Segredo de Estado (Coroa de Vênus - Livro 2)

Capítulo 4

Eu não consegui responder, nem mesmo precisei já que quando os olhos do rei se fecharam ele desmaiou. Os guardas o levaram para a enfermaria. A enfermeira disse que ele deveria ficar em repouso até segundas ordens, então todos foram aos seus devidos aposentos.

Eu encarava o teto enquanto estava deitada em minha cama. Helena parecia tão... fria. Suas risadas, o jeito que contou sobre seu plano. Deu errado de início, mas no fim ela salvou a menina, sua filha, eu... A carta dizia que ela me buscaria, ou eu tive uma interpretação completamente equivocada. Definitivamente não me senti bem perto da rainha.

Poderia ter sido eu no lugar de Catherine, mas então, que diferença faria?

Helena ainda era um mistério para mim. Como se ela usasse uma máscara, ela perdeu uma filha, eu a entendo. Tudo em prol de tradições da realeza. Dhrumond a fizera sofrer. Dhrumond matou a minha irmã e mesmo assim, eu não odeio o rei. Não porque ele é meu pai, mas porque eu sei como é perder tudo: pai, mãe, irmãos, irmãos e filha. Ele pode ter se demonstrado o homem mais frio e calculista que já conheci, desde as histórias a mim contadas à a proposta de casamento por controle. Porém, não era esse o homem que se revelou a mim. Um pai preocupado, exausto pela responsabilidade da coroa. Ameaçado todos os dias, e não era só a sua vida, como também a de sua família, seu legado. Era fácil julgar suas escolhas errôneas sem saber o mínimo sobre o que governar exigia. Contudo, ao meu novo ver, definir o que é bom ou ruim era algo tão complexo que não se podia definir padrões para o mesmo. Dhrumond tinha contado com os nobres, com a burguesia, ele sabia o que precisavam já nós: os plebeus, os rebeldes, nunca fomos ouvidos, alguns por medo e outros por desistência.

Eu vivi uma vida interessante: órfã, rebelde, lady, duquesa, princesa. Princesa Catherine. Princesa Serena, a herdeira do trono. A que teria um quadro exposto na galeria do palácio. Eu não me importei ao saber que seria a rainha Serena Faure Rousseau, casada com o rei Kalel Sebastian Rousseau. Porém, a rainha Serena Rousseau, a primeira na sucessão e não a coroada por casamento, essa parecia ser outra pessoa, e a tormenta rodeava meus pensamentos.

***

A comida foi servida em meu quarto. Acho que ninguém comeu na sala de jantar, não sei, nem mesmo me importo com isso. Minha cabeça doía. Eu tinha pai e mãe, o rei e a rainha de Vênus, aqueles que tentei derrubar, aqueles que inicialmente eu tomaria o poder e daria ao meu... Ash, meu pai. Não meu líder, mas o homem que me adotou, que me fez sua filha. Ele que me deu um lar, esteve presente no dia da coroação de Kalel, eu sabia, mesmo que não o tivesse visto. Sabia que ele não perderia tal evento. Agora ele descobriria que me mandou para a minha família de sangue. Meu pai não era meu pai, nem mesmo o pai de Kalel era pai dele. Kalel...

Eu me levantei em um pulo, Kalel estava, provavelmente, sozinho, pensando em todas as mentiras que lhe contam, e todos os fatos que não o deixaram escolher se ou por quanto tempo sofrer. Caminhei até seu quarto, não bati, apenas entrei. Kalel estava sentado na cama, abraçando suas pernas, com as costas apoiadas na cabeceira, a cabeça inclinada para cima, encarando o teto, com olhos vazios, as pupilas comprimidas deixavam seus olhos em um verde mais claro. Contudo, dessa vez eles pareciam mais escuros, como se seu brilho tivesse apagado, roubado por uma mentira. Ele pareceu não notar minha presença até que eu sentasse bem a sua frente.

Kalel voltou seu olhar ao meu, sua boca se curvou em um sorriso, mas eu ainda conseguia ver a dor em seus olhos. Sorri de volta e toquei seu joelho, as pupilas dilatadas me mostraram que ele não estava com raiva. Tomei a liberdade de me virar e apoiar a cabeça em seu peito, ele começou a acariciar meu cabelo e ficamos em silêncio por um tempo, não queria forçá-lo a falar, eu mesma não queria. Entretanto, não queria que ele ficasse sozinho, nenhum de nós merecia passar por isso. Kalel foi o primeiro a se pronunciar: