sentia um fracassado.

Você cresceu e seu corpo se transformou, com dezesseis anos você deixava várias meninas irritadas pelas curvas, pelos seios fartos, mas você continuava se escondendo embaixo das camadas intermináveis de roupa, mas eu te via de biquíni, e mesmo com as roupas, eu via a mulher por baixo e aquilo despertou o meu desejo de forma avassaladora. Você era menor de idade e eu já vinte e três anos, tinha acabado de sair da faculdade, já trabalhava na empresa do seu pai e já tinha o meu dinheiro, mas ainda era pouco. Eu saia todos os dias, ficava com diversas mulheres e nenhuma era você".

Ele parou de falar para respirar e se aproximou, sentando de frente para mim na cama. Meu corpo está anestesiado pelas suas palavras, pelas revelações, não consigo me mover, só ficar sentada escutando.

— No seu aniversário de dezoito anos consegui comprar o primeiro presente, uma correntinha de ouro com um pingente de brilhantes, eu me senti tão orgulhoso naquele dia, não era uma bijuteria, era algo valioso, mesmo que não fosse um colar de diamantes no valor de um apartamento, era o pouco que eu podia te oferecer, era alguma coisa. Nessa época nós dois éramos órfãos de pai e mãe, só tínhamos uma pessoa no mundo, o Vinícius. Ele passou a semana do seu aniversário empolgado, a irmãzinha dele iria fazer 18 anos, viraria adulta, ele parecia uma criança, uma noite antes da festa comentei com ele, na brincadeira, que ele teria que se preparar para os namorados que viriam, e ele explodiu, ficou tão furioso e falou que não aceitaria que homem nenhum tocasse em você e que eu teria o dever de ajuda-lo a te proteger, aquilo me destruiu.

O PECADO VICTÓRIA - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora