19: O Próprio Diabo

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CAMILA CABELLO'S POV

Chega a ser cômico como algumas pessoas reaparecem em nossas vidas e mudam questões que jurávamos ter certeza. Há mais de dez anos que não penso em Lauren Jauregui. Desde que entrei na faculdade, nunca consegui conversar com ela direito. E há anos não ia para Columbus, por isso não a via nem nos feriados em família. 

E quando ela aparece, chega me beijando e implorando por sexo casual, por conta de um azar que ela diz ter. 

Minha história com ela começou há muito tempo, quando nossas mães se tornaram amigas inseparáveis. Nós tínhamos uns nove anos e a Lauren era um terror. Ela me obrigava a jogar futebol, queria destruir os meus brinquedos e se eu não deixasse ela brincar comigo, ela batia em mim até eu ceder. E no fim, ela chorava e quem levava bronca, era eu. A odiava por isso, então sempre que podia, a derrotava nos jogos e ela fazia um escândalo. Como sempre, competitiva. 

As coisas mudaram um pouco quando chegamos a adolescência. Nossos corpos estavam se desenvolvendo e eu comecei a explorar tudo. Aos quatorze anos me assumi lésbica e a única pessoa que não aceitou isso, foi o meu pai. Com o tempo eu aprendi que nunca conseguiria agradá-lo, independentemente do que eu fizesse.

Enfim, Lauren estava sempre aprontando algo contra mim. Certo dia, enquanto ficava com uma garota, ela contou ao pai dessa garota o que estávamos fazendo. Soei frio pelo resto desse dia, quase fui obrigada a namorar a garota por culpa dela. Aos quinze anos, quando namorei Ally, Lauren quase enlouqueceu. Ficou uns três dias sem falar comigo e com a Allyson. 

Nunca entendi direito o motivo dela ser assim, pensei até que poderia ser ciúmes, mas ela sempre me odiou e eu também sempre a odiei. Éramos como cão e gato e tudo o que uma fazia, a outra achava um modo de colocar defeito. Meu sabor favorito de sorvete para ela era o pior, ela me dedurava para a minha mãe e sempre jogava a bola de vôlei em meu rosto. Ela era o próprio diabo.

Quando estávamos entrando no último ano, Lauren viajou para a casa dos avós, para ficar com eles por um mês. No começo, achei que seria um alívio não ter ninguém enchendo o meu saco durante as férias, poderia me divertir de verdade. Porém, não foi bem isso que aconteceu... Todos os dias sentia que faltava algo, ninguém brigava comigo para jogar videogame ou ria por eu ter escorregado em uma casca de banana (que ela mesma colocou no chão). Nunca imaginei que todo o ódio que eu sentia pela Lauren, era porque eu gostava dela.

É, eu gostava dela. Mas, jamais assumiria, muito menos para ela. Ela voltou da viagem antes da data prevista e eu fiquei ansiosa, esperando que ela viesse me visitar. Mas isso não aconteceu. Passaram-se três dias. Uma semana. Duas semanas. Três... E quando nossas férias acabaram, ouvi uma conversa que minha mãe teve com a mãe de Lauren e descobri que a avó dela havia falecido naquele verão. Nosso último ano veio e ela voltou um pouco diferente. Havia cortado os cabelos na altura dos ombros, pintado de preto e tatuado uma libélula na nuca. 

Algumas semanas depois, ela voltou a falar comigo, como se nada tivesse acontecido e eu resolvi respeitar a decisão dela de não me contar nada. Ela voltou a ficar no meu pé o tempo inteiro. A pressão do vestibular não me deixou pensar direito em muita coisa e em pouco tempo eu comecei a ignorar as matérias e foquei em aproveitar para ir em festas e beijar todas as garotas que eu podia. 

Quando estava quase reprovando em uma matéria, Lauren ficou enchendo o meu saco por quase um dia inteiro, dizendo que eu era péssima e não conseguiria passar. Então fizemos uma aposta, caso eu reprovasse, sairia pela rua com a camiseta do time de futebol que ela torce e queimaria a camiseta do meu time. Até no futebol, éramos adversárias. E bom, eu trapaceei, colei na prova e passei. Caso eu conseguisse passar, ela beberia até eu decidir quando deveria parar. Lauren nunca havia bebido na vida.

O grande problema foi: nos trancamos no quarto, ficamos sozinhas bebendo e falando coisas aleatórias. Aquela seria uma das últimas festas em que estaríamos juntas e no meio disso, eu a beijei. Fiz aquilo que sempre quis, mas que escondia de todas as formas. O primeiro beijo levou ao segundo e assim seguimos. 

Chegamos ao fim da noite em minha cama. Nunca tinha transado com alguém, Lauren havia sido a primeira, mas ela não sabia disso. Não sabia se valeria a pena contar, porque também não sabia como seriam as coisas na manhã seguinte. Apesar de estar bêbada, ainda conseguia sentir e lembrar de tudo. Foi uma noite especial.

No dia seguinte, não sabia o que fazer, o que dizer e decidi esquecer, continuaria agindo como sempre, como se nada tivesse acontecido. Ela nunca deu sinal de que queria conversar sobre o que aconteceu ou sobre o que havíamos confessado naquela noite. Absolutamente nada. Estávamos mais estranhas do que o normal, bem afastadas e na festa de formatura, levei um belo tapa na cara.

Meu rosto ficou roxo por alguns dias, devido a força usada. E de novo, quem saiu chorando foi a Lauren. 

Eu era babaca, naquela noite sabia que o que eu queria era ela e não fiz nada. Fui embora de Ohio com palavras entaladas, um olho roxo e um coração partido. 

E agora, anos depois, ela reaparece de surpresa, dizendo e fazendo coisas que jamais imaginei que faria. Mostrando o seu lado divertido, atrevido. Ela estava ainda mais bonita desde a última vez que a vi. Estava mais madura e sexy. Mas uma coisa continua a mesma, o lindo sorriso que tive a capacidade de esquecer durante anos.


Eai, o que acharam desse capítulo com o ponto de vista da Camila?

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