17: A devolução

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Tenham uma ótima leitura!


— Ca-Camila?

— Podemos conversar? — alternou seu olhar entre Alexa e eu.

Não conseguia acreditar que ela estava em minha frente de novo, depois de toda a vergonha que passei em nosso último encontro. Será que havia me visto correr do Thunder e chorar no meio-fio? Impossível não ter visto. Todo mundo que morava naquela rua deve ter escutado meus gritos.

— Devo chamar a polícia? — questionou Alexa.

— Não, está tudo bem, obrigada. Pode nos deixar a sós, por favor? — ela logo obedeceu e nos deixou sozinhas. Levantei da cadeira e escorei-me na frente da mesa, cruzando os braços. — O que faz aqui?

— Uau, belo jeito de cumprimentar alguém. Oi para você também, Lauren.

— Oi. — revirei os olhos. — Como me encontrou? Instalou algum chip rastreador em mim? Você me acha em qualquer lugar.

— Você pode sair um pouco? Preciso mesmo conversar com você. Podemos almoçar?

Sem pestanejar, aceitei o convite. Afinal, estava quase na hora do almoço mesmo e eu estava faminta. Indiquei um restaurante perto do prédio, assim poderíamos ir a pé. O caminho foi silencioso, estava envergonhada demais até para contar piadas. Assim que chegamos, fizemos os pedidos.

— O que quer falar comigo? — perguntei. Estava ansiosa para saber como ela me encontrou e o que queria comigo.

— Vim te devolver. — colocou a minha jaqueta de couro em cima da mesa. Gelei. Se ela trouxe a jaqueta e ainda está viva, é porque ela virá atrás de mim.

— Ah Camila, não! — escondi meu rosto em minhas mãos. — Não me diga que ela descobriu tudo e virá atrás de mim, feito uma psicopata querendo me torturar pelo suposto chifre. — retirei as mãos do rosto e brinquei com o anel que minha avó me deu antes de falecer. Meus olhos estavam arregalados e minha pulsação estava acelerada. Eu sou muito nova para morrer.

— Do que está falando? — questionou, franzindo o cenho e apoiando o cotovelo na mesa, segurando seu rosto com a mão.

— Da sua namorada!? Ela descobriu, não é? Ela tentou matar você? Ela tentará me matar? Camz, por favor, não deixe ela fazer nada comigo, eu já sou bem fodida de nascença!

Se a Hailee fizesse algo contra mim, eu estaria ferrada. Não tenho um pingo de sorte, imagine com alguém tentando atrapalhar tudo a todo custo?

— Lauren, você escuta o que diz?

— Camila, eu juro que não queria estragar a relação de vocês, não sou a vilã! Olhe bem para mim, meu cabelo não é tão sedoso quanto os delas e eu não tenho a metade da beleza delas. Não quero estragar nada, sei que sou culpada mas não fizemos nada, você sabe, não é? Não houve nada, por favor, diga isso para ela. — implorei, puxando suas mãos.

— Para! Ela não sabe de nada. — parei de puxar seus dedos e deixei que meu queixo caísse.

— Como não sabe!? — recolhi minhas mãos e repousei-as em meu colo.

— Contei uma história. Sempre levo um pertence dos meus pais ou de Sofia comigo quando viajo, e usei isso para justificar. Disse que a jaqueta era da Sofia.

— E ela acreditou? — perguntei, contando nos dedos a nossa diferença de idade, porém Camila interrompeu meu cálculo.

— Ela é pouca coisa mais velha que nós, vocês tem praticamente a mesma estatura. — deu de ombros. Voltei a brincar com meu anel.

— Você mentiu mesmo? E onde está a sua postura de mulher séria? — questionei.

— Preferia que eu tivesse contado a verdade de uma coisa que não fizemos?

Bom, até que ela tinha razão, não houve nada além de um beijinho e uma mão boba.

— Poderíamos fazer-

— Não, não começa. — me interrompeu antes que pudesse completar a frase. Bufei alto e cruzei os braços abaixo dos seios. — Não podemos, sou comprometida.

— Comprometida, mas não desgruda os olhos do meu decote. — ela estava olhando desde que nos sentamos, mas estava ignorando ao máximo. Camila engoliu em seco e desviou o olhar na hora. — Não vai demorar muito. Tenho algemas. — sorri inocente.

— Algemas? — não deveria ter dito isso. Não devo contar-lhe sobre meus fetiches, já que ela não quer cumprir nem o básico. Vê-la algemada na cama seria uma visão e tanto...

— Alma gêmea! — disse a primeira coisa que veio em mente. — Eu disse alma gêmea, isso, você e a sua namorada são almas gêmeas. Acho que isso não vai afetar a relação de vocês. — óbvio que vai, pensei. Aproximei meu rosto do dela, por cima da mesa.

— Eu. Não. Vou. Fazer. Isso. — ela disse pausadamente, aproximando-se também.

— Duvido que vai resistir se eu sentar no seu colo. — ela prendeu a respiração, soltando de uma vez só em seguida. Essa ideia fez ela repensar.

— Lauren...

— O escritório está vazio, horário de almoço. — expliquei, ansiosa. — Minha sala tem trava na porta, podemos aproveitar. — estávamos próximas, apesar da mesa nos separar. Ela estava avaliando a situação, conseguia sentir o seu corpo tenso. — Vamos, Camila, por favor, depois eu largo do seu pé. Arranjo alguém, bonito, carinhoso e que goste de mim de verdade. Cada uma segue a sua vida, nem vamos lembrar que isso aconteceu.

— Mas eu estaria traindo ela.

— Mas estará me fazendo um favor.

Seria apenas um favor, depois disso seguiríamos nossas vidas. Não haveriam corações partidos, relações arruinadas ou sequer, sentimentos. Certo?

— Você não vai me dar um tapa ou ficar emburrada comigo como fez no passado?

— Não vou ficar emburrada, pois agora não tem tanto significado para nenhuma de nós. — no passado havia ficado chateada, revoltada, porque ela tratou tudo com completo descaso e me ignorou por muito tempo. Todavia, agora não importa mais, somos adultas e isso não vai passar de uma transa qualquer, sem sentimentos.

— Quem disse que não teve significado? — essa pergunta quase me fez perder o clima. Eu gostava dela e tinha dito isso quando ela me tirou a virgindade. E só agora depois de mais de dez anos, ela vem com essa história de significado.

— O escritório está vazio. — repeti em um sussurro, alisando sua coxa por debaixo da mesa. Precisava manter o foco.

— Você vai sentar no meu colo, Lauren? — assenti e mordi o lábio inferior. Era hoje. Finalmente, consegui.

Procura-se o Amor | CAMREN G!POnde histórias criam vida. Descubra agora