Subo a rampa que leva ao salão principal da biblioteca depois de ficar encarando a última carta de Clara Avilar por vários minutos. Em um banco grande de madeira está sentado senhor Olavo, com suas roupas sempre elegantes e um olhar sereno enquanto lê um exemplar de Guerra e Paz. Me sento do seu lado e sem tirar os olhos da leitura, diz:
- E então?
Desolada, respondo:
- acabou...as cartas de Clara - senhor Olavo permanece em silêncio e depois de alguns minutos abro a boca- não pode ser só isso....é tão injusto! Todos precisavam saber que quem matou Clara foi Marcos
Senhor Olavo suspira e fecha o livro que estava lendo e depois olha para mim
- Você acha que foi Marcos quem a matou?
- Claro! Ele estava corroído de ciúmes.
Senhor Olavo olha para a direçao da rampa que leva ao porão da biblioteca e se mantém calado
- senhor Olavo, eu sinto como se ainda não tivesse acabado com essa história...não há mais o que se fazer - sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto - mas não posso ir embora... não posso deixar Clara
Senhor Olavo supreendemete me puxa para um abraço enquanto vergonhosamente choro desolada em soluços.
Depois de algum tempo calados, eu sinto que devo falar com ele sobre o assunto a especíe de reencarnação de espirito de josephina para Clara
- senhor Olavo, quando li sobre a revelaçao de Clara a respeito de Josephine...digo... elas serem.... - tento procurar a palavra certa pra não deixar transparecer a ele a minha obcessão sobre o assunto - serem...
- Iguais - ele completa calmamente
- Sim, elas serem iguais. Eu procurei uma pessoa especializada no assunto. Não falei de nomes, apenas que havia conhecido a história e fiquei interessada sobre. A especialista me disse que isso pode ser verdade.
- E é - ele diz simplesmente me deixando surpresa
- então você não acha tudo isso loucura? Quer dizer, nao que eu ache isso mentira ou loucura o que Clara conta em suas cartas...ainda mais essa parte, mas teva receosa perante ao seu jugamento.
Ele suspira e olha alguns breves segundos para o chão
-acho que Amália nunca lhe contou em que eu sou formado
Balanço a cabeça negando.
- Eu sempre fui fascinado por literatura, mas a grande paixão da minha vida é a medicina e o cerebro humano- ele sorri brevemente- fui para os Estados Unidos com 19 anos estudar e depois de alguns anos formado me apaixonei pela medicina oriental. Sou neurocirurgião e neurocientista, vivi muitos anos morando em Boston e quando um grande amigo estava morrendo de um câncer sem cura aqui em Florais, me pediu para que cuidasse da sua neta uma vez que os pais dela haviam morrido quando ela era um neném
- Amália - sorrio ao dizer o nome dela
- Sim - ele também sorri - minha doce Amália, forte, inteligente, leitora voraz. Casou- se cedo,e começou uma vida ao lado do marido. Resolvi me mudar para Belo Horizonte e la começei a conhecer o budismo e o hinduísmo.
Ele se levantou e fez um gesto para que eu o seguisse.
- Essas duas grande religioes falam muito sobre a transiçao da alma e da sua essência eterna - senhor Olavo fala enquanto vai andando por entre as prateleiras.
- A alma nunca muda, nunca acaba - ele para diante de uma coleçao de livros hinduistas, pegando um e nos guiando ate à mesa.
- A alma só muda de corpo - ele abre o grande livro, revelando diversas ilustraçoes
- É claro que é supreendente o fato de que Clara e Josephine tenham tido a mesma aparência física...porém o mais importante é a essência de suas almas. Elas eram a mesma pessoa em seus coraçoes por entre os séculos e as vidas.
- Josephine e Clara viveram nessa mesma região em épocas diferentes. O senhor acha que em algum lugar dessa cidade está a sua alma imortal?
Senhor Olavo fecha o livro e olha para mim
- talvez sim, talvez não...não há um meio como saber.
- Queria conhece- lá, conhecer sua alma e também quem sabe...a de Dante
Senhor Olavo me olha por alguns minutos e muitas emoções parece passar em seus olhos.
- Tenho que ir - ele fala se direcionando ao corredor que pegou o livro e eu o sigo.
Ele deposita o livro em seu lugar e eu o
pergunto:
- Senhor Olavo, o que vai acontecer agora? Depois que as cartas acabaram?
Ele continua caminhando devagar, mas para por um breve instânte
- Algo me diz que você saberá o que fazer - ele fala sem olhar em minha direçao e depois vai embora
Minhas botas amassam o gramado e o vento forte sopra meus cabelos, em minhas mãos carrego um punhado de rosas vermelhas enquanto caminho por entre os túmulos do cemitério das 15 almas. Paro em frente a desgastada lápide de Clara Avilar e sinto meu coraçao se despedaçar, as lágrimas desenfreadas banham todo o meu rosto
- você foi uma grande mulher Clara....gostaria de poder ter te conhecido. Eu nunca vou me esquecer de você.
Me abaixo para depositar as rosas junto a sua lápide
- o que aconteceu com você realmente?- sussuro angustiada.
Quando levanto meus olhos, vejo uma mulher parada a uma certa distância no começo da mata fechada que fica logo a frente. Ela parece usar um vestido, mas não consigo destinguir suas feiçoes, seu cabelo levemente alourado que tampa boa parte de seu rosto, as mãos unidas e na frente do corpo, ela parece estar olhando fixamente para mim e começo sentir algo estranho, não estou com medo...só não sei muito bem como descrever o que sinto. Ela olha brevemente para trás e uma menina aparece ao seu lado vindo da mata, seus cabelos amarrados estilo maria chiquinha meio ruivas e parece segurar uma boneca de pano em suas mãos. A mulher pega a mão da criança. E agora tenho quase certeza que as duas olham fixamente para mim
- agora eu sei o que você fazia aqui aquele dia- diz Felipe atras de mim com as mãos nos bolsos.
Eu solto um grito e coloco a mão no coração.
- você quase me matou de susto!
Ele ri e chega mais perto, de modo que minhas costas estão roçando seu peitoral.
Quando olho para onde a mulher estava com a menina, elas simplesmente desapareceram.
- eu sempre vinha aqui quando criança, Elisa não gostava muito então eu vinha sozinho. É tão estranho estar aqui sabendo da história dela, sabendo que Clara morreu por amor.
Suspiro triste e Felipe toca meu braço fazendo meu corpo todo se arrepiar. Fecho os olhos, então a verdade me atinge: eu vou embora e não irei mais vê- lo, sinto uma onda de tristeza me afogar e sem nenhuma hesitaçao me viro para abraça- ló. Felipe me engole em seus compridos e fortes braços, sinto seu nariz em meus cabelos e minha garganta parece apertar. Como vou dizer adeus a ele? A esse homem que parece ser uma parte de mim
- venha jantar em minha casa - ele diz com uma voz rouca
- seu pai...
- papai gosta de você, ele só nao quer admitir. É só um jantar, sem segundas intençoes...eu juro - ele ri e sinto seu peito balançar levemente, meu coraçao dá um salto e eu digo:
-tudo bem.
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Na linha do tempo ( Em Pausa)
RomanceManuela Viana é uma mulher forte e sonhadora, sempre lutou para realizar seus sonhos, inclusive o seu maior desejo: ser reconhecida como autora e publicar seus livros no mundo todo. Ainda no caminho desse grande sonho, Manuela trabalha como agente...