Capítulo 4

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Será que eu estava maluca, ou acabei de escutar  passarinhos cantando? Abro meus olhos devagar e pisco lentamente, o quarto está levemente iluminado e exatamente tudo nele me faz pensar que talvez eu esteja em uma espécie de outro mundo. Me levanto da cama e abro a janela verde de madeira, a luz forte do sol me atinge  momentâneamente  me cega. Há um lindo jardim com flores e muito verde onde pessoas andam  e conversam tranquilamente, realmente nada por aqui se parece com São Paulo. Decido tomar banho e me vestir, estou ansiosa para conhecer a cidade e a igreja de Nossa Senhora da Guia. Meu estômago ronca quando sinto o cheiro  extraordinário de uma comida desconhecida, vou andando ate a fonte do prazer e observando tudo ao meu redor, existem fotos de família nas paredes arranjos com flores provavelmente colhidas esta manhã. A sala de refeição esta parcialmente cheia, escolho uma mesa de madeira no centro e me sento, logo após uma mulher de olhos atentos e negros amarrados em um coque tampado parcialmente por um lenço vermelho ,aparece. Ela deve ter uns 56 anos e sua expressão é agradável

- Café?

-Claro- ela coloca uma xícara de porcelana em minha frente e o líquido quente desce em um aroma delicioso!

- A moça quer pão de queijo?

A mulher coloca uma cesta com vários pequenos paes de queijo em minha frente e meu estômago dá um pulo. Esse é o cheiro então! Ligo meu telefone e leio uma mensagem de Ricardo:

"JA ESTOU SENTINDO SUA FALTA"

Sorrio involuntariamente e respondo:

" EU TBM!"

- Ah, não há nada mais lindo do que o rosto iluminado por um sorriso de uma mulher apaixonada! - Levanto a cabeça e encontro uma mulher alta de aproximadamente 60 anos, cabelos brancos e sorriso contagiante, em seus lábios um batom rosa claro me faz sorrir também. Eu não sei porque, mas é como se eu já a conhecesse.  A mulher olha para mim e eu vejo um lampejo de curiosidade atravessar seus olhos.

- Me desculpe a pergunta, mas nós já nos conhecemos de algum lugar? - pergunta ela

Sorrio ,pois ela pensou a mesma coisa que eu.

- Acho que não. Prazer, meu nome é Manuela- estando a mão que ela pega de bom grado

- Maria, a dona da pensão. Muito prazer Manuela. Você é a hospéde que chegou na noite passada, nao foi?

- sim, fui recebida quase que por um dilúvio!

Ela ri

- Sabe Manuela, aqui em Minas a gente costuma dizer que  chuva é sinal de recomeço é um bom presságio!

-Espero que sim! - digo- Maria, estou um pouco perdida aqui, sei que é uma cidade pequena, mas você pode me dar alguma referência de lugar que fica próximo a igreja de Nossa Senhora da Guia?

Maria sorri carinhosamente e seus olhos parecem um pouco marejados

- Ah, não precisa de referências você vai encontrar! Siga a torre do sino é a mais alta da cidade. Bom dia,Manuela

Sorrio agradeço e me despeço de dona Maria. Levanto da mesa e já estou pronta para desvendar a cidade, olho dentro de minha bolsa revendo os materiais que preciso: máquina fotográfica e bloco de notas. Perfeito!

O dia está lindo e nem parece que caiu uma tempestade na noite anterior, encaro meu carro e a ideia de seguir a pé me parece bem mais interessante, então faço isso. A pensao fica em uma parte mais alta da cidade e agora com a luz do dia consigo vislumbrar boa parte de Florais, e la esta a torre do sino, bem no meio do encontro de todas as ruas como se fosse o coração. A medida que vou andando pelas ruas me sinto completamente encantada, é como se fosse um universo diferente, mas ao mesmo tempo familiar. As pessoas em suas bicicletas e seus chapéis de palha nas cabeças o burburinho do comércio e como se eu já tivesse passado por aqui antes. Em uma longa avenida de pedra em casa estilo colonial pintadas de rosa claro, existe " O castelo das bordadeiras, desde 1920" escrito em uma placa charmosa de madeira pendurada na parede. As portas estão abertas e as senhoras tecem a renda em bancos nas calçadas. As pessoas entram e saem a todo vapor, comerciantes medem infinitos tecidos da renda delicada e refinada. Entro dentro do castelo e a decoração de seu interior é rustíca e aconchegante. É como se mais uma vez, eu reconhecesse aquele lugar!

Pendurado nas paredes, existem variadas fotos e certificados de exelência. Em uma fotografia em um quadro no alto, está a imagem de um grupo de mulheres, são cinco ao todo. A foto é muito antiga e está um pouco longe dos olhos, mas eu poderia jurar que a do meio se parecia com minha vó Ruth. Pego minha câmera na bolsa e tiro uma foto do quadro, aproveito e tiro fotos das mulheres tecendo as rendas e mando para mamãe, ela é apaixonada por custura. A parte das lojas e escritórios de Florais parece ser a mais agitada da cidade, porém o mais interresante é justamente que nada ali se parece com comércio ou escritórios.Diferente de São Paulo, não existem edifícios com vidros sofisticados, nem arquitetura ousada e futurística. As pessoas na rua te olham nos olhos e conversam com você, é reconfortante.
A medida que avanço, o sentimento de já ter andado por aquelas pedras da rua me atravessa causando uma nostalgia esquisita e inexplicável. Quando chego na porta da igreja de Nossa senhora da Guia, sinto minha pulsação se acelerar fico alguns minutos encarando a faixada bela e rica em detalhes barroco, eu vi a imagem pelo computador centenas de vezes, porém estar ali em frente a ela fazia com que meu cérebro se sentisse enganado pela gama de elaboradas pequenas partes que formavam as paredes reais.A porta estava aberta, mas não dava para enxergar muito bem o interior,estranhamente ansiosa ando para dentro da capela.

Na linha do tempo ( Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora